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Tratar fogachos da menopausa sem hormônios? Será possível em futuro próximo

Imagem: iStock

De VivaBem, em Berlim (Alemanha)*

17/04/2024 04h05

A menopausa é um estágio natural da vida de qualquer mulher, relacionado ao declínio progressivo da função ovariana, normalmente tendo início por volta dos 45 anos —podendo se estender por até 10 anos. Não é um problema de saúde e nem pode ser encarado assim, e dá para atravessá-lo com qualidade de vida.

Antes de mais nada, é bom esclarecer: muitas vezes o termo menopausa é usado para designar esses anos em que os hormônios femininos estão em queda, na verdade, o nome técnico é climatério. O climatério é o período de vida da mulher de transição entre a fase reprodutiva e a não reprodutiva.

À última menstruação é dado o nome de menopausa, e isso vai acontecer quando a mulher ficar um ano sem novos ciclos menstruais.

Pode-se dividir o climatério em três períodos, tomando a menopausa como ponto de referência: pré-menopausa, menopausa e pós-menopausa. Os sintomas observados nessas fases são muito variáveis e sofrem interferências de fatores externos como dieta, perfil socioeconômico, aspectos culturais e inclusive climáticos.

O climatério é marcado por irregularidades menstruais. Outros sinais e sintomas característicos são as famosas ondas de calor (fogachos), alterações do sono, da libido e do humor, e atrofia (enfraquecimento ou definhamento) dos órgãos genitais.

Por que ela acontece? Todos os óvulos que a mulher produzirá ao longo da vida têm sua origem em células germinativas (ou folículos) dos ovários já presentes no momento em que nasce uma menina. Essa reserva é usada desde a primeira menstruação (menarca) até a última (menopausa).

Mulher nenhuma é capaz de formar novos folículos para repor os que se foram. Aquele papo de que a fertilidade feminina tem hora para acabar, e que fica mais difícil ficar grávida quanto mais velha a mulher for, é exatamente por isso. Quando morrem os últimos folículos, os ovários entram em falência e as concentrações dos hormônios femininos, estrogênio e progesterona, caem irreversivelmente. Eis aí o climatério.

Até o ano de 2030, estima-se que a população mundial de mulheres experimentando a menopausa aumentará para 1,2 bilhão, com 47 milhões de novas mulheres entrando nesta fase a cada ano.

Mais de um terço das mulheres na menopausa relatam sintomas graves, que podem durar 10 anos ou mais após o último período menstrual, com um impacto relevante em sua qualidade de vida. No entanto, cerca de 30% das que consultam um profissional de saúde devido a sintomas moderados a graves não recebem nenhum tratamento.

Quais opções as mulheres têm para tratar os sintomas neste período?

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Provavelmente você já ouviu alguma mulher reclamando muito sobre os calorões que ela sente no climatério. Os relatos são de que "não é um calor normal", já que trata-se de uma questão hormonal inerente ao período de vida em que ela está. Tais sintomas podem durar até 10 anos.

O principal tratamento proposta pelos médicos para este período é a terapia hormonal, com a reposição dos hormônios ovarianos que estão sendo produzidos de maneira deficiente. Mas há quem não possa fazê-lo, seja porque não quer ou por outras questões de saúde.

Algumas companhias farmacêuticas têm estudado opções para tratar os sintomas da menopausa sem hormônios. Ainda não há no mercado global um medicamento com indicação em bula para tratar os fogachos da menopausa, os médicos costumam prescrever ansiolíticos e antidepressivos.

E o que as mulheres podem esperar?

O elinzanetant é uma dessas drogas em estágio avançado de investigação pela farmacêutica Bayer. Ele é um antagonista dual do receptor neurocinina 1 e 3, ou NK-1,3 (entenda melhor abaixo). Trata-se de um tratamento oral não hormonal, dois comprimidos tomados uma vez ao dia, e que trata sintomas vasomotores moderados a graves associados à menopausa.

"É um medicamento, não é uma vitamina ou suplemento. Há muitos medicamentos sem receita para a menopausa que não mostraram eficácia em ensaios clínicos. Embora as mulheres tendam a perceber esses como naturais, e então se é natural não prejudica, isso não é verdade. Cogumelos venenosos são naturais e podem matar. Mas este é realmente um tratamento que será com receita e baseado na compreensão da ciência por trás da menopausa. É realmente novidade", explica a a ginecologista e obstetra Cecília Caetano, chefe de Assuntos Médicos Globais de Saúde Feminina na farmacêutica Bayer.

Há quatro estudos em fase 3 acontecendo: OASIS 1, 2, 3 e 4. O objetivo é avaliar diminuição da intensidade e frequência das ondas de calor.

Os estudos OASIS 1, 2 e 3 são multicêntricos, duplo-cegos, randomizados e controlados por placebo que investigam a eficácia e segurança do elinzanetant.

Em OASIS 1 e 2, há 396 e 400 mulheres pós-menopáusicas entre 40 e 65 anos em 184 locais em 15 países —Brasil não faz parte— que foram avaliadas por 6 meses. O OASIS 3 é uma extensão de avaliação para um ano.

O estudo OASIS 4 é uma expansão para investigar a eficácia e segurança do elinzanetant em mulheres com fogachos moderados a graves causados por terapia endócrina para o tratamento ou prevenção do câncer de mama.

"Os resultados dos estudos OASIS 1, 2 e 3 para elinzanetant são muito encorajadores. Mostramos resultados realmente promissores e significativos para as mulheres, porque isso é realmente o que importa, que as mulheres possam sentir essa diferença e ter uma maior qualidade de vida", diz Cecília Caetano.

Em janeiro deste ano, a empresa divulgou os resultados das pesquisas e deve submeter os dados para aprovação às autoridades de saúde americanas e europeias, FDA e EMA, ainda este ano, com previsão de lançamento para 2026 nos mercados europeu e americano. Para a Anvisa, a empresa prevê uma submissão dos dados para avaliação em 2025.

Elinzanetant também pode diminuir distúrbios do sono associados à menopausa. Para este sintoma específico, existe um outro estudo em andamento, o NIRVANA, em fase 2 atualmente. Por isso, pode ser que a empresa prefira fazer um lançamento com os dois sintomas (sono e fogachos) aprovados em bula, o que talvez signifique mais tempo para estar disponível para as mulheres.

Como funciona a droga em estudo?

Imagem mostra a localização do hipotálamo no cérebro Imagem: iStock

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Para entender o funcionamento do remédio, é preciso entender a origem das ondas de calor do climatério, conforme explica abaixo o ginecologista e obstetra Rodrigo Rodrigues, gerente médico de saúde feminina da Bayer.

O estrogênio é um importante hormônio responsável pela regulação da temperatura no corpo da mulher. Quando ele está em queda, há uma hiperativação dos neurônios KNDy, que ficam alojados no hipotálamo, no cérebro, bem no sistema nervoso central.

Esses neurônios KNDy hipertrofiados (aumentados) pela falta do estrogênio levam a uma hiperativação dessa via termorreguladora. Por causa da ativação, a mulher perde o controle da regulação corporal e isso desencadeia as ondas de calor.

Esses neurônios hipertrofiados expressam (ou seja, atraem) dois receptores de neurocinina, o 1 e 3 (NK-1,3). O NK-3 é o responsável pela regulação da temperatura corporal, e a droga em estudo é um antagonista. Uma vez que se antagoniza essa via de regulação, há uma redução dos sintomas de ondas de calor.

Um fármaco antagonista bloqueia o acesso ou a ligação de neurotransmissores a seus receptores (como uma chave e uma fechadura) e, assim, inibem ou reduzem as respostas celulares. No caso, a resposta do corpo em regular a própria temperatura.

Os sintomas da menopausa podem durar por muito tempo, então, a princípio, a indicação do elinzanetant deve ser para uso a longo prazo.

"As ondas de calor talvez sejam um dos sintomas mais incapacitantes, que mais interfiram em todos os outros: sono, qualidade de vida, saúde mental... Então é um bom começo. Melhorar esse sintomas pode ter impacto indireto em tudo isso e melhorar a qualidade de vida como um todo", afirma Rodrigues.

"Além disso, mulheres nessa nessa faixa etária normalmente já tem outras comorbidades, obesidade, diabetes, hipertensão, e já tomam remédios, então tomar mais uma medicação poderia interferir, por isso o estudo é sempre tão importante para avaliar o perfil de segurança do medicamento."

*A jornalista viajou a convite da Bayer.

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