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Colocar açúcar em uma ferida ajuda na cicatrização da pele?

Sibele Oliveira

Colaboração para o UOL VivaBem

31/07/2019 04h00

Colocar açúcar em ferimentos é uma "receita de vó" que atravessa gerações --muitas, por sinal. Segundo relatos, cirurgiões egípcios já tratavam feridas com mel e unguento no ano 1700 a.C. Também há registros de que substâncias que contêm açúcar eram usadas por outros povos antigos para essa finalidade.

Segundo muitas das nossas avós, a prática ajuda a sarar cortes e arranhões mais rapidamente. Realmente, elas estão certas. Os benefícios do método são indiretos, mas confirmados por pesquisas científicas.

Um desses estudos foi feito por Moses Murandu, professor sênior de enfermagem da Universidade de Wolverhampton (Inglaterra). Durante mais de 20 anos ele observou que o uso tópico do açúcar acelerava a cicatrização de feridas. O cientista até recebeu um prêmio do Journal of Wound Care pela descoberta, que é importante para pessoas que não podem comprar antibióticos, principalmente as que moram nos países mais pobres.

Como o açúcar ajuda a tratar os cortes?

A explicação é simples. Ao ser colocado em uma ferida, o açúcar absorve a umidade do local. Isso minimiza o risco de o ambiente se tornar favorável à proliferação de bactérias --geralmente, as principais culpadas pelos problemas de cicatrização.

Obviamente, dificilmente um médico vai recomendar que você use o alimento para tratar um machucado. Afinal, existem medicamentos, curativos e outros produtos específicos para isso. Porém, caso não tenha uma farmácia por perto, o açúcar pode ser uma opção de emergência.

De que modo usar açúcar em um ferimento?

Como a ideia é secar o leito da ferida, grãos maiores, como os do açúcar cristal, são os mais indicados, já que os menores sugam o líquido muito rapidamente e acabam se dissolvendo logo. A camada aplicada não deve ser tão fina, pois cepas de bactérias crescem em baixas concentrações de açúcar, mas são inibidas em quantidades mais altas.

Antes de aplicar o alimento, é necessário lavar bem a área lesionada com água e sabão neutro, para remover a sujeira e os micróbios. Depois, a recomendação é polvilhar o açúcar e cobri-lo com uma gaze, um pano limpo ou um curativo adesivo. Essa medida é importante para não atrair insetos.

Os curativos devem ser trocados a cada quatro horas, no máximo, sempre higienizando a região antes de depositar o açúcar. Mais tempo do que isso pode ter um efeito contrário, pois o ambiente se torna propício para uma infecção. Isso até ocorrer a cicatrização completa. Como o tratamento é local, ele pode ser feito por pessoas com diabetes, pois não eleva as taxas de glicose no sangue.

O açúcar ajuda a estancar o sangramento?

Muitas pessoas acreditam que sim, mas isso é um mito. A melhor maneira de parar o sangramento é comprimir a região, já que a pressão faz o sangue circular menos. O ideal é sempre colocar uma gaze por baixo dos dedos antes de iniciar o procedimento. Esfriar o local com uma compressa de gelo ou mergulhar a lesão em água fria também ajuda porque os vasos sanguíneos se contraem em temperaturas baixas. É importante lavar o corte suavemente com água corrente e sabonete neutro, de preferência líquido, ou soro fisiológico. Ou ainda fazer uso de um antisséptico para evitar contaminações.

Embora o sangramento assuste, não há motivos para se preocupar tanto. Até porque ele tem funções importantes como aumentar a vascularização da ferida, trazer agentes anti-inflamatórios e ativar a imunidade antes de começar o processo de formação de um tecido novo.

O sangramento costuma cessar em cerca de dois minutos. Mas é bom ficar atento. Se o volume do sangue for muito grande, um vaso de calibre maior pode ter sido atingido. Ou até uma artéria, se o sangue estiver espirrando em jatos. Nesses casos, é aconselhável procurar um médico ou ir ao hospital porque pode ser preciso fazer uma sutura. O mesmo vale para feridas que demoram a cicatrizar, pois o motivo pode ser uma infecção séria ou até mesmo um câncer de pele.

Que cuidados tomar com infecções

Quase sempre o organismo possui a capacidade de combater sozinho micróbios que entram pelas feridas. Mas isso pode não ocorrer caso a pessoa tenha um sistema imunológico deficiente, tome medicamentos como corticoides, esteja fazendo quimioterapia ou fragmentos de um objeto contaminado permaneçam no local. Aí, há um risco maior de infecção, cujos sinais são vermelhidão local, aumento da dor e formação de pus.

Tomando os devidos cuidados (ou seja, lavar e proteger bem o machucado), a fase inicial de regeneração da pele, que é o fechamento da lesão, ocorre em até 14 dias. Já a cicatrização completa acontece em mais ou menos seis meses.

Outras táticas caseiras funcionam?

Não é só açúcar que as pessoas costumam passar nas feridas. Produtos variados, como pó de café, creme dental, vinagre e até água sanitária são usados em tratamentos caseiros. Mas não é indicado investir nesses produtos.

O problema é que alguns deles podem criar crostas e tornar a ferida um ambiente favorável ao desenvolvimento de bactérias. Também podem irritar a pele sensível e delicada que começa a se formar depois de um corte ou arranhão, além de matar as células que estão promovendo a cicatrização.

Fontes: Fabiane Brenner, professora de dermatologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná); e Luiz Guilherme Castro, dermatologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.