Topo

O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Caxumba decorre de vírus e complicação mais temida é inchaço no testículo

iStock
Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

07/09/2021 04h00

Enquanto no Brasil a caxumba é conhecida como papeira, em outros países ela é chamada de cara de Hamster. A razão para isso é seu característico sintoma —o inchaço do rosto— que pode ser unilateral ou bilateral, e é consequente à inflamação das glândulas salivares situadas abaixo e na frente das orelhas.

Contagiosa, ela tem como causa a infecção por um vírus da família Paramyxoviridae.

Essa enfermidade já foi muito comum entre as crianças no passado, mas com a chegada das campanhas vacinais, a partir da década de 1960, o seu aparecimento foi contido.

Embora possa também acometer adultos, a caxumba é mais frequente entre os pequenos em idade escolar e jovens, e ocorre mais no período do inverno e no início da primavera. O principal fator de risco é a falta de imunização, mas viagens internacionais e problemas no sistema de defesa do corpo também estão relacionados.

Na maioria das vezes, o quadro tem evolução benigna e duração de até 2 semanas. Apesar disso, é indicado consultar um médico para que ele possa fazer o diagnóstico e orientá-lo sobre os cuidados necessários, pois a caxumba pode afetar outros órgãos.

Como não existe tratamento específico para o problema, as medidas terapêuticas visam aliviar sintomas como febre e dor, e ainda incluem repouso e isolamento social para evitar a transmissão da doença.

Entenda o que é a caxumba

Trata-se de uma infecção por vírus que tem a capacidade de se mover pelo seu nariz, boca e garganta (trato respiratório) e se instala nas maiores glândulas salivares (parótidas), local onde ele se reproduz provocando uma inflamação.

O vírus pode ainda atingir as glândulas submandibulares e sublinguais, situadas perto do ouvido. No entanto, por acometer, preferencialmente, as glândulas parótidas, a caxumba é chamada pelos médicos de parotidite.

Por que isso acontece?

A doença tem como causa um vírus da família Paramyxoviridae (gênero Paramyxovirus), considerado fonte comum de enfermidades, especialmente entre as crianças.

Como é que se pega caxumba?

A transmissão direta acontece por via aérea, ou seja, por meio da disseminação de gotículas ou contato com outra pessoa que esteja doente.

Pode, também, ocorrer contágio indireto através do contato com objetos ou utensílios contaminados por secreções do nariz ou da saliva.

Quem precisa ficar mais atento?

No passado, a caxumba era uma doença comum da infância que teve sua ocorrência reduzida após campanhas mundiais de vacinação. Embora ela possa afetar adultos, os grupos mais suscetíveis são as crianças em idade escolar, além de jovens não vacinados e que não tiveram a doença durante a infância.

São também considerados fatores de risco as viagens internacionais e problemas no sistema de defesa do corpo (imunossupressão). No caso das viagens, pode-se entrar em contato com outras comunidades que, eventualmente, podem estar tendo um surto da doença, além de o risco de ter contato com pessoas que não foram vacinadas.

Como reconhecer os sintomas?

Eles se manifestam entre 12 e 25 dias após a infecção. Em 7 de cada 10 pessoas, o sintoma mais comum é o clássico inchaço das glândulas parótidas, que geralmente é bilateral, podendo acometer apenas um dos lados, o que representa 25% dos casos.

Veja outras possíveis manifestações:

  • Dor ao mastigar ou engolir
  • Dor de cabeça
  • Calafrio
  • Febre
  • Cansaço
  • Perda do apetite
  • Náusea
  • Dor abdominal
  • Boca seca

Por quanto tempo posso contagiar outras pessoas?

Esse período se inicia 2 dias antes do aparecimento do inchaço das glândulas e dura por cinco dias após esse evento. Recomenda-se isolamento social por cinco dias após o início da parotidite. Passado esse estágio, a retomada das atividades está liberada.

Quando devo procurar ajuda médica?

No início da doença, os sintomas são inespecíficos, podendo ser notadas febre ou dor na região da garganta.
Mas se você tem conhecimento de que há um surto da doença na sua comunidade, ou teve contato com alguém com caxumba, se observar a presença de febre por mais de 72 horas ou dor de cabeça contínua, procure um médico.

A razão para isso é que a caxumba pode afetar outras partes do seu corpo como testículos, ovários, pâncreas e até o cérebro. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor. Os especialistas treinados para avaliá-lo são o pediatra, o médico de família ou o clínico geral.

Como é feito o diagnóstico?

Na hora da consulta, o médico vai ouvir sua queixa, levantar o seu histórico de saúde e fazer o exame físico. E ele inclui a avaliação da região do osso da mandíbula mais próxima da orelha (ângulo da mandíbula). Quando a parótida está inchada, não é possível tocá-lo.

O especialista também estará atento à presença de algum surto de caxumba na comunidade, o que o ajudará a confirmar a suspeita da doença. Como o diagnóstico geralmente é feito com base nesses dados, ele é chamado de diagnóstico clínico.

Em algumas situações, podem ser solicitados exames laboratoriais para identificar o vírus e a presença de anticorpos. Os testes úteis para esse fim são o PCR (para detecção do vírus) e a sorologia (para detecção dos anticorpos específicos das classes IgG e IgM).

Saiba como é feito o tratamento

A infectologista pediátrica Nerci Ciarlini esclarece que não há tratamento específico para a caxumba. Assim, a estratégia terapêutica se resume em aliviar sintomas e indicar medidas de suporte como repouso e boa hidratação, além de compressas frias nos locais do inchaço.

"Como a dor é uma queixa comum durante esse quadro, utilizamos analgésicos. E ainda aconselhamos evitar alimentos cítricos como laranja ou limão. Eles estimulam as glândulas salivares já inflamadas, e queremos poupar o paciente do excesso de salivação", completa a médica.

Em geral, a recuperação é total e ocorre em cerca de 2 semanas.

Quais são as possíveis complicações da caxumba?

Quando se fala dessa doença, a maior preocupação entre os pais de meninos é que ela "desça". Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, explica que esta é a forma popular de falar sobre uma das complicações da caxumba: a inflamação dos testículos (ou orquite).

Sáfadi diz que ela pode acometer apenas um ou ambos os testículos, causa dores intensas, mas raramente tem como resultado a infertilidade. Ele destaca que o problema é raro na infância e mais frequente após a puberdade.

"Quem corre mais risco para essa complicação, quando acometidos pela caxumba, são os adultos jovens não vacinados. Entre eles, 3 em cada 10 podem apresentar o problema. Para quem foi imunizado, a chance de isso acontecer é bem menor —aproximadamente 1 caso em cada 20", esclarece o médico.

Entre as meninas, a caxumba pode levar a uma inflamação do ovário, conhecida por ooforite. Pancreatite e meningite viral são outras possíveis complicações, sendo mais raras a encefalite e a surdez, correspondendo a 1% dos eventos. Esses são os números identificados no último surto de caxumba ocorrido nos EUA.

Dá para prevenir?

Sim, e a melhor forma de fazê-lo é por meio da imunização com a vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola. Importante saber que apesar de boa parte da população já ter sido vacinada na infância aqui no Brasil, o que resulta em uma proteção para as pessoas mais suscetíveis, essa defesa depende também do resto do mundo.

Como existem movimentos antivacina espalhados pelo globo e há maior trânsito de pessoas em viagens internacionais, somado ao fato de que a primeira dose da vacina tem indicação de aplicação após 1 ano de idade, é possível que o vírus circule, gerando surtos da doença.

Quando isso ocorre, é importante contê-lo por meio da investigação e isolamento das pessoas que estiveram em contato com a doença, além da vacinação: uma terceira dose pode ser indicada.

"Outra boa medida que se agrega a essas recomendações é o uso de máscaras", sugere o médico de família Homero Luis de Aquino Palma, professor da Escola de Medicina da PUC-PR. Ele se refere aos dados da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, que contou uma redução de quase 100% dos casos de sarampo, o que foi atribuído, além da proteção vacinal, às medidas de prevenção da covid.

Já fui vacinado, posso pegar caxumba?

As vacinas contra a rubéola e o sarampo são efetivas e eficazes. Isso significa que quem recebe 2 doses (elas têm de ter sido feitas após 1 ano de idade e com pelo menos 1 mês de intervalo entre elas) na infância, estará protegido por toda a vida. Estar vacinado de forma adequada reduz quase que totalmente a chance de adquirir a doença e transmiti-la.

Já a vacina da caxumba não tem esse mesmo efeito. Uma dose confere 78% de efetividade e quem recebeu 2 doses terá 88% de proteção. Mas com o passar dos anos, essa proteção pode diminuir como se fosse uma perda da efetividade ao longo do tempo. Assim, é possível que adolescentes e jovens adultos possam adoecer, mesmo tendo sido vacinados.

Já tive caxumba. Posso vir a ter a doença no futuro?

É muito raro, mas pode acontecer. De todo modo, a princípio, quem já teve caxumba está protegido para o resto da vida.

Estou grávida. Se tiver caxumba, ela pode prejudicar meu bebê?

Algumas doenças, como a rubéola, podem levar à malformação fetal. Este não é o caso da caxumba. Não há evidências conclusivas na literatura sobre efeitos como partos prematuros, malformações ou alteração do peso do bebê ao nascimento.

Caso você esteja pensando em engravidar e não tenha sido imunizada contra a doença, converse com seu médico para que ele possa orientá-la sobre os benefícios da vacina e qual seria o melhor momento para tomá-la.

Vale lembrar que a vacina tríplice viral, que contempla a caxumba, é contraindicada na gestação porque ela contém o vírus atenuado. Apesar disso, caso a vacinação ocorra sem que se saiba da gravidez, a experiência de mundo real não identificou problemas com o bebê como resultado da vacinação.

Caxumba tem notificação compulsória?

Não. Apenas são notificados ao Ministério da Saúde os surtos de caxumba em determinada comunidade.

Pessoas com HIV podem ser vacinados contra a caxumba?

É muito raro que uma vacina seja contraindicada porque, na maioria das vezes, seus benefícios superam os seus eventuais riscos.

Por ser uma vacina de vírus vivo atenuado, a tríplice viral poderia representar risco de disseminação do vírus em pessoas com doenças que comprometam a sua imunidade, como é o caso de indivíduos com HIV.

No entanto, cabe ao médico avaliar as condições desses pacientes. A depender da fase da doença, do controle da sua carga viral, uma pessoa com HIV pode, sim, ser vacinada contra a caxumba.

Saiba como colaborar com a sua recuperação

Além de seguir as recomendações do seu médico, coloque em prática as seguintes medidas para aliviar seu desconforto:

  • Mantenha-se hidratado;
  • Prefira alimentos que não exijam mastigação intensa; sorvetes podem ajudar a aliviar a dor na região da garganta;
  • Faça gargarejos com água morna várias vezes ao dia;
  • Evite contato social por cinco dias após o aparecimento do inchaço da parótida --período no qual a doença é mais contagiosa.

Fontes: Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, professor de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, presidente do Departamento Científico de Infectologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria); Nerci Ciarlini, médica infectologista pediátrica da Meac-UFC (Maternidade Escola Assis Chateubriand da Universidade Federal do Ceará), unidade vinculada à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), e do HIAS (Hospital Infantil Albert Sabin); Homero Luis de Aquino Palma, médico de família, professor da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), auditor médico da Prefeitura Municipal de Curitiba. Revisão técnica: Marco Aurélio Palazzi Sáfadi.

Referências: Ministério da Saúde; SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria); AAFP (American Academy of Family Physicians); Davison P, Morris J. Mumps. [Atualizado 2021 Aug 13]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK534785/.