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Sexoterapia #31: "Minha filha provou para o mundo que eu realmente era mulher"

de Universa

25/09/2020 04h00

A promotora de eventos Luiza Freitas, 41, nasceu com pênis, vagina, testículos, útero e ovários, e foi criada como menino pelos pais, que a batizaram de Luiz. Mas, desde muito cedo, por volta dos 8 anos, ela passou a se identificar com o gênero feminino. Sem compreensão ou acolhimento por parte dos pais, fugiu de casa aos 12 anos. Aos 16 já tinha corpo de mulher, mas o nome ainda era de homem. Só conseguiu mudar esse registro quando teve uma filha, em 2012, conta em relato ao podcast Sexoterapia.

Luiza é intersexual, nome dado a pessoas que têm características biológicas de ambos os sexos (condição também classificada como DDE — Diferenças do Desenvolvimento Sexual), o que antigamente se chamava de hermafrodita. A ONU estima que 1,7% da população mundial nasçam intersexual. "Nasci com o sexo masculino destacado, meu pênis era mais bem formado do que minha vagina, e eu tinha aparência de menino", diz Luiza. Daí a dificuldade de aceitação que enfrentou por parte dos familiares.

Ela conta que para tentar fazê-la desistir de "virar mulher" sua mãe a colocou em um seminário, quando ela tinha 12 anos. Mas, um ano depois, Luiza fugiu de lá com a ajuda de um amigo. Esse amigo a apresentou a uma mulher transexual, com quem Luiza morou durante um tempo, e que a ajudou a fazer sua transição para o corpo feminino. "Fiz essa mudança de forma totalmente errada, sem apoio médico. Apliquei silicone industrial no corpo todo, tomei hormônio tudo errado, sem nenhum acompanhamento", relembra.

Transição caseira e maternidade

Luiza diz que, dessa forma, conseguiu chegar aos 16 anos com a aparência totalmente feminina, e, na época, sem sequelas. Mas os efeitos-colaterais começaram a se manifestar alguns anos depois, e hoje ela diz que está com a saúde muito abalada por causa dessa transição caseira. "Aconselho às pessoas a nunca fazerem isso sem acompanhamento médico. O silicone industrial se espalhou por todo o meu corpo e estou tendo sérios problemas de saúde por isso", afirma.

Mesmo tendo aparência de mulher desde os 16 anos, foi só aos 33, quando teve uma filha, que Luiza conseguiu mudar oficialmente seu nome de batismo, Luiz, que constava sua carteira de identidade. Um ano depois, em 2013, ela fez uma cirurgia para remover o sexo masculino. "Minha filha provou para todo mundo que eu realmente era mulher, que eu podia ser mãe, foi um tapa na cara da sociedade". Ouça a história completa no vídeo acima.

Para saber mais

  • Livros: "Intersexo", Maria Berenice Dias; "Jacob (y), entre os sexos e cardiopatias" , Thais Emília de Campos dos Santos
  • Filmes: Hermafrodita, Albert Xavier, República Dominicana; XXY, Lucia Puenzo (Netflix)
  • Site: Associação Brasileira de Intersexos (Abrai)
  • Série: Masters of sex (Amazon prime) - Episódio 3 na 2 ª temporada: Luta

Acompanhe o Sexoterapia

Intersexualidade é o tema do 31º episódio do podcast Sexoterapia, que em sua quarta temporada vai mergulhar na história de uma única personagem.

Sexoterapia vai ao ar às sextas-feiras e está disponível no UOL, no Youtube de Universa e nas plataformas de podcasts, como Spotify, Apple Podcasts, no Castbox e Google Podcasts. A quarta temporada tem oito episódios.