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Em SP, fechar Museu da Diversidade Sexual é visto como ato homofóbico

O Museu da Diversidade Sexual está fechado por tempo indeterminado  - Reprodução / Internet
O Museu da Diversidade Sexual está fechado por tempo indeterminado Imagem: Reprodução / Internet

Rafaela Polo

De Universa, São Paulo

30/04/2022 16h41

Pronto para receber a exposição Duo Drag, do fotógrafo Paulo Vitale, o Museu da Diversidade Sexual, na estação República do metrô de São Paulo, foi fechado por tempo indeterminado. O fato ocorreu após pedido na Justiça do deputado estadual Gil Diniz (PL), que se autointitula Carteiro Reaça. Ele contesta o valor de R$ 30 milhões do contrato de gestão e expansão do local, firmado entre a secretaria de Cultura e a Organização Social Instituto Odeon.

A organização social fez a gestão do Theatro Municipal de São Paulo, mas teve seu contrato rompido em 2018 após reprovação das contas. Na época foi constatado que não houve repasse de cerca de R$ 600 mil de valores de bilheteria, que teriam sido apropriados indevidamente pela empresa contratada pela OS para gerenciamento desse serviço. A oposição, no entanto, enxerga a atitude como homofóbica.

Pré-candidata a deputada federal, a vereadora Erika Hilton (PSOL) usou suas redes sociais para protestar contra o fechamento do museu. Em entrevista a Universa, ela afirma que quem apoia o fechamento do museu vê a comunidade LGBTQIA+ "como a sujeira a ser escondida para debaixo do tapete."

"Não digo que a decisão da Justiça tenha sido de cunho homofóbico, mas as reais intenções dos seus proponentes, que mesclam criação de factóides para gerar polarizações eleitorais com apoio nos sentimentos mais retrógrados da sociedade, sim. Sempre viram a nossa comunidade e nossos territórios de socialização e resistência, como a República e o Largo do Arouche, como locais indignos, marginais, profanos", ela aponta.

A parlamentar acredita que essa iniciativa é parte de um movimento para boicotar a visibilidade e projetos sociais da comunidade LGBTQIA+, em busca de reforçar discursos de ódio justamente em ano eleitoral. "Eles literalmente usam nossas vidas para se promover eleitoralmente com discursos de ódio, gerando desinformação e promovendo violência", opina.

Para além da atitude vista por Hilton como homofóbica, ela atenta que a decisão traz muitos impactos para a comunidade LGBTQIA+. "O museu é um dos poucos locais que unem a preservação da memória e da cultura da comunidade LGBTQIA+, que proporcionava conhecimentos diversos para distintos públicos. Todas as pessoas saem prejudicadas: as direta ou indiretamente ligadas ao seu funcionamento e programação, frequentadores e aliados", diz.

Por último, a parlamentar reforça a necessidade de transparência na gestão dos recursos do museu. "As correções e garantias de transparência na gestão dos recursos do museu devem ser feitas o mais rápido possível para que ele seja reaberto. E essa é uma questão presente em todas as áreas do poder público, que são os contratos frágeis e denúncias de mau uso de verbas nas parcerias público-privadas com organizações sociais", completou.

O local segue sem previsão de reabertura.

O outro lado da história

Universa questionou o deputado Gil Diniz se o pedido teve cunho homofóbico. Por mensagem texto, sua assessoria de imprensa respondeu que a ideia não é fechar o museu, e sim invalidar o contrato feito.

"Na nossa ação, usamos argumentos apenas jurídicos, em que empregamos os princípios constitucionais da administração pública, como eficiência, moralidade e impessoalidade, para contestar a validade desse contrato, tanto pelo objeto, um valor exorbitante para um museu que recebeu em 2019 apenas 20 mil visitantes, quanto pelo contratado, um instituto que teve suas contas reprovadas na gestão do Theatro Municipal", informou.