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Designer abre portas para mulheres negras no mercado de tecnologia

Karen Santos, que lançou o projeto UX Para Minas Pretas - Edvan Oliveira/Divulgação
Karen Santos, que lançou o projeto UX Para Minas Pretas Imagem: Edvan Oliveira/Divulgação

Roniel Felipe

Colaboração para Universa

03/01/2020 04h00

Quando começou a frequentar o mundo do design de experiência do usuário (UX Design), a designer paulistana Karen Santos passou a se questionar por que ela era uma das poucas ou a única mulher negra presente.

"Ia a cursos, eventos e palestras na área, mas não me via em nenhum deles." Popularizado na década de 1990 pelos americanos Don Norman e Jakob Nielsen, o design de experiência do usuário (UX design) estuda a interação entre usuários e as tecnologias (produtos, sistemas ou serviços) e desenvolve formas de tornar essa interação mais fácil.

"Me apaixonei pela ideia de pensar na experiência das pessoas, de criar produtos a partir de outras perspectivas. Porém, quando passei a vivenciar o universo do UX, notei que faltam mulheres negras nesse mercado", diz Karen. Foi da flagrante ausência de pessoas como Karen em uma das áreas que mais cresce no Brasil que nasceu o UX para Minas Pretas, projeto que explica conceitos, promove o compartilhamento de conhecimentos e estimula empregabilidade de mulheres negras nesse setor.

300 interessadas em menos de uma semana

Ao receber o primeiro convite para trabalhar como UX Designer, Karen, como muitos jovens em início de carreira, esbarrou na falta de experiência. "Eu ainda não estava pronta, mas dessa oportunidade veio a ideia de criar um workshop de experiência do usuário para mulheres que passavam por dificuldades semelhantes às minhas ou que tinham interesse em conhecer a área."

Assim, ela criou um formulário chamado UX para Minas Pretas e passou a divulgá-lo em grupos de feminismo, movimento negro e UX no Facebook. "Precisávamos de cinco pessoas, mas, em menos de uma semana, a chamada havia sido respondida por 300 mulheres."

O primeiro encontro do UX para Minas Pretas aconteceu em abril de 2019, em São Paulo. Geórgia Dias Bento, 25 anos, que trabalha em sua própria plataforma de e-commerce, foi uma das 150 participantes da palestra.

"Encontrar tantas mulheres negras juntas foi um momento para se guardar na memória. O papo sobre carreira foi de extrema importância, me ajudou muito a dar um rumo para o meu negócio."

Logo se seguiram outras palestras e workshops, além da participação no UXConf BR, o maior congresso brasileiro sobre design de experiência do usuário, realizado em Porto Alegre. Os eventos promovidos pelo UX para Minas Pretas são gratuitos ou têm uma taxa simbólica que é repassada para transporte, auxílio e alimentação de participantes que não têm condições de arcar com os gastos, além da ajuda de custos para os palestrantes.

Bolsas de estudo

Após nove meses de atividades, a iniciativa já contabiliza o impacto na comunidade de mulheres negras do UX. Entidades como Mergo, Fiap, Senac, How, Meiuca e a Miami ad School ofereceram, juntas, mais de 80 bolsas de estudos para mulheres de 18 a 53 anos.

"Temos grupos de Facebook e WhatsApp de acolhimento e aconselhamento, tratamos temas como a trajetória, os desafios, os entraves para se lançar no mercado e como a mulher negra lida com o ambiente de trabalho machista. Recentemente, também realizamos um evento sobre como lidar com dinheiro e investimentos", lista Karen, sobre as atividades de seu projeto.

A paulistana Jessica Miranda Delfino, 27 anos, é uma das integrantes do grupo já inserida no mercado de trabalho. "Sempre que possível, compartilho materiais, experiências e vagas para outras mulheres que estão começando. Mesmo que eu já tenha dado alguns passos, não esqueço de abrir caminhos para outras mulheres."

Atingir mais de mil mulheres, realizar no mínimo 24 workshops no ano e dez palestras de conscientização, além de conseguir patrocínio para manter o UXMP são algumas das metas do projeto para 2020. "Para pensar em profissões do futuro precisamos agir agora", diz Karen Santos. "E eu só vou sossegar quando todas elas tiverem mais acesso a educação, melhores cargos e salários."