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Angela Davis diz em palestra em SP que Bolsonaro se identifica com ditadura

ANgela Davis - Columbia GSAPP / Editora Boitempo
ANgela Davis Imagem: Columbia GSAPP / Editora Boitempo

Nathália Geraldo

De Universa

19/10/2019 17h54Atualizada em 20/10/2019 11h47

Angela Davis apontou semelhanças entre o governo de Jair Bolsonaro e de Donald Trump e afirmou que o brasileiro, capitão da reserva do Exército, "parece se identificar com ditaduras militares".

Davis é uma das maiores referências do movimento negro norte-americano e atua pelo chamado abolicionismo penal, no qual o sistema carcerário é lido como uma manutenção das desigualdades e preconceitos.

À plateia e sem citar nomes, Davis afirmou que, assim como Trump, o presidente brasileiro reforça uma agenda preconceituosa que desgasta o País e os movimentos sociais.

"Há pouco tempo, pessoas que amam a liberdade, como eu, olhavam para o Brasil como um farol de esperança, uma vez que afro-brasileiros e especialmente mulheres afro-brasileiras estavam emergindo e trazendo demandas democráticas raciais", diz. Como exemplo, Davis citou a vereadora Marielle Franco, executada em março de 2018 no Rio de Janeiro. A polícia, até agora, não sabe quem foi o mandante do crime.

"Quando falei em Goiânia, em 2018, mesmo que estivessem em luto por Marielle, pelo golpe de Dilma Rousseff e pelo encarceramento de Lula, eles estavam querendo lutar pela liberdade". E acrescentou. "Marielle sabia que a liberdade era uma luta constante e isso é levado em frente por quem combate a homofobia, o racismo e outras formas de opressão. Não há democracia sem a articulação de mulheres negras, porque elas representam os pobres, os indígenas, as vítimas de violência racial e os oprimidos", diz. A ativista também citou Preta Ferreira, líder de um movimento por moradia em São Paulo presa por mais de 100 dias e liberta nesta semana após um habeas corpus.

Ícone pop

Nos anos 70, a prisão de Angela Davis projetou seu nome para o mundo. A mulher negra que se tornou filósofa, ativista, intelectual e, na época, também integrante do partido comunista, foi presa por "assassinato, sequestro e conspiração" e, com a detenção, anexou em sua ficha o rótulo de figura pública. Foi tema de música dos Rolling Stones, "Sweet Black Angel", e de John Lennon com Yoko Ono, "Angela" e se tornou a voz entre os feminismos negros norte-americanos. Durante quase um ano e meio em que esteve na cadeia até ser inocentada, mobilizou vários países pela campanha "Free Angela Davis" (Libertem Angela Davis). A prisão transformou Angela em uma referência para a cultura pop.

Angela Davis pela primeira vez em São Paulo - Divulgação - Divulgação
Angela Davis pela primeira vez em São Paulo
Imagem: Divulgação

Até hoje, é defensora do socialismo. Durante a palestra, reforçou que só com uma "transformação socialista" a democracia terá uma "transformação radical" que garante inclusão e diversidade. Tragada também à figura de ícone feminista, pontuou que é preciso "desmontar estruturas que legitimam a violência de gênero", especialmente em relação ao trabalho doméstico exercido por mulheres.

Com vindas anteriores ao Brasil, é a primeira vez que Davis fala em São Paulo. Sua trajetória foi escrita por ela mesma em "Angela Davis - Uma Autobiografia" e lançada originalmente nos Estados Unidos em 1974. A versão brasileira chegou somente neste ano ao Brasil pela Boitempo, editora que trouxe a autora ao país para dois depoimentos sobre o tema "A liberdade é uma luta constante".

A participação de Davis acontece dentro do Seminário "Democracia em colapso?", no Sesc Pinheiros. Na segunda (21), ela fala em evento aberto no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo. Além da capital paulista, vai ao Rio de Janeiro, no dia 23.