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'Gordura boa pode ser convertida em músculo', dizem cientistas

21/08/2008 16h36

Cientistas descobriram que um tipo de gordura pode ser convertido diretamente em músculo e levar a novas maneiras de se combater a obesidade, segundo dois estudos publicados nesta semana pela revista Nature.

O corpo humano possui dois tipos de células de gordura: a branca, conhecida como a "gordura ruim", criada com o excesso de comida e falta de exercício, e a marrom, conhecida como a "gordura boa", com as quais nascemos, mas em pequena quantidade.

A gordura branca acumula calorias, enquanto a marrom, ajudaria a queimá-las, segundo os cientistas.

"Ela (a célula marrom de gordura) é muito eficiente em gastar energia", disse Bruce Spiegelman, do Instituto Dana-Farber do Câncer e Harvard Medical School, em Boston, que realizou um dos estudos.

Esse estudo tentou identificar especificamente as origens da gordura marrom.

Nos testes de laboratório, os cientistas usaram um tipo de proteína - chamada PRDM16 - em um grupo de células que geralmente geram músculos e descobriram que a proteína fazia com que essas células formassem gordura marrom, mas não branca.

Ao bloquear a produção da proteína, essas células marrons de gordura se transformavam novamente em músculos.

Já um estudo do Centro Joslin de Diabetes da Harvard Medical School identificou uma outra proteína - chamada BMP7 - crucial para a geração de células de gordura marrom.

Os pesquisadores realizaram um experimento com ratos. Ao receber uma grande quantidade da proteína, depois de apenas cinco dias, os animais desenvolveram um pouco mais de gordura marrom, apresentaram uma temperatura do corpo um pouco mais elevada e ganharam menos peso do que os ratos que não haviam recebido a proteína.

O pesquisador Ronald Khan, do Centro Joslin de Diabetes, acredita que o impacto da proteína no ganho de peso pode ser ainda maior em um período mais longo.

A equipe de Khan está testando, em ratos, uma forma da BMP7 disponível comercialmente para estimular a cicatrização de ossos depois de cirurgias. O pesquisadores tentam descobrir como a proteína pode ser usada para criar a gordura marrom sem estimular a formação de ossos em locais indesejados.

De acordo com a revista Nature, Dominique Langin, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm, em francês) em Toulouse, na França, acredita que os dois estudos podem abrir caminhos para novos tratamentos.

Mas Langin afirma que será importante identificar com precisão o papel da gordura marrom nos humanos.

Ele lembra que, nos humanos, a gordura marrom - presente entre as omoplatas no nascimento e que ajuda os recém-nascidos a permanecerem aquecidos - desaparece com o crescimento e depois se forma em outros locais, como a parte da frente do pescoço e na parte de cima do peito, mas a contribuição ao metabolismo dos adultos não é clara.

Já nos ratos, a gordura marrom não passa pela mesma transformação e tem um papel importante em regular a temperatura do corpo.