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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Reage, bota um cropped': Meme é ótimo, mas um viva ao direito à exaustão

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Colunista de Universa

01/04/2022 04h00

"Minha irmã acabou de me dar um grito de "VAI MULHER REAGE, BOTA UM CROPPED" enquanto eu choro" A frase, escrita pela estudante Maria Gabriela no Twitter em outubro do ano passado viralizou e virou, na minha opinião, um dos melhores memes dos últimos tempos.

Muitas vezes o que precisamos é disso mesmo, colocar um "cropped", literalmente ou não, parar de reclamar e sair por aí. Acontece que... não é sempre que dá para reagir. E muitas vezes estamos tão cansadas que não há cropped que resolva. Nesses casos, é melhor colocar um pijama e, ao invés de reagir, ir dormir. Nunca precisamos tanto descansar.

Os níveis de exaustão entre as mulheres são grandes e preocupam especialistas do mundo todo. Sim, nós vivemos cansadas e no limite.

Só faltava a gente ter essa pressão: a de sempre reagir rápido.

Aconteceu essa semana. A apresentadora Ana Clara escreveu no Twitter (para quem não sabe, a rede serve para esse tipo de desabafo): "Tô na beira do precipício de tanta coisa na minha cabeça para resolver". E acrescentou: "e tudo bem."

A apresentadora, que tem mais de um milhão e trezentos mil seguidores, recebeu muitas mensagens de incentivo. Uma delas dizia: "mulher, bota um cropped, reage. Vá resolver suas coisas."

Outros falaram que ela, por ser rica e ter um bom trabalho, não devia estar exausta.

Mas, gente! É óbvio que uma mulher que acorda às cinco da manhã, prepara o almoço, pega trânsito para o trabalho e quando chega em casa cuida dos filhos está ainda mais exausta.

Todos nós temos o direito à exaustão. Esse é um sentimento normal que acompanha pessoas que são sobrecarregadas. Especialmente as mulheres.

Há muito tempo inventaram que éramos multitarefas. Mas hoje sabemos que isso era só papo furado para justificar o fato de a gente fazer muito mais coisa que os homens e trabalhar muito (no trabalho, em casa, cuidando da família). E não, não tem nada de romântico nisso. Ao que isso leva é: exaustão, burnout, depressão e crises de ansiedade.

Não por acaso, nós, mulheres, somos campeãs em doenças psiquiátricas. Existe até um termo para identificar nossa "doença" social: fadiga feminina.

Campeãs de burnout

Já faz tempo que somos campeãs em depressão e ansiedade (doenças que aumentaram 25% no mundo com a pandemia, segundo a Organização Mundial de Saúde). Agora, somos as campeãs de burnout, a exaustão que deixa doente e de cama.

Pesquisa realizada pelas instituições Berlin Cameron. Eve Rodsks´s Fair Play e Kanton concluiu que existe um gap de exaustão entre mulheres e homens. Segundo a pesquisa, feita com mil trabalhadoras inglesas e americanas, 68% das mulheres já tiveram pelo menos um episódio de burnout na vida. Entre os homens, o número é de 50%.

Sim, além de ganharmos menos, ficamos mais cansadas. E ainda fomos educadas a pensar que tínhamos que ter paciência com os homens porque eles viviam estressados.

É muito injusto. E o que fazemos? Como boas mulheres, na maioria das vezes, reagimos e botamos um cropped, e, mesmo exaustas e com sintomas físicos, como enxaqueca, (para citar um que eu conheço bem), vamos lindas para o próximo compromisso.

Algumas vezes o que a gente precisa é não reagir. E descansar. O cropped que fique para outro dia.