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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Após a morte de Philip, querem coroar Meghan como a nova bruxa da realeza

Harry e Meghan Markle durante a entrevista concedida a Oprah: esse seria o motivo da morte do príncipe na versão fantasiosa de alguns (Foto: Reprodução) - Reprodução / Internet
Harry e Meghan Markle durante a entrevista concedida a Oprah: esse seria o motivo da morte do príncipe na versão fantasiosa de alguns (Foto: Reprodução) Imagem: Reprodução / Internet

Colunista de Universa

10/04/2021 13h40

O que a atriz Meghan Markle tem a ver com a morte do príncipe Philip? Nada, a não ser o fato dele ser alguém de sua família, já que era avô do seu marido, Harry, e bisavô dos seus filhos.

O marido da rainha Elizabeth morreu na última sexta (9), aos 99 anos, em casa. As pessoas morrem, como se sabe. Mas, horas depois da morte do príncipe ser divulgada, muitos dos olhares do mundo se voltaram não para a rainha, mas para Meghan. Motivo: segundo alguns comentaristas da imprensa americana e fãs da realeza, a culpa pela morte do senhor de 99 anos seria, veja só, seria de Meghan, a atriz divorciada, plebeia, negra e independente que teve a ousadia de entrar para a família real.

O príncipe Philip morreu aos 99 anos e era casado com a rainha Elizabeth desde 1947 - Getty Images - Getty Images
O príncipe Philip morreu aos 99 anos. Ele era casado com a rainha Elizabeth desde 1947
Imagem: Getty Images

De acordo com essa versão fantasiosa, o príncipe teria morrido de desgosto depois que uma crise se abateu sobre a família real por causa de declarações dadas por Meghan e Harry a Oprah Winfrey, em uma entrevista bombástica onde a família real foi acusada, entre outras coisas, de racismo.

A entrevista, além de não ter sido responsável pela morte de alguém que já tinha 99 anos, foi concedida por Harry e Meghan. Mas o príncipe escapou das acusações, claro.

Não surpreende, já que em livros de história, filmes e novelas, muitas vezes as mulheres são consideradas bruxas malvadas, manipuladoras, frias, perversas. Enquanto os homens, veja só, não passam de seres bobos e inocentes que "se deixam levar", praticamente uns coitados.

Outro mito muito comum é o da "mulher destruidora de lares''. No caso da família real, seria ainda mais grave, já que essas mulheres (aconteceu o mesmo com Diana) levam a fama de destruidoras da realeza, da Coroa, das instituições de um país.

Quando Meghan entrou para a família real, em 2018, muitos pensaram que ela traria junto uma revolução de costumes. Os otimistas consideraram seu casamento um sinal de novos tempos e modernidade. Não aconteceu nada disso. A relação da família real, da imprensa sensacionalista e de parte do público com a duquesa só mostra como certas instituições são apegadas ao conservadorismo.

Na tal entrevista, que teria "matado o príncipe Philip de desgosto", Meghan contou que tinha pensamentos suicidas enquanto estava dentro da família real e que se sentia solitária, excluída e oprimida. Na lista de seus traumas, agora, ela carrega também a culpa pela morte do avô do marido. Não é fácil ser mulher na família real britânica.

Mas, bem, esse tipo de comentário colocando uma culpa tão absurda na mulher só prova que continua sendo difícil ser mulher em qualquer lugar do mundo.