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Após 5G, milhões de famílias terão de pagar para trocar parabólica; entenda

Antena parabólica instalada no telhado de uma casa - Pixabay
Antena parabólica instalada no telhado de uma casa Imagem: Pixabay

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

11/07/2022 08h54

A tecnologia 5G já é realidade no Brasil desde quarta (6), quando o Distrito Federal passou a receber o sinal de dados ultra veloz. A conexão de telefonia móvel, 20 vezes mais rápida que o 4G, promete revolucionar o uso dos smartphones, mas também afeta uma velha conhecida dos brasileiros: a televisão. E isso pode afetar o bolso de cerca de 10 milhões de famílias que assistem TV através de sinal de antenas parabólicas.

O problema é que tanto o 5G quanto as parabólicas possuem proximidade em suas faixas de frequência, uma espécie de estrada por onde passam os sinais de transmissão de dados que chegam os aparelhos.

A parabólica no Brasil tem seus dados na "estrada" banda C, que atua na frequência entre 3,7 GHz a 6,45 GHz. Já o 5G opera sua principal via de transmissão de dados em 3,5 GHz. É através dela que a conexão chega às capitais, como é o caso de Brasília desde 6 de julho.

A proximidade entre essas duas "estradas" não causa problemas no 5G, mas afeta diretamente o sinal que chega às TV via parabólicas, como ruídos de som e imagem. Os receptores das televisões não possuem tecnologia para filtrar essa interferência, o que torna quase obrigatória a substituição do equipamento.

Os novos aparelhos para televisão são necessários porque, para driblar o risco de interferência no sinal, as parabólicas vão receber a transmissão em uma nova "estrada" de troca de dados, chamada de banda Ku.

A banda C, infovia atual, deixará de existir nos próximos 18 meses, após a transferência total das parabólicas para a banda Ku. Esse processo é chamado de "limpeza de faixa".

"O 5G não sofre interferência, mas gera esse problema nos receptores de sinal de TV via parabólica", resume o CEO da EAF (Empresa Administradora da Faixa), Leandro Guerra. A entidade é formada por Claro, Tim e Vivo (operadoras que arremataram a faixa de 3,5 GHz no leilão) para limpar a banda C e deixar o caminho livre para o 5G.

Procurada por Tilt, a Abrintel (Associação Brasileira de Infraestrutura para as Telecomunicações) informou que o "tema não faz parte do escopo de atuação" da entidade, que tem foco nas antenas de 5G, e não parabólicas.

Quantas famílias com parabólicas são afetadas pelo 5G?

A EAF afirmou que trabalha com a estimativa de 20 milhões de domicílios que assistem TV aberta através da parabólica e que terão que mudar seus aparelhos receptores de sinal.

Do total, 10 milhões de famílias vão tirar do próprio bolso o dinheiro para pagar a substituição, pois a troca gratuita, conforme determinou o edital do 5G, atende somente os inclusos no CadÚnico, cadastro de pessoas de baixa renda do governo federal. É a EAF (Claro, Tim e Vivo) que banca essa troca.

Já a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) trabalha com outra estimativa, calculada em 18 milhões de domicílios, informou à reportagem. O órgão, porém, se baseia na última pesquisa de 2019 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e acredita que o dado pode ser ainda menor.

"Esses dados devem ser entendidos como estimativas, porém podem não representar a realidade atual, considerando que temos uma expectativa de declínio no número de parabólicas com o passar do tempo", prevê a Anatel.

A diferença entre as estimativas deixa a EAF com uma margem de sobra, o que pode tornar possível que nenhuma família de baixa renda fique sem a troca dos aparelhos.

No Distrito Federal, por exemplo, que foi por onde o 5G iniciou no Brasil, são 3.300 famílias que dependem das parabólicas.

As próximas cidades anunciadas para receber o 5G, ainda sem data confirmada para o início, são Belo Horizonte (2.700 parabólicas), João Pessoa (1.500) e Porto Alegre (1.500).

O custo médio da troca dos aparelhos é fixado a partir de R$ 400 em sites de vendas na internet, que os chamam popularmente de "kit banda Ku", composto por antena, receptor e fiação.

Já tem família com sinal de TV prejudicado?

De acordo com a Anatel, o 5G, por enquanto, está em 14% do previsto para Distrito Federal. Apenas domicílios com parabólica incluídos nesse percentual podem estar sofrendo com interferência de sinal.

O superintendente de outorgas e recursos à prestação da Anatel, Vinícius Karam, afirmou que a estatal ainda não recebeu reclamações de interferência no sinal da TV parabólica.

Caso alguma família em algum lugar que já tenha 5G perceba o problema, a Anatel e a EAF orientam que procure o serviço Siga Antenado, criado pelas operadoras para distribuir os kits às famílias de baixa renda, por meio do site ou do telefone 0800 729 2404.

A troca e instalação do kit é gratuita somente aos beneficiários do CadÚnico e que estejam com o aparelho atual funcionando. Ela já está disponível para Brasília, Belo Horizonte, João Pessoa e Porto Alegre.

Karam informou que, apesar da estimativa de milhões de lares, nem todo domicílio pode ser afetado pelo sinal do 5G porque "isso varia de acordo com uma série de fatores, como posição da parabólica e distância em relação às antenas do sinal de internet, por exemplo". Quanto mais próximo de estação de 5G, maior a chance de a casa sofrer com a interferência.