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Máquinas de pelúcia podem ser viciadas, e você não deveria gastar com elas

Getty Images
Imagem: Getty Images

Guilherme Tagiaroli

De Tilt, em São Paulo

01/08/2021 04h00

Seja no shopping ou no mercado, há grande chance de haver uma máquina para capturar pelúcias. Ainda que tenham sido febre nas décadas de 1990 e início de 2000 no Brasil, não custa lembrar que o princípio delas não é facilitar a vida do jogador e há a possibilidade de algumas máquinas estarem viciadas.

Segundo uma reportagem do site norte-americano "Vox", analisando manuais desses equipamentos, a maioria dessas máquinas conta com sistemas de programação que permitem que o dono ajuste a quantidade de lucro que quer obter, e o controle disso está diretamente ligado ao nível de força da garra.

Um exemplo dado pelo site é quando o administrador da máquina quer ter um lucro de 50%, com a ficha custando US$ 0,50 e com cada uma das pelúcias da máquina valendo US$ 7.

Para ter o lucro almejado, a máquina vai usar a força total da garra apenas 1 em 21 vezes de forma randômica. Então, a pessoa teria de gastar US$ 10,50 para pegar uma pelúcia - com essa grana, o dono paga o urso e ainda lucra US$ 3,50.

Peritos do IGP (Instituto Geral de Perícias) de Santa Catarina analisam circuito de máquina de pelúcia - IGP/Divulgação - IGP/Divulgação
Peritos do IGP (Instituto Geral de Perícias) de Santa Catarina analisam circuito de máquina de pelúcia
Imagem: IGP/Divulgação

Pode parecer uma realidade paralela, mas em agosto de 2020 o IGP (Instituto Geral de Perícias) de Santa Catarina recebeu uma denúncia de fraude em uma dessas máquinas em Joinville (a 180 km de Florianópolis).

Após análise pericial, foi descoberto que as garras do equipamento só funcionavam com toda força em determinada frequência. "No equipamento em questão, a placa estava configurada para que o eletroímã recebesse a tensão correta para o fechamento da grua somente uma vez a cada 22 jogadas. Ou seja, o jogador só tem a chance de pegar uma pelúcia após 21 jogadas perdidas", afirmou o perito criminal Alcides Ogliari Junior, em nota do instituto.

O problema disso é que o equipamento pode ser enquadrado como um jogo de azar, e não um jogo de habilidade.

A lei das contravenções penais define como jogo de azar aquele em que "o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte". Um exemplo de jogo de azar são as máquinas caça-níquel.

Já um jogo de habilidade depende da aptidão da pessoa, o que deveria acontecer em máquinas de pelúcia, dado que há um joystick controlado por um jogador. São exemplos de jogo de habilidade: xadrez, gamão, ludo e pôquer.

Segundo o advogado Marco Sabino, que é sócio do escritório Mannrich e Vasconcelos, uma pessoa que mantém uma máquina dessas pode ser enquadrada na lei de contravenção por "estabelecer ou explorar jogos de azar em local público". A legislação define pena de três meses a um ano e, em alguns casos, multa. No entanto, Sabino ressalta que esta é "uma contravenção que exige intenção, e alguém poderia argumentar que não sabia que era uma máquina de azar".

De qualquer jeito, o advogado aconselha que quem se sentir lesado deve procurar a polícia ou até mesmo o Procon local, pois a prática pode representar um abuso ao Código de Defesa do Consumidor.

Como você não consegue saber, de cara, se uma máquina de bicho de pelúcia está programada para prejudicar o jogador (a perícia de Santa Catarina precisou analisar os circuitos do equipamento), talvez seja uma boa não gastar dinheiro com elas.

Se quiser, óbvio, é por sua conta e risco.