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O mapa rasgou, e agora? Como as pessoas se viravam antes do Google Maps?

Anna Pascale/ Unsplash
Imagem: Anna Pascale/ Unsplash

Fabiana Maranhão

Colaboração para o Tilt

12/02/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Google Maps completou 15 anos e fez mudanças para comemorar a data
  • Antes do app, pedir ajuda na rua era comum, mas gerava informação desencontrada
  • Taxista de Recife ainda hoje tem o mapa das ruas em sua memória
  • GPS desatualizado e mapa rasgado? Sim, teve gente que viveu essa experiência
  • Para corretor de imóveis, o app também ajuda para conhecer o imóvel e a vizinhança

Ando muito a pé pela cidade, e o Google Maps é meu companheiro inseparável para descobrir o caminho para chegar aos locais, a distância ou saber quanto tempo vou levar. Se escolho ir de transporte público, ele me dá opções de linhas, em que ponto pegar o ônibus e em qual descer. Sem falar quando quero desbravar a cidade e conhecer novos lugares.

O Google Maps fez 15 anos e então me dei conta de que até o começo dos anos 2000 a gente se deslocava pela cidade sem contar com GPS (sistema de posicionamento global que fornece informações sobre localização por meio de sinais que são enviados por satélites a um aparelho). Era na base do boca a boca, mapas de papel e dicas nem sempre confiáveis.

O Google Street View chegou dois anos depois, e a possibilidade de planejar rotas, estabelecendo um ponto de partida e um de chegada, saber tempo de viagem e opções de caminho só surgiu em 2009. Quer dizer, antes de tudo isso, contávamos com uma boa dose de disposição para sair por aí e pedir ajuda das pessoas.

Outra opção era consultar a lista ou catálogo telefônico (sim!), um livro grande e pesado, de páginas amareladas, que havia em quase toda casa. Esse trambolho tinha os telefones fixos comerciais e residenciais da cidade. Na parte final, havia mapas detalhados dos bairros.

Já na rua, a gente parava pessoas ou entrava em estabelecimentos comerciais para perguntar sobre o caminho. Não era raro cada pessoa dar uma orientação diferente...

Se pegávamos o ônibus, contávamos com a colaboração de motoristas e cobradores para nos dizer em que ponto descer. Se íamos de carro e não tínhamos certeza do caminho, o jeito era parar em um posto de combustível ou em um ponto de táxi para pedir ajuda.

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O taxista Fernando Dias trabalha nas ruas do Recife
Imagem: Fabiana Maranhão/ UOL

Mapa da cidade na cabeça

Os taxistas eram como uma espécie de oráculo, um "Google Maps" analógico. Se você estava perdido e avistava um deles, dava um suspiro de alívio. Eles praticamente tinham o mapa da cidade na cabeça, já que passavam o dia rodando por ruas, avenidas e bairros.

Fernando Dias é taxista há 19 anos no Recife. Usa o Maps, mas, na maioria das vezes, recorre mesmo à memória. Ele conta que não sabe o nome de todas as ruas da região, mas tem um truque para levar o passageiro até o seu destino.

"Em vez de decorar nome de ruas, que é muito difícil, guardo pontos de referência, um banco, um supermercado, uma loja grande. Daí quando chego perto, me informo com o pessoal da localidade e chego".

Quando nem ele nem o passageiro sabem como chegar ao local, Fernando usa o aplicativo, mas tendo em mente que nem sempre o caminho indicado é o melhor. "Às vezes, o aplicativo manda você por uma rota mais distante, não tem 'rota de fuga'. Às vezes, ele bota você numa 'boca quente'''.

Segundo Fernando, os taxistas e motoristas mais novos dependem muito desse tipo de aplicativo. "Muitos ficam viciados e não procuram nem aprender. Só bota ali e vai se embora".

Mapa de papel

Paulo Rebêlo, diretor de uma agência de tecnologia com sede em Brasília, roda por estradas dentro e fora do país "desde antes da internet". Ele lembra que não era uma tarefa muito fácil. "Com mapa na mão que sempre rasgava ou molhava, era uma dificuldade".

Ele se recorda que, antes do Google Maps no celular, usou também GPS automotivo. "Era offline, tinha que fazer download do mapa e se desatualizava muito rápido"

Rebêlo conta que usa o Google Maps quando pega a estrada, ao menos uma vez por mês. "O aplicativo facilita demais o planejamento de viagens e antecipação de eventuais adversidades, além de mostrar rotas alternativas".

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Fábio Rafael usa o Google Maps para traçar rotas
Imagem: Fabiana Maranhão/ UOL

Capacete e Google Maps

Como o taxista Fernando, o artista plástico Fábio Rafael também conhece bem o Recife. Mas quando sai de casa de bicicleta, o capacete, o colete refletivo e o Google Maps são seus acessórios indispensáveis.

Para ele, a maior vantagem do Maps é a ajuda para traçar rotas. "Para quem está de bicicleta, isso conta. Isso ajuda a me programar, para poder sair mais cedo, ir andando devagar, não chegar suado".

"O segundo grande ganho é em relação à segurança porque ele [o Maps] me mostra as ruas que são 'mão', me mostra os melhores caminhos, onde está engarrafado. Então eu posso traçar a minha rota com muito mais tranquilidade".

Antes do Google Maps, quando o destino era um local onde nunca tinha ido, não havia muito o que fazer: o jeito era perguntar. "Geralmente a pessoa com quem eu ia encontrar já dava um ponto ou dois de referência para facilitar. Aí quando chegava no ponto, eu perguntava".

Ver imóveis sem estar lá

Alan Ribeiro Portes é corretor de imóveis há oito anos em São Paulo. Roda cerca de 70 quilômetros por dia pela cidade. Visita uma média de seis imóveis. Não sabe o que é vender e alugar casas e apartamentos sem contar com a ajuda do Google Maps, principalmente a ferramenta Street View.

"Uso 90% das vezes para visualizar ruas e o imóvel. Para não me perder, se quero ver a frente do imóvel, onde fica, entro no Maps. É o único aplicativo que dá isso para gente. Não tem como ficar sem".

Segundo ele, antes do Maps, o corretor só conseguia ter informações sobre o imóvel e a região se fosse pessoalmente ao local. Hoje em dia, quando chega lá, já sabe como é a fachada da casa ou do prédio, sabe o que há no bairro. "O Maps dá a opção de conhecer o lugar, se tem padaria, escola, pizzaria, escola no bairro. Coisa que a gente não conseguia antigamente".

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