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Nudez feminina ganha biquíni virtual com inteligência artificial do Brasil

Divulgação
Imagem: Divulgação

Alexandre Aragão

Colaboração para o UOL Tecnologia

14/09/2018 04h00

Quatro pesquisadores da PUC-RS desenvolveram um algoritmo que usa inteligência artificial para identificar fotos de mulheres nuas e criar novas imagens, editadas, em que as mulheres são cobertas por biquínis virtuais. O potencial de aplicação do estudo, que foi apresentado na Conferência Internacional de Redes Neurais, no Rio de Janeiro, inclui o desenvolvimento de filtros parentais antipornografia mais sofisticados que os atuais.

A partir de um conjunto com cerca de 2.500 imagens de mulheres nuas ou de biquíni, a máquina desenvolveu um modelo a partir do qual é capaz de gerar e aplicar o biquíni virtual. “Detecção de pornografia é um tema muito importante, muito relevante de ser atacado, mas que acaba sendo negligenciado”, afirma o mestrando Martin More, um dos autores do estudo.

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“É um assunto muito sensível, meio um tabu, então é difícil a gente conseguir pesquisar essa área, justamente porque quanto mais polêmico for o assunto, mais rápido as pessoas formam uma opinião e chegam a conclusões absurdas”, ele continua. Em um trecho do estudo, os pesquisadores justificam a abordagem proposta para esse tipo de filtro antipornografia: “Idealmente, seria desejável haver um método que censurasse conteúdo sensível de maneira não-intrusiva, para que o usuário não perceba a nudez” que havia na imagem antes de o filtro agir.

More conta também que uma futura versão do algoritmo, mais aprimorada, também será capaz de identificar fotos de nudez masculina. “O trabalho foi taxado de misógino, porque só utilizou imagens de mulheres. E, de certa forma, olhando em retrospectiva, eu considero que a escolha tenha sido infeliz, mas tomamos essa decisão porque havia um prazo para a conferência”, ele diz.

“A triste realidade é que é muito fácil encontrar imagens de mulheres nuas ou seminuas na internet, e não é a mesma coisa com homens [nus]. Qualquer um que vive na nossa sociedade sabe que a mulher é objetificada e que uma das consequências é justamente essa”, continua o pesquisador.

Além desse estudo, o núcleo de inteligência artificial da PUC-RS atualmente desenvolve pesquisas de deep learning que treinam máquinas para identificar doenças em imagens de exames médicos, recuperar arquivos ou imagens perdidas e outros trabalhos envolvendo manipulação de imagens.

More explica que há muito de estatística no deep learning, e, por isso, o conceito “é baseado em toda essa carga teórica de aprendizado de máquina, mas une modelos muito maiores de previsão, modelos especificamente de redes neurais artificiais”. “Esses modelos têm uma característica interessante: são bons para dados não estruturados — imagens, áudio, texto —, problemas muito mais difíceis de atacar do que dados estruturados que são, por exemplo, planilhas de Excel”, ele conclui. Daí por que o algoritmo consegue identificar a nudez e cobri-la com um biquíni virtual costurado virtualmente por ele próprio.