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'Babá de CEO': vacilo de poderosos mostra que IA pode, sim, criar empregos

Tem dias que parece que Elon Musk pode fazer o que quiser no X (antigo "Twitter"). O dono da rede posta memes, vídeo de foguete, comentário político e enquetes sobre os mais variados temas. Só tem uma coisa que Musk não pode fazer na rede social que comprou: tuitar sobre a Tesla sem a supervisão de um advogado.

A curiosa obrigação veio de um acordo que o empresário fechou com a SEC (Securities and Exchange Commission), a autoridade do mercado de ações nos Estados Unidos. Em agosto de 2018, Musk, como CEO da Tesla, anunciou no Twitter sua intenção de fechar o capital da empresa, afirmando já ter o "financiamento garantido" para isso.

A publicação na rede social levou a SEC a iniciar uma investigação sobre manipulação de mercado, já que o tuíte de Musk gerou volatilidade significativa no preço das ações da Tesla, levantando dúvidas sobre a adequação das informações fornecidas aos investidores.

Para evitar que o processo se arrastasse, comprometendo a imagem da empresa, as partes chegaram a um acordo. Musk pagou uma multa pessoal de $20 milhões e concordou em renunciar ao cargo de presidente do conselho da Tesla por pelo menos três anos. Além disso, o empresário concordou em submeter todas as suas comunicações públicas relacionadas à Tesla, incluindo tuítes, para a revisão e aprovação por um advogado especializado na regulação do mercado de capitais. Nascia assim a "babá do Twitter" ("Twitter sitter", como o caso ficou conhecido em inglês).

É um mistério quem exerce essa função e como a dinâmica de revisão das publicações de Musk de fato ocorre. Mesmo antes de comprar o Twitter, Musk resolveu desafiar nos tribunais o cumprimento dessa cláusula do acordo com a SEC. O empresário argumentou que a supervisão de suas postagens violava a liberdade de expressão e requereu ao tribunal a anulação dessa exigência.

O juiz distrital e a Corte de Apelações do Segundo Circuito mantiveram a cláusula do acordo, indicando que a restrição à liberdade de expressão foi voluntária e adotada pelo empresário como forma de evitar o pagamento de multa mais pesada e a continuidade do processo na SEC.

Musk apelou para a Suprema Corte, que decidiu em 2024 não conhecer o caso, dando assim por encerrada a discussão sobre a babá do Twitter. Vale lembrar que a Suprema Corte dos EUA possui discricionariedade para escolher quais casos vai processar e julgar, geralmente decidindo entre 100 e 150 casos por ano.

É cada vez mais esperado que os principais executivos das grandes empresas de tecnologia sejam ativos nas redes sociais, comentando o lançamento de produtos e serviços, por vezes até confundido as suas personalidades e estilos com a da própria empresa.

Sam Altman, CEO da Open AI, tuitou a palavra "Her" enquanto a empresa anunciava a nova versão do ChatGPT, que funciona como uma assistente pessoal por voz, interagindo de modo bastante natural com o usuário. "Her" ("Ela", em inglês) é o título do filme em que a atriz Scarlet Johansson faz a voz de uma assistente pessoal que acaba gerando um relacionamento romântico com o personagem interpretado por Joaquin Phoenix.

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Se já parecia estranho o CEO da empresa atrelar o lançamento de um produto com uma história ficcional de uma aplicação de IA que engana seus usuários em um relacionamento platônico, a coisa piorou quando a atriz Scarlet Johansson veio a público dizer que foi procurada pela empresa para fazer a voz do ChatGPT e recusou. No seu entender, a nova voz da aplicação da OpenAI se parecia muito com a sua, levantando questionamentos jurídicos. A empresa rapidamente se mexeu para desativar a voz.

Será que vamos precisar de uma "babá do Twitter" para o CEO da OpenAI? Se a moda pega parece estar surgindo um promissor mercado para advogados atuarem na revisão de tuítes de altos executivos de empresas de tecnologia que confundem as suas experiências com a das empresas que dirigem. Quem disse que a IA não pode criar empregos?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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