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Lady Chokey faz streams de GTA RP com personagem inspirada em Flordelis

Gabriel Oliveira

Colaboração para o START

25/10/2020 09h00

Lady Chokey chegou com tudo ao mercado de streaming de jogos eletrônicos. Depois de fazer vídeos na internet e músicas do gospel ao funk, a carioca tem se dedicado às lives para maiores de 18 anos de GTA RP, onde interpreta uma personagem inspirada na deputada federal Flordelis (PSD-RJ), acusada de ter mandado matar o marido.

No GTA RP, o mod para PC do tradicional Grand Theft Auto, Lady Chokey vive a pastora Raquel, baseada na vida dupla da parlamentar e usada como crítica às contradições das religiões, especialmente as evangélicas.

Ela conversou com o START e contou a sua história, desde os primeiros vídeos no Facebook às transmissões diárias de GTA RP, passando pela carreira musical (assista ao vídeo acima).

Para chocar!

Lady Chokey - Reprodução / Internet - Reprodução / Internet
Imagem: Reprodução / Internet

Mulher trans, Lady Chokey está fazendo streams desde julho, quando começou a encarnar a pastora Raquel no mundo do faz de conta do GTA RP. Neste jogo, os jogadores criam papéis e os interpretam em uma cidade virtual, interagindo uns com outros pela internet. Assim, tudo pode acontecer. Até um culto!

Lady Chokey pastora Raquel em culto 2 - Reprodução/Facebook/LadyChokey - Reprodução/Facebook/LadyChokey
Imagem: Reprodução/Facebook/LadyChokey

"A pastora Raquel tem uma vida dupla, tripla. Ela, ao mesmo tempo em que é devota naquilo que acredita, apronta pra caramba e arruma confusão com todo mundo", conta Lady Chokey. "Eu a fiz totalmente inspirada na deputada Flordelis, quando começou este caso que temos acompanhado no noticiário".

Pastora e deputada federal pelo Rio de Janeiro, Flordelis é acusada pelo Ministério Público de ser a mandante do assassinato do marido dela, o pastor Anderson do Carmo, em 16 de junho de 2019.

"Quando entram para fazer RP, normalmente as pessoas procuram personagens bem clichês: médica, policial, garota de programa. Eu não queria ser mais uma dentro da cidade. Eu queria algo novo", conta a streamer. "Infelizmente a intolerância religiosa existe, mas há o outro lado da moeda. Como temos visto depois de tanto tempo de investigação, a Flordelis tinha uma vida dupla. Ela ía a casa de suingue e fazia diversas coisas e eu queria ter esta liberdade com a Raquel".

Por conta da linguagem e dos temas abordados, a live da streamer não é recomendada para menores de 18 anos.

Personagem polêmica

Lady Chokey - Reprodução/Facebook/LadyChokey - Reprodução/Facebook/LadyChokey
Imagem: Reprodução/Facebook/LadyChokey

O pessoal do servidor em que Lady Chokey joga ficou receoso com a personagem, por medo de atos de intolerância, mas acabou a aceitando. "Ganhei até uma igreja lá dentro", gaba-se a influenciadora.

Eu quis trazer para o virtual algo que está na cara, só que as pessoas não querem ver. A pastora Raquel se enriquece ilicitamente por meio dos cultos. Eu uso bastante o método da Igreja Universal, aquela questão de psicologia reversa, de você meio que culpar a pessoa e fazê-la dar aquilo que ela tem
Lady Chokey

Ela ressalta que, embora a personagem se enriqueça em cima da fé alheia, é querida pelos outros jogadores, pois os cultos são divertidos. "É algo super leve, mas, dentro deste leve, eu incluo a psicologia reversa e faturo 1 milhão e meio, 2 milhões por culto em dízimos".

Mas isso só no virtual, OK? "Quem me dera se fosse na vida real", diverte-se Lady Chokey.

No mundo fora do GTA RP, o faturamento dela com as streams não é tão alto quanto nos cultos da pastora Raquel, mas não é nada desprezível. São cerca de R$ 8 mil a R$ 9 mil mensais, incluindo a remuneração do contrato com o Facebook Gaming, plataforma onde a influenciadora faz as lives, e as doações dos espectadores.

Investimento de R$ 23 mil

Lady Chokey fazendo stream 1 - Divulgação/LadyChokey - Divulgação/LadyChokey
Imagem: Divulgação/LadyChokey

Para iniciar as streams, Lady Chokey torrou R$ 23 mil na compra de equipamentos top de linha, como computador, headset e microfone.

"Eu recebi uma relação [de equipamentos] do pessoal do Facebook. Eles dão uma direção: placa de vídeo tal, processador tal. Eu fiz o orçamento e comprei", disse a streamer.

A ideia para fazer lives partiu da Rainha Matos, outra influenciadora trans famosa na internet. O convite ocorreu em maio, no auge da pandemia de covid-19, quando Lady Chokey já começou a planejar como seriam suas transmissões. Ela decidiu, desde o início do planejamento, que jogaria GTA RP nas streams.

"Além de se envolver com a situação, você consegue colocar o seu sentimento ali, e a sua distração é muito bacana. Você tem a oportunidade de ensinar, de conhecer e de envolver aquilo que acha correto ou não dentro de diversas situações. Quem assiste, por mais que saiba que se trata de uma ficção, também aprende", comenta Lady Chokey.

"A pandemia me trouxe a vida de gamer, me deu este presente. Poderia ter sido em outro momento, mais bacana ou positivo. Mas, infelizmente ou felizmente, não sei dizer, foi no momento ruim que eu encontrei algo bacana"
Lady Chokey

Carreira na internet

Lady Chokey - Reprodução/Facebook/LadyChokey - Reprodução/Facebook/LadyChokey
Imagem: Reprodução/Facebook/LadyChokey

Nascida em Xerém, na região metropolitana do Rio de Janeiro, a influenciadora começou a trabalhar com internet em outubro de 2017. Ela gravou um vídeo para o Facebook em que reclamava dos Correios por não receber correspondências na casa onde morava com uma amiga. O local era considerado longínquo pela empresa.

O desabafo viralizou, e a influenciadora passou a publicar vídeos na página de Facebook que havia criado para fazer o post sobre os Correios, chamada apenas de Chokey. Por sugestão de uma amiga, o canal ganhou o Lady.

Foi nessa mesma época que ocorreu a transformação da streamer trans. "Foi vindo minuciosamente junto da Lady Chokey, porque era algo que eu já tinha reprimido há muito tempo, devido a um emprego antigo que eu tive, em produção artística".

Ela também se aventurou na música, de estilos diferenciados: do funk pornográfico "Quica" ao gospel "Sobrenatural", gravado em parceria com a Mini Pastora Vitória de Deus.

Religiosidade

Apesar das canções religiosas e da personagem pastora no GTA RP, Lady Chokey não é evangélica, nem religiosa.

"Eu sou de família evangélica. Eu, desde criança, sempre estive no meio. É devido a isso que eu sei tanta coisa e tenho a minha opinião em relação a isso", conta Lady Chokey. "Quis trazer este problema dentro da minha personagem e mostrar que pastor, para mim, não é Deus. Muita gente tem o pastor como essa figura. E não é assim. Pastor é ser humano e erra. Pastor é líder e nem todo mundo nasceu para ser líder. O intuito de tudo isso é alertar e mostrar para as pessoas ficarem mais ligadas em todas as religiões".

A influenciadora já gravou seis canções e está preparando mais uma, a ser lançada em breve. Ela, contudo, diz que música não é a sua praia e não pensa, por enquanto, em fazer nenhuma relacionada a jogos eletrônicos.

"Eu acho que temos de fazer aquilo que nós dominamos, entende? Eu não sinto que domino a música, mesmo quando fazendo isso voltado para o humor", explica a streamer. "Pessoas que ouviram as outras ficam me pedindo [mais músicas], eu acho que não é justo eu parar. Se é uma nova possibilidade, vai que uma dessas hita, né?"

Pessoas LGBT e preconceito

Bandeira LGBT - Reprodução / Internet - Reprodução / Internet
Imagem: Reprodução / Internet

Confortável mesmo Lady Chokey se sente jogando GTA RP diante das centenas de pessoas que a assistem todos os dias. Nem mesmo ofensas que às vezes aparecem no chat são capazes de tirá-la do eixo.

"O hate fala mais da pessoa que está jogando do que quem está recebendo, porque eu vou continuar sendo eu e vivendo a minha vida e a pessoa é que tem aquele sentimento ruim. Eu não deixo isso penetrar no meu coração", garante Lady Chokey.

Ela comemora a adesão às suas streams, mas destaca que ainda há uma depreciação das lives de pessoas LGBT.

"É um mercado que não é pro meu público, pro meu nicho, pra pessoa que eu sou", avalia. "O mercado não é LGBT, temos poucas pessoas LGBTs em destaque. O mercado é hétero".

Na opinião de Lady Chokey, isso acontece, pelo lado dos streamers, em razão de muitos pais não apoiarem quem deseja fazer lives e do medo das pessoas LGBTs se exporem na web. Já pelo lado dos espectadores, os públicos hétero e infantil tendem a acompanhar as transmissões de quem é hetero. Nos adultos, existe o preconceito.

"Vamos supor: 'se eu sou hétero e meu amigo me pega assistindo a uma live de uma trans ou de uma drag queen vai achar que eu curto aquilo ali'. É o preconceito velado que sabemos que existe. Mas quem está perdendo são eles, porque o conteúdo é maravilhoso", defende Lady Chokey, cheia de planos para alcançar postos ainda mais altos. "Todo dia em que acordamos, temos a oportunidade de fazer melhor e alcançar patamares maiores".

Apesar do discurso, a streamer trans não almeja ser uma referência LGBT. "Eu não busco isso. Não quero ser referência para ninguém. Na minha opinião, as precisam ser, cada uma, suas próprias referências. Eu busco me divertir com aquilo que eu faço e fazer as pessoas curtirem e se entreterem com o conteúdo que eu tenho a oferecer".

Pastora Raquel que o diga!

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