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Além do Jogo: O paradoxo do Kinect

GUILHERME SOLARI

Colaboração para o UOL

15/06/2011 14h00

Microsoft mostrou que aposta no acessório, mas se você quer ver inovação no Kinect, procure na comunidade de hackers

  • Danny Moloshok/Reuters

    ‘Dança do Macaco’ de “Sesame Street: Once Upon a Monster”: um bom exemplo do que as pessoas não querem fazer com o Kinect

“De forma geral, quando o assunto é os hackers, você quer incluir muito do que eles fazem ao invés de lutar contra eles. Eu acho que a indústria está lentamente aprendendo isso”.

Cliff Bleszinski

O Kinect do Xbox 360 é um paradoxo. Por um lado ele é um sonho gamer concretizado, que permite manipular um jogo sem nenhum controle como se ele tivesse saído direto de um filme de ficção científica. Por outro, é um acessório assombrado por uma implementação pouco convincente em jogos ‘hardcore’ e biblioteca de party games que parecem tentar fazer o que o Wii fazia cinco anos atrás.

Na última E3 ficou claro que a gigante de Bill Gates leva a sério sua plataforma de jogo por movimento, mas vejamos o que ela apresentou em sua conferência: “Kinect Sports Season 2” (o “Wii Sports” da Microsoft), “Kinect Disneyland Adventures” (coletânea de minigames para o público infantil), “Dance Central 2” (título musical que talvez melhor aproveite o acessório), “Sesame Street: Once Upon a Monster” (Dança do Macaco) e “Fable the Journey” (promessa de ser o mais avançado simulador de carroça na história dos videogames).

A impressão que se tem após essa E3 é que a Microsoft tem um aparelho com potencial tão grande que nem ela sequer sabe direito o que fazer com ele. A aposta em comandos de voz para jogos como “Mass Effect 3” ou “Ghost Recon: Future Soldier” precisa ainda passar por um teste prático, mas sou bem cético quanto ao benefício real dessas funções ao jogador.

Para ser justo, a estratégia da Microsoft faz sentido de um ponto de vista comercial, o Kinect é bem atrativo ao público mais casual e é provável que muitos pais se divirtam executando a Dança do Macaco junto dos filhos. Porém, vendo as utilizações criativas apresentadas pelos usuários, é como se a Microsoft estivesse usando um diamante como peso de papel.

Os hacks

  • Reprodução

    Usuários usaram o Kinect em cirurgias e para controlar robôs voadores. Até um hack para jogar “Taikodom” no Kinect foi criado

Talvez o melhor lugar para ver as possibilidades inovativas do Kinect é não olhar para os jogos que foram apresentados, mas para a comunidade de usuários que criou uma série de utilidades nunca antes pensadas para o aparelho.

Usuários já hackearam o acessório para controlar robôs voadores, brincar de air guitar em tempo real, em cirurgias médicas, para criar bonecos animados a partir de sombras, para simular uma camuflagem à la predador, criar interfaces virtuais como as do filme Minority Report, imagens em 3D e muito mais. O site kinecthacks.net reúne dezenas de criações absurdas, incluindo um usuário que hackeou o Kinect para jogar o MMO brasileiro Taikodom.

E a Microsoft mostrou controle de menus pela voz, a capacidade de desenhar com luz em 3D e criar de um boneco animado a partir de uma almofada. Todas elas inovações que nasceram da comunidade de hackers, inclusive o “Minecraft” com suporte ao acessório. “Eu estava em um painel com Kudo Tsunodo (diretor criativo do Kinect), e estávamos falando sobre o Kinect Fun Labs, e eles estão incluindo muito do que os hackers fizeram com o Kinect,” o produtor de “Gears of War” Cliff Bleszinski confirmou recentemente ao site gametrailers.com.

Existe um grande processo entre um hack interessante feito por alguém e uma funcionalidade final que possa ser incluída comercialmente no Kinect, e de fato as funções mostradas mostram como a Microsoft está de olho no que a comunidade está fazendo. Mas talvez eles estejam considerando essas funções mais como ‘gimmicks’, firulas tecnológicas, do que pretendentes a utilidade principal do aparelho. Os usuários mostram um futuro intrigante para a plataforma e a Microsoft nos mostra a Dança do Macaco e “Fable the Journey”.

“Fable the Journey”

  • Divulgação

    “Fable the Journey” pode conseguir inovar apesar da demonstração que o próprio Peter Molyneux considerou “um terrível erro”, mas por enquanto continua apenas outra promessa

Talvez seja duro demais chamar “Fable the Journey” de “promessa de ser o mais avançado simulador de carroça na história dos videogames”. Os companheiros de UOL Jogos que testemunharam o título de Peter Molyneux em ação durante a E3 gostaram do que viram, em particular por permitir a criação de poderes a partir da recombinação de 16 tipos iniciais.

De fato, um fator muito intrigante de “Black & White” de Molyneux era a criação de diferentes magias a partir dos gestos do jogador com o mouse. Gestos que o gamer pode fazer ao vivo como um mago executando um feitiço no Kinect em seu novo jogo. Leia nossa prévia completa.

Tudo muito bacana, mas o histórico recente de Molyneux pesa contra ele, especialmente se tratando de Kinect. Sua última empreitada “Milo” prometia ser um garoto virtual de inteligência artificial revolucionária que reagiria às emoções do usuário pelo acessório lendo sua linguagem corporal e voz e permitindo ao jogador forjar a sua personalidade. Terminou apenas como promessas. Digamos que se Peter Molyneux fosse frequentador do meu boteco eu não deixaria mais ele pagar fiado.

E você, usuário do Kinect, está contente com ele ou concorda que ele é subaproveitado? Qual seria o seu jogo dos sonhos aparelho? Por favor, contribua comentando abaixo.