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Impressões: "Alice: Madness Returns" traz País das Maravilhas envolvente e perturbador

PABLO RAPHAEL

da Redação

13/05/2011 13h00

American McGee é, sem dúvida, uma das mentes mais excêntricas entre os criadores de games. O designer trabalhou em "Doom" e em outros jogos de sucesso da Id Software, antes de ganhar fama com sua visão macabra de "Alice no País das Maravilhas". "Alice: Madness Returns" traz o universo perturbador criado por McGee para os computadores atuais e consoles de alta definição.

No começo de "Madness Returns" Alice já é uma adolescente em tratamento psiquiátrico para esquecer seu passado. Órfã, ela vive em um albergue e tem uma queda por bebidas fortes. Perturbada, Alice tem alucinações em que pessoas com cabeças de mosca a perseguem nas ruas e sua velha senhoria se transforma em um demônio. Em choque, a garota mergulha de volta ao País das Maravilhas, uma terra bem diferente de sua visita anterior, dominada por um novo e misterioso governante.

Explorando um mundo de sonhos e pesadelos

A interpretação de McGee para o mundo de Lewis Carroll é o grande destaque do jogo. No controle de Alice, você passa pelo Vale das Lágrimas, uma terra que, em contraste com o mundo real, é bela, colorida e cheia de vida, com grandes flores, cogumelos e cachoeiras. Peças de dominó flutuantes completam a paisagem onírica. Após um encontro inicial com Chesire, o gato, Alice recupera a capacidade de encolher. O poder é útil tanto para passar por locais pequenos quanto para enxergar rabiscos que indicam o caminho a seguir, passagens secretas e tesouros escondidos.

O mais interessante é que os elementos que compõem o cenário não são apenas detalhes estéticos, mas vários tem função no jogo. Cascos de caramujos  podem ser quebrados e escondem tesouros, cogumelos servem de trampolim para alcançar plataformas elevadas, Alice pode planar sobre nuvens de vapor e por aí vaí. Cada estágio é amplo e cheio de detalhes, disfarçando bem o traçado linear do game.

O game em si parece bem linear, mas os tesouros são um convite à exploração dos amplos cenários de "Madness Returns": dentes vêm em duas variedades: os brancos, mais comuns, e dourados, que valem muito mais. São os itens colecionáveis mais frequentes e são usados como moeda na hora de melhorar as armas, mas há outros, como focinhos de porco alados, que são detectáveis pelos grunhidos característicos e uma vez derrubados, ativam rampas feitas com peças de dominó flutuantes. Outro tesouro que chama a atenção são as garrafas de bebida, que mesmo sem função aparente no começo do jogo, são bem difíceis de encontrar e vão fazer a alegria dos jogadores que buscam completar 100% do jogo.

"Alice" é dividido em seis capítulos bem longos e a demonstração experimentada por UOL Jogos traz apenas o primeiro deles. Mesmo assim, a diversidade de cenários já chama a atenção: do vale colorido e cheio de flores até um deserto rochoso aos pés de uma fortaleza de porcelana guardada por soldados armados com garfos enormes e tampas de panela, passando por plataformas mecânicas em um estágio feito de engrenagens flutuantes, "Madness Returns" capricha na ambientação.

O estilo artístico do jogo colabora para levar o jogador para um cenário de sonhos, ou melhor, de pesadelos. A própria personagem parece feita dessa matéria, desde sua habilidade para executar saltos duplos "pisando" no próprio ar até suas roupas, que carregam pequenos símbolos arcanos, respingos de sangue e uma singela caveira prendendo a fita do vestido. Em alguns trechos, os trajes de Alice mudam, e liberar todas as roupas é um dos desafios adicionais do game.

Retorne ao mundo macabro de "Alice"

Pimenta nos olhos dos outros

Além da exploração, o combate é outro elemento de destaque em "Madness Returns". Ao longo de sua jornada, Alice adquire algumas armas. A primeira delas é uma bela faca, simples e eficiente. Logo depois, a garota cumpre uma missão sangrenta para uma velha cozinheira e recebe uma arma que dispara pimenta, capaz de abater inimigos voadores e irritar os olhos de seus adversários.  Os primeiros inimigos são ciraturinhas pequenas, soldados com corpos que parecem feitos de tinta, lesmas, vespas em forma de parafuso e homenzinhos desagradáveis armados com garfos enormes.

Uma rápida observação nos menus revela que outros itens bizarros vêm pela frente: um guarda-chuvas e um cavalinho de pau estão entre eles. Cada arma pode ser melhorada para dar mais dano ou recarregar mais rápido, por exemplo. Durante as lutas, você pode travar a mira em alvos específicos, no melhor estilo "Legend of Zelda". É preciso ficar atento aos padrões de ataque dos oponentes e planejar seus movimentos para evitar uma morte prematura.

Para se livrar de uma vespa-parafuso fincada nas costas de Alice, você pode encolher, escapar da criatura e crescer novamente para atacar. Ao lutar com inimigos equipados com tampas de panela como escudos, é preciso esperar a investida do adversário, se esquivar - Alice se transforma em uma miríade de borboletas ao executar o movimento - e então, quando ele tiver seu garfo fincado no chão, finalizar o monstrinho com golpes de faca. Durante as lutas, o game não economiza na violência.  Nem sempre há detalhes sangrentos, mas cabeças rolam pelo chão e as batalhas são intensas e desafiadoras.

American McGee não é só um designer com uma visão excêntrica e perturbadora das histórias infantis, também é dotado de muita criatividade e talento. "Madness Returns" apresenta uma excelente combinação de exploração e combate, ambientação e direção artística primorosa. A versão experimentada, embora bem adiantada, sofria com quedas na taxa de quadros aqui e ali. Se esse problema for corrigido até o lançamento em junho, "Alice" tem tudo para figurar entre os melhores games de 2011.