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Bienal, 70 anos

A história dos 70 anos da Bienal de São Paulo, dividida por décadas


Bienal, 70 anos #7: Urubus, novas vozes e 'sua atenção, por favor'

Do UOL, em São Paulo

14/08/2021 04h01

O sétimo episódio do podcast "Bienal, 70 anos" aborda o que aconteceu nas mostras entre 2010 e 2019. No período, teve uma edição marcada pela polêmica de uma obra com a presença de urubus, teve "gás novo" na gestão e também a ocupação do pavilhão com pautas dos movimentos negro, feminista e LGBTQIA+. Com apresentação de Marina Person, o podcast —uma coprodução do UOL e da Fundação Bienal de São Paulo— tem dez episódios. As publicações são sempre aos sábados, e você pode ouvir o sétimo episódio na íntegra no arquivo acima.

A Bienal vinha de uma década complicada, como você pôde ouvir no episódio 6: a crise financeira culminou, inclusive, com a Bienal do Vazio. Mas, em 2009, a mudança de gestão trouxe um "gás novo" para a instituição. Heitor Martins, sócio-diretor de uma grande consultoria, foi eleito presidente e, com seu olhar mais empresarial, sanou dívidas, implementou modelos de financiamento mais sustentáveis e com isso reestruturou a Fundação.

bienal - Duas Águas/ Fundação Bienal de São Paulo - Duas Águas/ Fundação Bienal de São Paulo
Obra 'Bandeira Branca' do artista Nuno Ramos na 29ª Bienal de São Paulo
Imagem: Duas Águas/ Fundação Bienal de São Paulo

O resultado foi visto na 29ª Bienal, em 2010. O mote desta edição era discutir arte e política, o que aconteceu. Além de muita polêmica e discussão, causada pela obra de Nuno Ramos, "Bandeira Branca", uma instalação com três urubus vivos.

Mais uma vez, houve pichação na Bienal: desta vez, a frase "libertem os urubus" em uma das estruturas de areia que sustentam as aves. Defensores dos direitos dos animais questionaram a presença dos bichos no local e pediram a interdição da obra do artista.

O autor deste protesto foi o artista Cripta Djan, que inclusive era um dos convidados da própria Bienal. Com toda a discussão gerada, uma semana depois o Ibama retirou os pássaros do pavilhão e a pichação foi apagada.

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Obra do artista Gil Vicente na 29ª Bienal de São Paulo
Imagem: Duas Águas/ Fundação Bienal de São Paulo

Mas esta não foi a única obra que deu o que falar. Os desenhos do pernambucano Gil Vicente também causaram debates calorosos. Neles, personalidades públicas como a Rainha Elizabeth e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apareciam com uma arma apontada para suas cabeças. Ou então mostravam o ex-presidente Lula com uma faca no pescoço. Muita gente não gostou da maneira que Gil manifestou sua insatisfação com as personalidades políticas e reclamou da violência na obra.

Como a situação financeira estava positiva, nesta edição foi possível também ter obras comissionadas, ou seja, quando o curador encomenda algo para o artista. Foi o caso de "Círculo de Animais", do artista chinês Ai Weiwei, famoso pelo seu trabalho de cunho político.

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Obra 'Circle of Animals' do artista Ai Wei Wei na 29ª Bienal de São Paulo
Imagem: Duas Águas/ Fundação Bienal de São Paulo

Tratava-se de uma instalação feita com doze esculturas de cabeças de animais do zodíaco chinês, em referência a um chafariz de um palácio do governo daquele país. A estrutura era decorada com imagens de animais e foi destruída durante a Guerra do Ópio pelas tropas franco-britânicas. A fonte acabou virando um símbolo político e sua representação gerava discussões nacionalistas.

Outro destaque foi "Arroz e Feijão'', de Anna Maria Maiolino, feita em 1979, ainda na ditadura militar. A instalação era composta por uma mesa de jantar posta, com pratos e talheres. Mas, em vez de comida, os pratos estavam cheios de terra e de pequenos brotos de feijão nascendo. A ideia era mostrar como a vida persiste apesar dos percalços e também a importância de alimentar nossa cultura, nossa própria terra.

bienal - Gustavo Rosa de Moura/ Duas Aguas/ Fundação Bienal de São Paulo  - Gustavo Rosa de Moura/ Duas Aguas/ Fundação Bienal de São Paulo
Obra do artista José Spaniol na 29ª Bienal de São Paulo
Imagem: Gustavo Rosa de Moura/ Duas Aguas/ Fundação Bienal de São Paulo

A década de 2010 foi muito importante, pois passou a dar espaço a pessoas que antes tinham suas vozes caladas e abafadas. As pautas dos movimentos negro, feminista e LGBTQIA+ conquistavam espaço e isso se refletiu na 32ª Bienal, em 2016. A edição reuniu obras que discutiram, cada uma a seu modo, as condições de vida em um tempo marcado por mudanças contínuas. Pela primeira vez uma mulher negra fazia parte do time curatorial: a sul-africana Gabi Ngcobo.

Além disso, mais da metade das obras exibidas eram de artistas mulheres. A exposição foi um sucesso, com quase um milhão de visitantes. Um dos maiores públicos da história das Bienais.

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Prática de exercícios de atenção durante laboratório de formação de educadores da rede municipal na 33ª Bienal de São Paulo
Imagem: Ilana Bar / Estúdio Garagem / Fundação Bienal de São Paulo

Já a Bienal seguinte, a 33ª, de 2018, propôs uma reflexão sobre como o boom dos smartphones e das redes sociais estavam interferindo no nosso modo de viver, nos tornando mais dispersos, tendo a atenção desviada a cada notificação do celular e até mesmo nos afastando de pessoas e dos momentos. Para ajudar a resgatar o foco do visitante, o educativo da Bienal elaborou um manual com dicas práticas, que diziam, por exemplo, para que o público começasse seu passeio pela exposição colocando o celular no modo avião. Ou que olhasse por cinco minutos inteiro para as obras.

Além de muita história e curiosidades, este episódio do podcast traz entrevistas com o artista Nuno Ramos, o executivo Heitor Martins, ex-presidente da Bienal e atual presidente do Masp (Museu de Arte de São Paulo), o curador Agnaldo Farias e a curadora Julia Rebouças.

No décimo episódio, o podcast trará respostas para perguntas do público sobre arte e o evento. Mande sua dúvida para o email Bienal70@bienal.org.br, que ela pode ser respondida. Você pode ouvir Bienal, 70 Anos, por exemplo, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, Amazon Music no Youtube e também no site bienal.org.br/70anos.