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Bienal, 70 anos

A história dos 70 anos da Bienal de São Paulo, dividida por décadas


Bienal, 70 anos #5: Globalização, internet e antropofagia influenciaram arte nos anos 90

Do UOL, em São Paulo

31/07/2021 04h01

O quinto episódio do podcast "Bienal, 70 anos" conta como a globalização afetou as bienais e traz histórias sobre a ousada ideia de introduzir o conceito de antropofagia na arte contemporânea. Com apresentação de Marina Person, o podcast — uma coprodução do UOL e da Fundação Bienal de São Paulo— tem dez episódios. As publicações são sempre aos sábados, e você pode ouvir o quinto episódio na íntegra no arquivo acima.

O panorama político e econômico no Brasil era de instabilidade. Apesar da democracia, o começo da década de 90 foi complicado no país. Fernando Collor, primeiro presidente eleito pelo voto direto após a ditadura militar, sofreu impeachment e a população tinha de lidar com a hiperinflação e o confisco da poupança. A situação começou a melhorar gradativamente a partir de 1994, com a chegada do plano Real.

Visitantes em exposição na 23ª Bienal de São Paulo Imagem: Autor desconhecido/Fundação Bienal de São Paulo/Arquivo Histórico Wanda Svevo

Na cultura, eram tempos superlativos. A 22ª edição, de 1994, contava com o maior número de países participantes até então: 70. Eram obras de mais de 200 artistas distribuídas por 27 salas especiais. Um dos destaques foi o artista russo Kazimir Malevich, um dos mais importantes pioneiros da arte geométrica abstrata. Apresentar sua obra pela primeira vez no Brasil foi um marco.

O núcleo histórico da exposição, aquele dedicado a obras já consagradas, contou com trabalhos de artistas renomados como Lucio Fontana e Diego Rivera. O primeiro ficou conhecido pelos rasgos que fazia em telas de uma cor só. Já Diego era admirado por seus murais que contavam a história do povo mexicano. Ele era também marido de Frida Kahlo, que hoje é uma das artistas mais conhecidas do mundo.

Nesta edição, brasileiros também foram destaque, como Hélio Oiticica, artista carioca que radicalizou a relação das obras com o público. Ele desenvolveu os penetráveis, espaços labirínticos onde o espectador entrava e passava por experiências sensoriais.

Era o caso de "Tropicália", estruturas de madeira cobertas por panos de diversas estampas e cores, que inclusive deram nome para o movimento cultural encabeçado por artistas como Caetano Veloso e Os Mutantes. Também foram exibidos os parangolés, objetos interativos que só se revelavam pelo movimento.

Visitantes na sala especial dedicada a Andy Warhol na 23ª Bienal de São Paulo Imagem: Autor desconhecido/Fundação Bienal de São Paulo/Arquivo Histórico Wanda Svevo

A Bienal seguinte, a 23ª, de 1996, ousou e propôs uma exposição que refletisse e inovasse a própria maneira de mostrar arte, mostrando assim um panorama global: era a Universalis. Para isso, foram chamados sete curadores, cada um responsável por uma região do mundo. O resultado foi bem inovador e apareceram artistas como Cai Guo Qiang, artista chinês que tornou-se conhecido por suas ambiciosas obras de pirotecnia, fazendo desenhos com pólvora e fogos de artifício.

Ao mesmo tempo que o Brasil passava por um momento confuso na economia e política, o mundo descobria uma nova forma de se comunicar, trabalhar e interagir dali por diante: com a internet. Esta "novidade" também chegava aos pavilhões da Bienal. O público percebia que já não era mais apenas um espectador das obras de arte, mas também um criador.

Um exemplo disso foi o trabalho do artista chileno Gonzalo Mezza na 23ª edição. Gonzalo apresentou uma obra que possibilitava a interação das pessoas que estavam em São Paulo, com outras do escritório dele, que ficava em Santiago, no Chile. Na obra interativa Mar.co.Sur, o público alterava, online, as imagens propostas pelo artista, modificando cores, formas e textos.

A artista nipo-brasileira Tomie Ohtake foi outro destaque do evento: ela apresentou uma escultura suspensa no vão do prédio, feita de ferros tubulares. Quem também chamou atenção com todo seu talento foi o carioca Waltercio Caldas, famoso pelas esculturas
vazadas, que pareciam desenhos feitos no ar.

Exposição na 24ª Bienal de São Paulo Imagem: Autor desconhecido/Fundação Bienal de São Paulo/Arquivo Histórico Wanda Svevo

Em 1998, a 24ª Bienal foi criada inspirada nos ideais do "Manifesto Antropófago", escrito pelo modernista Oswald de Andrade, em 1928, e por isso é conhecida como a Bienal da Antropofagia. Com curadoria geral de Paulo Herkenhoff, a edição misturou obras de artistas produzidas originalmente em tempos e espaços distantes, para gerar um encontro antropofágico.

As noções de canibalismo e antropofagia apareceram de diversas maneiras, entre elas, na instalação "Desvio Para o Vermelho", do carioca Cildo Meireles. Tratava-se de uma sala decorada apenas com objetos vermelhos, onde o público podia entrar e ficar imerso entre peças que iam desde corações e almofadas até manchas de sangue.

Exposição na 24ª Bienal de São Paulo Imagem: Autor desconhecido/Fundação Bienal de São Paulo/Arquivo Histórico Wanda Svevo

Outra carioca, a artista Adriana Varejão, conhecida por obras que misturam azulejos portugueses com carne e sangue, apresentou "Tiradentes Esquartejado". Uma obra que envolveu o público, feita com vinte espelhos na parede, que refletiam partes do corpo e também refletiam uns aos outros.

Além de muita história e curiosidades, este episódio do podcast traz entrevistas com o curador Nelson Aguilar, a curadora Júlia Rebouças, o ex-presidente da Bienal Julio Landmann e a coordenadora de mediação da Bienal, Elaine Fontana.

No décimo episódio, o podcast trará respostas para perguntas do público sobre arte e o evento. Mande sua dúvida para o email Bienal70@bienal.org.br, que ela pode ser respondida. Você pode ouvir Bienal, 70 Anos, por exemplo, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, Amazon Music, no Youtube e também no site bienal.org.br/70anos.

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