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Ricardo Feltrin

REPORTAGEM

Exclusivo: TV de pastor é suspeita de destruir cartas judiciais

Pastor R.R. Soares em culto no Anhangabaú (SP) - Rivaldo Gomes/Folhapress-20.mar.2013
Pastor R.R. Soares em culto no Anhangabaú (SP) Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress-20.mar.2013

Colunista do UOL

01/10/2022 00h09

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A RIT TV e a FIC, entidades de propriedade da Igreja Internacional da Graça, do pastor R. R. Soares, estão sendo investigadas pelo Ministério Público do Trabalho.

A suspeita é que as duas tenham destruído ou desaparecido com convocações judiciais enviadas aos seus funcionários.

Procurada, a FIC não quis se manifestar (veja ao final do texto).

As cartas eram de convocações para que funcionários depusessem como testemunhas em processos trabalhistas ou cíveis movidos por demitidos da FIC (Fundação Internacional de Comunicação) ou RIT TV.

As cartas não estavam nem sequer sendo respondidas e, quando os destinatários foram confrontados para explicar isso, disseram que jamais haviam recebido qualquer aviso de convocação. As cartas eram enviadas para a sede da FIC.

O caso que deflagrou a investigação começou com uma ação por injúria racial movida este ano por um rapaz de 19 anos. Ele foi contratado pela RIT TV, mas acabou demitido no mesmo dia.

Preto e pobre

Segundo ele, a demissão foi causada por causa das roupas que vestia (jeans com rasgos, camiseta etc) e por ser preto.

Mal chegou para trabalhar, disse, e já foi dispensado pelo chefe sob impropérios racistas.

O fato é que a emissora do pastor R.R. Soares já está sofrendo outras acusações do mesmo tipo: homofobia, gordofobia, racismo e assédio moral, entre outras denúncias. Há outros processos na Justiça em andamento.

Como esta coluna publicou na semana passada, a Justiça do Trabalho determinou que a RIT e a FIC se abstenham de continuar essas práticas sob risco de multa diária de R$ 30 mil, mais R$ 1.000 por cada denúncia.

O rapaz afirmou à Justiça não só ter sido demitido com ofensas racistas, mas que tinha testemunhas.

A coluna obteve um áudio trocado entre dois funcionários da fundação no momento em que a demissão está acontecendo.

No áudio, o interlocutor afirma estar pasmo com a forma como o rapaz acaba de ser dispensado. "Nunca vi nada parecido", diz em mensagem de Whatsapp a outra pessoa.

Diz ainda que o rapaz está chorando de soluçar "lá no RH" e que "ninguém lá sabe o que fazer".

No fim, vários funcionários que presenciaram a cena deram apoio ao demitido, alguns dizendo que, se ele precisasse de testemunhas, estariam dispostos a depor.

Cartas evaporaram

Assim que a ação começou na Justiça, funcionários da RIT e da FIC começaram a ser notificados a comparecer como testemunhas do demitido. Só que ninguém apareceu.

Uma investigação prévia foi feita e constatou que todas as intimações haviam sumido, apesar de todas terem o registro de que foram recebidas pelas "empresas" de R.R. Soares.

Outro lado

Procurada para se manifestar sobre o assunto, a coluna recebeu a seguinte resposta:

"A FIC, por orientação de seu departamento jurídico, não comenta processos judiciais em andamento."

Não há previsão para o desfecho desse caso.

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