Topo

Cantor de 'I Believe I Can Fly', R. Kelly começa a ser julgado sobre acusações de 1994 a 2018

O cantor americano R. Kelly - Scott Olson/Getty Images/AFP
O cantor americano R. Kelly Imagem: Scott Olson/Getty Images/AFP

Da AFP, em Nova York

06/08/2021 12h26Atualizada em 06/08/2021 12h26

A seleção do júri para o julgamento em Nova York da estrela da música R&B R. Kelly, acusado de abuso sexual em vários estados dos EUA, começará na segunda-feira (9), após mais de um ano de atraso pela pandemia da covid-19.

Kelly, de 54 anos, enfrenta acusações em um tribunal no Brooklyn, que incluem crime organizado, exploração sexual de menor, sequestro, suborno e trabalho forçado.

Os fatos, pelos quais ele é acusado, vão de 1994 a 2018. O músico, atualmente encarcerado em uma prisão federal no Brooklyn, declara-se inocente de todas as acusações.

Após a seleção do júri, os testemunhos devem começar em 18 de agosto.

Por décadas, Robert Sylvester Kelly, seu nome verdadeiro, enfrentou acusações incluindo pornografia infantil, sexo com menores, exploração de um culto sexual e agressão sexual.

Mas, apesar da grande quantidade de denúncias perturbadoras e de vários acordos extrajudiciais, o cantor conhecido por sucessos como "I Believe I Can Fly", "Bump 'N Grind" e "Ignition (Remix)" mantém um exército de fãs leais e continuou em turnê ao redor do mundo.

Sua força começou a desmoronar em janeiro de 2019, porém, após o lançamento da explosiva série "Surviving R. Kelly", que revisitou a história do astro do R&B.

Em fevereiro de 2019, os promotores do estado de Chicago apresentaram contra ele dez acusações de abuso sexual agravado contra quatro mulheres. A mais jovem delas tinha 14 anos no momento dos supostos crimes, que teriam ocorrido de 1998 a 2010.

Vários meses depois, os promotores federais de Illinois indiciaram-no por quatro acusações de pornografia infantil, e outras cinco, por incitar uma menor a se envolver em atividades sexuais delitivas.

Os promotores dizem que Kelly filmava o sexo com menores e pagou potenciais testemunhas por seu silêncio em seu julgamento de 2008. Nele, foi absolvido das acusações de pornografia infantil.

Em Nova York, primeiro estado onde Kelly será julgado em conexão com a recente série de acusações, o músico é acusado de abusar de seis mulheres, cujas identidades são anônimas.

Acredita-se que Jane Doe #1, conforme identificada nos documentos judiciais, seja a cantora Aaliyah, que morreu em um acidente de avião, aos 22 anos, em 2001.

A acusação alega que Kelly pagou um funcionário do governo de Illinois, em 1994, para obter uma identidade falsa para se casar com uma menina menor. Kelly se casou com Aaliyah quando ela tinha 15 anos, e ele, 27, uma união que mais tarde foi anulada.

'Chegou a hora'

R. Kelly - Reprodução - Reprodução
O músico, rapper e compositor R. Kelly afirma que é inocente
Imagem: Reprodução

A acusação de Nova York detalha denúncias de que Kelly operava uma rede criminosa que recrutava e preparava mulheres jovens, de forma sistemática, para fazer sexo com ele.

De acordo com a denúncia, elas eram trancadas em seu quarto de hotel quando ele estava em turnê, instruídas a usar roupas largas quando não estavam com ele, a "manterem a cabeça baixa" e a chamarem o cantor de "papai".

Muitas das "recrutas" tinham menos de 18 anos, afirmam os promotores, que, entre outras acusações, dizem que Kelly incitava o sexo sem revelar uma infecção sexualmente transmissível de que sofria.

A acusação também diz que parte do trabalho da rede era isolar meninas e mulheres e torná-las "dependentes de Kelly para seu bem-estar financeiro".

Os juízes federais em Chicago e em Nova York negaram liberdade sob fiança a Kelly, alegando risco de fuga, perigo para a comunidade e possibilidade de manipulação de testemunhas.

Além de seus dois casos federais e da acusação federal de Chicago, Kelly enfrenta acusações estaduais em Minnesota.

"Nunca vi ninguém enfrentar quatro processos em quatro jurisdições diferentes ao mesmo tempo", afirmou a advogada Gloria Allred, que representa três das supostas vítimas citadas no caso de Nova York.

As acusações são muito poderosas, muito perturbadoras. Para dizer o mínimo, será um verdadeiro desafio para a defesa. Gloria Allred

Kenyette Barnes, cofundadora do movimento #MuteRKelly, está otimista e confia em que Kelly será condenado. Para ela, isso dará às supostas vítimas uma chance de começarem a "se curar".

Em comparação com sua absolvição em 2008, Barnes afirmou, na quinta-feira, que "há um esforço concentrado para remover as camadas, desarmar a boneca russa que Robert Kelly é", disse à AFP.

"Chegou a hora das sobreviventes de R. Kelly", completou.