Conteúdo publicado há 7 meses

Sophie Charlotte e o desafio de levar a 'complexa e profunda' Gal ao cinema

O Plano Geral traz uma conversa com Sophie Charlotte e as diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi, de "Meu Nome É Gal", um dos filmes brasileiros mais aguardados do ano, onde a atriz está no papel de uma das maiores cantoras que o Brasil já teve.

Para contar a história de Maria da Graça Costa Penna Burgos, Dandara, Lô (que assina o roteiro final) e as roteiristas Maíra Buhler e Mirna Nogueira optaram por não filmar uma cinebiografia clássica, contando do começo ao fim da vida de Gal, que faleceu em novembro de 2022.

Em vez disso, optaram por concentrar a trama em um dos momentos mais decisivos da vida da cantora e também do Brasil contemporâneo. Acompanhe os comentários de Thiago Stivaletti e Flavia Guerra.

Com estreia nos cinemas do Brasil em 12 de outubro, "Meu Nome é Gal" traz a trajetória da tímida Gracinha, como era chamada em 1967, quando ela decide deixar Salvador e ir em busca de sua carreira no Rio de Janeiro, até o momento que se consagra como uma das maiores artistas brasileiras, no início dos anos 1970.

Plano Geral entrevista Sophie Charlotte e as diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi, de "Meu Nome É Gal"
Plano Geral entrevista Sophie Charlotte e as diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi, de "Meu Nome É Gal" Imagem: Reprodução/Youtube

Entre suas conquistas, o movimento Tropicalista, as parcerias com Caetano Veloso, Gilberto Gil, a amizade com Maria Bethânia e com Dedé Gadelha— mulher de Caetano e também grande figura do Tropicalismo, Gal e tantos artistas brasileiros enfrentavam o acirramento da Ditadura Militar, que vivia seus anos mais duros, com prisões, torturas, e exílios.

O recorte que elas fizeram da Tropicália é um grande acerto. Esta energia da turma, do quanto de amor era necessário para que aquela turma de artistas pudessem resistir e continuar criando é linda de ser vista na tela. Flavia Guerra

Já Thiago acrescenta que o espectador acompanha Caetano, Gil, Gal, Maria Bethânia, além dos outros tropicalistas, em um momento em que eles se posicionam na juventude, em que a Ditadura marca profundamente a vida deles.

Gil e Caetano vão para o exílio em Londres e Gal fica no Brasil, como a grande voz do Tropicalismo. O filme deixa muito claro como foi um período decisivo, de muito pânico também. É fácil olhar hoje e achar que os grandes da MPB brasileira já tinha a vida ganha, mas vemos que eles correram grandes riscos, Gal podia ter sido tolhida e, graças a Deus, isso não aconteceu. Thiago Stivaletti

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Celebrando a jornada

Sophie Charlotte observa que, em seu processo de criação, seu interesse era trazer para as telas um pouco da doçura, do afeto, da simplicidade de Gal em sua vida particular e, ao mesmo tempo, trazer a subjetividade e a potência e a revolução que a gente vê no palco.

Trazer tudo isso, respeitosamente. Uma personagem complexa e profunda porque quando eu olhava para a Gal, quando a via, ela tinha um mar no olho, tinha a profundidade de uma vida bem vivida. A gente queria contar isso com muito respeito e muita alegria. Contar esta juventude dela. Fizemos, nós todos da equipe e do elenco, para ela, para celebrar esta jornada. Sophie

Lô Politi observa que ela e Dandara queriam fazer um bom filme e não uma cinebiografia clássica: "A gente queria trabalhar os conflitos internos da Gal. A gente realmente fugiu bastante, o que justifica o recorte de tempo. A gente queria que o filme fosse potente do ponto de vista da dramaturgia, da narrativa e, sobretudo, da cinematografia", comentou a diretora e roteirista.

"Desde sempre, fazer este filme era um grande desafio. Mas sempre tive na cabeça que queria muito que tivesse a Tropicália. Primeiro pela paixão por tudo que aconteceu naquele momento, pelo entendimento da importância da Tropicália na nossa cultural e também por saber que naquele momento estava a transformação da Gal, como mulher, como artista. A gente não sabia como contar, mas sempre esteve o tropicalismo presente", completa Dandara.

"João Sem Deus - A Queda de Abadiania"

Plano Geral analisa "João Sem Deus"
Plano Geral analisa "João Sem Deus" Imagem: Reprodução/Youtube
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Thiago e Flavia também destacam a série "João Sem Deus - A Queda de Abadiania", que estreia dia 13, no Canal Brasil.

Inspirada em eventos reais, a série conta a história de duas irmãs que chegaram a Abadiânia 17 anos antes da prisão de João de Deus. Uma delas sai do país após os abusos sofridos, enquanto a outra se torna uma fiel funcionária do médium, afirmando que vivenciou o milagre da cura da irmã.

A trama se desenrola durante o reencontro das duas irmãs, que culmina em um surpreendente plot twist.

"João sem Deus" consegue condensar em três episódios, três arquétipos de mulheres que foram atacadas e violentadas por ele: a adulta, a adolescente e as mulheres que trabalharam com ele a vida toda sem perceber nada, analisa Thiago sobre a série, a primeira coprodução internacional independente no Brasil e em Portugal, de Ventre Studio, Canal Brasil, Coral Europa e TVI.

Dirigida por Marina Person, "João sem Deus" conta com o ator Marco Nanini no papel de João de Deus, e um elenco com nomes fortes como: Bianca Comparato, Karine Teles, Antonio Saboia e as atrizes portuguesas Ana Sofia Martins e Dalila Carmo.

Festivais 2023

Plano Geral traz ainda os principais destaques do Festival do Rio 2023, que ocorre até o próximo domingo, e adianta alguns destaques da Mostra de Cinema de São Paulo, que começa no dia 19 de outubro e segue até 1 de novembro.

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"Anatomia de uma Queda" é o filme de abertura da Mostra para convidados, no dia 18. Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes 2023, o longa investiga não a queda do marido de um casal, que morre misteriosamente após cair de uma sacada da casa em que mora com a mulher e o filho nos alpes franceses.

O longa de Justine Trier vai além e também investiga a decadência do próprio relacionamento e de como o machismo estrutural faz com que a mulher, vivida pela alemã Sandra Hüller, seja réu desde o primeiro momento e tenha seu próprio modo de vida em questão durante o julgamento.

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