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OPINIÃO

'Barbie' é sobre amar mulheres - o que, obviamente, incomoda machistas

Barbie: união entre mulheres salva a Barbielândia - Divulgação
Barbie: união entre mulheres salva a Barbielândia Imagem: Divulgação

De Splash, em São Paulo

26/07/2023 04h00

Eu comecei a me identificar como feminista aos 15 anos, quando nem sabia direito o que essa palavra significava. Hoje tenho 25, e confesso que ainda me pego confusa sobre qual deve ser o meu comportamento como uma mulher feminista.

Nesses 10 anos, tivemos poucos avanços no campo político. De cabeça, o que mais me marcou como conquista do movimento feminista foi a tipificação do feminicídio. Na prática, o crime ganhou nome e tipificações que aumentam a pena quando o assassinato de uma mulher é ainda mais trágico. Mas o mais relevante, o número de assassinatos de mulheres, segue crescendo a cada ano.

As discussões sobre o papel da mulher enquanto mãe, filha, namorada, esposa, etc. são literalmente infindáveis. O tópico "mulher deve pagar a conta no primeiro encontro?" se tornou tão esmiuçado nas redes sociais no último ano que a essa altura já devem estar sendo realizados ao menos três mestrados sobre o assunto nas universidades.

Pago a conta no primeiro encontro? Uso essa roupa transparente hoje? Tomo atitude ao me relacionar com um homem? Falo de sexo abertamente? Digo que ainda não sei se quero ser mãe? São questões que nós, mulheres, nos fazemos com uma frequência maior do que gostaríamos. Teoricamente, avançamos o suficiente para poder fazer tudo isso tranquilamente. Na prática, precisamos tomar cuidado, porque podemos ser taxadas de vagabundas para baixo.

Eu sei que isso parece Introdução ao Feminismo Liberal — como tanto gostamos de apontar, mas a verdade é não existe um consenso. Anos depois, ainda cambaleamos entre o "meu corpo, minhas regras" e "essa [insira o nome de qualquer artista brasileira que dance com uma roupa que mostre a bunda] está reforçando a objetificação feminina!"

Parece que o patriarcado consegue se apoderar de tudo que foi considerado, pelo menos por um segundo, vitória das mulheres. Poder trabalhar virou jornada dupla de trabalho, "liberdade sexual" se torna objetificação sexual (e é daí para baixo) e tudo ainda é uma falácia, já que não estamos realmente livres, nem seguras.

O que eu faço como feminista? O que posso fazer para tornar o mundo melhor para mim e para outras mulheres?

Já tem um tempo que eu não tenho a mínima ideia de responder essa pergunta além de pensar em amar outras mulheres. Aqui eu digo no sentido fraterno (o que não exclui outras formas de amar mulheres).

Amar minhas amigas, as mulheres da minha família. Tentar entendê-las, não julgá-las. Dar um conselho, avaliar o homem com quem ela se relaciona, fazer ela enxergar que é bonita, cuidar de um bebê enquanto uma mãe precisa fazer algo importante.

Para mim, "Barbie" traz essa mensagem mais clara do que nunca. Em uma das últimas cenas, quando ela escolhe seu destino, vemos um pequeno compilado que mostra tanto da parte mais bonita do universo feminino: cuidado, carinho, felicidade, amor e amizade.

O monólogo de Gloria (America Ferrera) é o resumo do resumo do que pensamos e vivemos diariamente. Tinha como ser mais didático e menos "raso"? Talvez, mas poderia atingir menos pessoas menos familiarizadas com tantos conceitos que podem ser complicados. Um filme de menos de duas horas também não faz milagre.

No final, as Barbies celebram a vitória. Como é bom conseguir coisas juntas. Como é boa a união entre nós. Como é bom ser uma mulher e amar outras mulheres.

Infelizmente, não é de se estranhar que haja tantos homens incomodados com o filme. Para muitos, é impossível entender o que significa amar uma mulher de verdade. Ainda mais num sentido não sexual.

Pelo menos por enquanto, vou tirar um descanso do meu questionamento eterno sobre o que é ser feminista — e em qual vertente eu me encaixo mais. Com tanta emoção por um filme cuja protagonista é símbolo do sucesso capitalista, já não faço ideia.