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Matuê conta por que abandonou trap ostentação: 'Passar uma mensagem'

Felipe Brandão

Colaboração para Splash

24/05/2023 04h00

O cantor Matuê, 29, deixou para trás os tempos de trap ostentação - gênero que o ajudou a se consagrar desde o início da carreira, em 2015 — e agora procura imprimir uma pegada mais crítica e reflexiva a seu repertório musical.

Tamanha mudança é fruto de um processo de autodescoberta que ele vem trilhando há cerca de dois anos. "Estive em busca de uma motivação, uma missão de vida, uma mensagem que eu quisesse passar. Entendi a responsabilidade que tenho em relação ao meu público e resolvi abraçá-la de coração aberto", conta Matuê ao jornalista Zeca Camargo, no programa Splash Entrevista.

A insatisfação com tudo o que já havia conquistado foi o ponto de partida para essa jornada acontecer. "Cuido da minha família inteira - de várias famílias, na verdade - e achava que isso ia fazer me sentir completo, mas em dado momento vi que não era isso. Aí fui buscar algo mais profundo."

Matuê acredita ter achado o que procurava. "Posso dizer que meus valores mudaram. Eu entregava aquilo que eu achava que a cena ia receber, [mas] já não me sentia compatível com aquilo que eu estava falando. Achei uma maneira de entregar algo impactante, mas passando uma outra mensagem, passando uma coisa mais de reflexão, que pudesse fazer a pessoa pensar."

Hoje, o trapper afirma viver uma nova fase. "Prefiro passar não a ostentação sem fundamento, mas a sensação de realização e conquista. A base do que estou tentando fazer agora é mudar um pouco a mente dos meus ouvintes e fazer realmente eles pensarem, enxergarem valor em outras coisas."

Influência cinematográfica

Uma das principais canções de Matuê nesta nova pegada é "Conexões de Máfia", cuja letra lança um olhar crítico sobre o sentimento de vingança e suas consequências.

O clipe transporta a narrativa da letra para o universo gângster - ideia que o cantor importou do cinema, uma paixão pessoal sua. "Sou cinéfilo. Amo filmes e gosto dos clássicos. Dificilmente vai ter um filme icônico a que eu não tenha assistido. Já tinha assistido a 'O Poderoso Chefão', 'Os Intocáveis', 'Scarface'..." cita ele como referências.

Ele explica, entretanto, que sua ideia inicial para o vídeo não era exatamente essa. "A gente ia fazer um clipe baseado na guerra das espadas, que acontece no interior da Bahia. Queria fazer algo dentro desse contexto, mas acabou que essa ideia ficou um pouco intangível, e decidi guardá-la para outra oportunidade."

Ver para ouvir

Conexões de Máfia resgata outro aspecto importante da obra de Matuê: o forte apelo visual. "A gente tenta criar extensões da arte, tanto no visual quanto em tudo o que agrega em volta do projeto. A música é o ponto central, vamos dizer, mas as extensões criativas que eu uso na minha cabeça eu vou viajando no máximo possível."

Esse aspecto de seu repertório, ele destaca, vai, no entanto, além da interação música-clipe. "O próprio marketing do projeto às vezes tem um quê artístico - o jeito que a gente faz o lançamento, o contexto em que tudo acontece... É sempre um contexto artístico, e algo que tem a ver com a história da música."

Parceria internacional

Conexões de Máfia também permitiu a Matuê estabelecer pela primeira vez uma parceria musical com um artista estrangeiro: o rapper norte-americano Rich the Kid.

A ligação entre os dois se deu dois anos atrás, quase por acaso. "Ele entrou em contato comigo, depois de ouvir uma música minha numa festa em Dubai. Eu já tinha essa música em mãos - tinha feito ela três ou quatro dias antes - e mandei para ele."

Para Matuê, a parceria saiu do papel na hora exata em que devia sair. "Nesse período de dois anos, a gente ficou praticamente, mês após mês, tentando tirar visto e não conseguia... Diria que alguma coisa estava estranha no universo."