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Chico Pinheiro diz por que saiu da Record após bispo chutar santa em 1995

Chico Pinheiro falou sobre sua demissão da Record - Reprodução
Chico Pinheiro falou sobre sua demissão da Record Imagem: Reprodução

Colaboração para Splash, em São Paulo

20/04/2023 22h21

O apresentador Chico Pinheiro, 69, relatou os bastidores de sua passagem relâmpago pela Record em 1995, quando foi demitido ao desafiar a Igreja Universal do Reino de Deus no episódio em que o bispo da igreja Sérgio Von Helder gerou revolta ao chutar uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.

Pinheiro contou que havia assinado um contrato de quatro anos para ser o diretor nacional de jornalismo da Record, em que ficou estipulado que a Universal não poderia interferir nas decisões editoriais jornalísticas da emissora. Entretanto, seis meses depois ele foi demitido ao relutar em exibir um posicionamento do bispo Edir Macedo sobre o polêmico episódio, sem que houvesse o contraponto do cardeal da Igreja Católica do Rio de Janeiro.

Chico Pinheiro lembrou que deu-se início a "uma guerra santa" porque a Globo e a Band começaram a reproduzir essa imagem e "bater duro na Record". O chefão de programação da emissora então o chamou e disse que precisaria rebater uma matéria do Fantástico sobre o ocorrido, com a mesma fala que Edir Macedo enviou para a reportagem da Globo, com quase 10 minutos. Chico, porém, pontuou que não colocaria o Macedo no jornal porque não deixaria a Universal interferir no jornalismo.

"Respeito o bispo Macedo, mas no jornal não, porque se vocês botarem o bispo Macedo no jornal, vocês vão esculhambar o jornalismo, vira um jornal acessório da igreja", falou no podcast Inteligência Ltda.

Posteriormente, com muita cobrança e pressão, Pinheiro disse ter imposto uma condição para exibir a fala de Edir Macedo: a de que o cardeal da Igreja Católica do Rio também pudesse comentar o episódio de forma que fossem ouvidos os dois lados.

Ele lembrou que pediu para a diretora de jornalismo do Rio gravar uma coletiva do cardeal em que o líder católico comentava o pedido de perdão do Macedo exibido no Fantástico, mas um bispo da Universal teria proibido a equipe de ir gravar e deu desculpas de problemas técnicos.

"Eu fui pra minha sala, tinha um pessoal editando as matérias, na hora que passei vi o cardeal falando numa ilha [de edição]. Falei: 'o que é isso?' O editor de imagens falou: 'isso é a entrevista que o cardeal deu hoje, a igreja mandou gravar, porque vai ter uma reunião de bispos e pastores e eles vão assistir isso aqui'. Falei: 'tira uma cópia pra mim que eu quero ver'. O cara tirou uma cópia, me deu, fui pra minha sala", declarou.

Em seguida, Chico Pinheiro avisou ao diretor da Record que colocaria a fala do Macedo no ar, mas ressaltou que em seguida colocaria a declaração do cardeal, e novamente tentaram impedi-lo.

"Montei as duas coisas: primeiro o Edir Macedo, depois o cardeal, que dizia ser inaceitável o pedido de perdão pela agressão contra Nossa Senhora de Aparecida", recordou.

Antes de entrar ao vivo, Chico disse ter alertado a direção para o fato de que caso tentassem censurá-lo ele tornaria o caso público. "Avisei: 'se este VT não rodar, vou dizer no ar 'acabo de ser censurado pela Igreja Universal' e vou botar pra quebrar'".

"Outra coisa, se vocês rodarem o Edir Macedo e me tirarem do ar, eu vou sair desse estúdio vou lá pra porta, porque já avisei colegas jornalistas que estão querendo notícia sobre isso e vou denunciar a molecagem que a Igreja Universal está fazendo com a empresa", continuou.

Chico Pinheiro contou que quando a matéria entrou no ar a redação aplaudiu de pé, por ter sido "uma vitória do jornalismo". Quando o telejornal acabou ele foi para a sala dele e recebeu uma ligação do então presidente da Record, que também era bispo.

"Aí vem ele com a voz macia: 'irmão estou ligando pra agradecer você por ter feito um grande trabalho pelo jornalismo que estamos querendo construir. Se você não tivesse forçado pra colocar isso no ar iríamos ficar com a imagem de parciais, então acho que foi muito bom'. Eu agradeci, fui pra casa", relatou.

No dia seguinte quando cheguei na minha sala na redação, tinham duas seguranças na porta e o cara do RH, ele falou: 'o senhor não pode entrar a sala está lacrada'. Sai da Record escoltado, o pessoal da redação assustado".

Naquele momento, Chico Pinheiro compreendeu que havia sido demitido por ter desafiado determinações de bispos da Universal. O apresentador recolheu suas coisas, foi embora e depois processou a Record. Ele venceu a emissora na Justiça por quebra de contrato.