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Jerry Lee Lewis afundou carreira em ascensão ao casar com prima de 13 anos

O cantor Jerry Lee Lewis - Paul Natkin/WireImage
O cantor Jerry Lee Lewis Imagem: Paul Natkin/WireImage

De Splash, em São Paulo

28/10/2022 16h57Atualizada em 28/10/2022 19h03

O cantor e pianista Jerry Lee Lewis morreu hoje, aos 87 anos. A informação foi confirmada pelo agente do artista, Zach Farnum.

O astro ficou famoso por sucessos como "Great Balls of Fire" and "Whole Lot of Shakin' Going On". Suas apresentações cheias de energia, em que tocava piano com os cotovelos e os pés, lhe renderam o apelido de "The Killer" ("o matador", em tradução livre).

Uma polêmica, porém, afundou sua carreira no rock. Aos 22 anos, ele se casou com Myra Gale Brown, sua prima de 13 anos. O músico só encontrou sucesso novamente anos depois, ao investir na música country.

Infância e descoberta do piano

Jerry Lee Lewis nasceu no dia 29 de setembro de 1935 em Ferriday, uma pequena cidade no estado da Louisiana, nos Estados Unidos. Filho de uma família pobre, se interessou pelo piano influenciado por um primo mais velho, Carl McVoy.

A aptidão com as teclas levou ele, ainda adolescente, a tocar em bares e pequenos eventos da região em que morava. Religiosa, sua mãe o inscreveu em um instituto religioso para que Lewis direcionasse o talento à música gospel.

A passagem pelo Southwest Bible Institute, no Texas, porém, não durou muito.

"Eu não me formei. Eu fui expulso. Me pediram para sair depois de eu tocar uma versão boogie-woogie, rock'n'roll, de 'My God Is Real'. Eu imaginava que aquela era a forma como a música deveria ser tocada", contou ele, em entrevista ao New York Times em 2006.

Ele continuou na estrada, tocando de forma independente, sem muito sucesso, ao lado do pai. Até que, com o dinheiro que os dois conseguiram juntar, Lewis foi aos estúdios da gravadora Sun Record, em Memphis, no Tennessee (EUA).

Início da carreira

Em 1956, Lewis chegou à Sun Records e apresentou sua versão de "Crazy Arms", de Ray Price. Foi contratado pela gravadora e, além de músicas solo, passou a tocar piano em gravações de artistas como Carl Perkins e Billy Lee Riley.

Em dezembro daquele ano, a Sun Records gravou uma sessão musical informal entre Lewis, Elvis Presley, Johnny Cash e Carl Perkins. O encontro foi lançado em forma de disco com o nome "Million Dollar Quartet". Nos anos seguintes, o quarteto se reuniu e, após a morte de Elvis, passou a incluir também o cantor Roy Orbison.

Em 1957, Jerry Lee Lewis lançou seus primeiros grandes sucessos: as músicas "Whole Lot of Shakin' Going On" e "Great Balls of Fire". Esta última fez sucesso na trilha sonora do filme de rock'n'roll "Jamboree" (1957) e, mais tarde, marcou a franquia "Top Gun" (1986).

Queda após casamento com a prima

A carreira em ascensão de Jerry Lee Lewis foi interrompida por uma grande polêmica. Em 1958, quando Lewis chegava a Londres para uma turnê pelo Reino Unido, um jornalista descobriu que o músico havia se casado com sua prima Myra Gale Brown, de apenas 13 anos.

A menina era filha de J. W. Brown, primo de Lewis e baixista da banda do cantor. Questionado pela imprensa, Lewis, que tinha 22 anos, alegou que a menina tinha 15 anos. Ela, porém, revelou sua verdadeira idade quando perguntada por um repórter.

A controvérsia agitou a mídia e o público, e a turnê britânica foi um fracasso. Os espectadores vaiavam Lewis no palco, e o músico fez apenas três apresentações das 27 que estavam programadas.

Carreira de Jerry Lee Lewis afundou após casamento com a prima, Myra Gale Brown, de 13 anos - Reprodução - Reprodução
Carreira de Jerry Lee Lewis afundou após casamento com a prima, Myra Gale Brown, de 13 anos
Imagem: Reprodução

Depois disso, sua carreira nunca mais foi a mesma.

Jerry Lee Lewis e Myra Gale Brown se divorciaram em 1970. Eles tiveram dois filhos: Steven Allen, que morreu aos 3 anos de idade, e Phoebe Allen Lewis, de 59 anos, que administrou a carreira do pai até 2012.

"Eles estavam procurando uma forma de enfiar uma faca no rock'n'roll. E Jerry deu isso a eles — bem, eu dei. Eu abri minha boca. Foi isso que aconteceu", disse Myra, em entrevista de 2014.

No total, Jerry foi casado sete vezes ao longo de sua vida e teve seis filhos.

Do rock ao country

Em 1963, seu contrato com a Sun Records chegou ao fim e ele foi contratado pela Smash Records. Após a polêmica do casamento com Myra, Lewis perdeu o sucesso comercial. A exceção foi o disco "Live at the Star Club, Hamburg", lançado em 1964, considerado pela crítica especializada um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos.

Sem notoriedade no rock, Lewis decidiu seguir para o country em 1968. Sua regravação de "Another Place, Another Time", de Jerry Chesnut, foi um sucesso nas paradas do gênero e a carreira de Lewis ganhou força novamente.

Entre 1968 e 1977, o músico emplacou 17 músicas nas paradas country, quatro delas atingindo o topo.

Tragédias familiares e prisões

O músico teve uma vida turbulenta, marcada por uma batalha contra o vício em drogas e álcool, além de problemas financeiros.

Em 1973, seu filho Jerry Lee Lewis Jr. morreu aos 19 anos em um acidente de carro. Em 1976, ele atirou acidentalmente no peito de seu baixista, Norman Owens, que sobreviveu e processou o cantor.

Ainda naquele ano, Lewis foi preso na porta da casa de Elvis Presley. Bêbado, jogou seu carro contra os portões do "rei do rock" enquanto portava uma arma e exigia falar com o artista, que morreu meses depois. Ele foi preso por embriaguez em público na ocasião.

Quase morreu em 1981, após sangramentos internos e uma lesão no estômago. Durante a vida, passou várias vezes por hospitais e centros de reabilitação.

Duas de suas mulheres morreram de forma trágica: Jaren Pate, a quarta esposa, se afogou na piscina de um amigo em 1982. A quinta, Shawn Michelle Stephens, morreu de overdose em 1983.

Em 2017, cortou relações profissionais e processou a própria filha, Phoebe Lewis, e o marido dela, Zeke Loftin, alegando que ela devia a ele "uma grande quantia de dinheiro".

Filme biográfico e legado

Em 1989, o filme "A Fera do Rock" colocou Jerry Lee Lewis sob os holofotes novamente. Baseado em um livro escrito por Myra Gale Brown, o longa-metragem levou às telas o polêmico casamento do cantor, com Dennis Quaid e Winona Ryder nos papéis principais.

Lewis ganhou quatro Grammys, incluindo um Grammy Lifetime Achievement Award e dois Grammy Hall of Fame Awards. Ao longo da carreira, gravou mais de 40 álbuns e entrou no Hall da Fama do Rock em 1986 — sendo um dos primeiros a receber a honraria.

Seu último álbum de estúdio, "Rock & Roll Time", foi lançado em 2014, com músicas de Johnny Cash e Chuck Berry e a participação de lendas do rock como Neil Young e Keith Richards.

Em 2020, foi feita uma transmissão ao vivo em comemoração aos 85 anos de Lewis. Participaram artistas como Willie Nelson, Elton John, Priscilla Presley, Chris Isaak. O ator John Stamos ficou responsável pela apresentação.

Neste ano, foi lançado o documentário "Jerry Lee Lewis: Trouble in Mind", do diretor Ethan Coen. A produção — que vem sendo aclamada — conta a história de vida do músico.

Morte

Em 2019, Jerry Lee Lewis teve um derrame, mas conseguiu se recuperar totalmente e retornar à música.

Sua última aparição foi na semana passada, por meio de uma publicação no Instagram. Lewis lamentou que uma gripe o impossibilitou de estar presente na premiação do Country Music Hall of Fame e exibiu aparência frágil em uma fotografia.

"É com profunda tristeza e decepção que escrevo para vocês hoje da minha cama doente, em vez de poder compartilhar meus pensamentos pessoalmente. Tentei tudo o que pude para ganhar forças para vir hoje - esperei tanto por isso desde que soube a respeito no início deste ano. Minhas sinceras desculpas a todos vocês por perderem este belo evento, mas espero vê-los em breve", disse.

Ele morreu no dia 28 de outubro em sua casa em DeSoto County, Mississippi, aos 87 anos. A causa da morte não foi revelada.

"Judith, sua sétima esposa, estava ao seu lado quando ele morreu em sua casa no condado de Desoto, Mississippi, ao sul de Memphis. Ele disse a ela, em seus últimos dias, que dava boas-vindas ao futuro e que não tinha medo", diz o comunicado divulgado à imprensa americana.