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Há 10 anos, 'Avenida Brasil' mudou agenda de Dilma e gerou alerta de apagão

Adriana Esteves (Carminha) e Débora Falabella (Nina/Rita) em cena de "Avenida Brasil" (2012) - Reprodução
Adriana Esteves (Carminha) e Débora Falabella (Nina/Rita) em cena de "Avenida Brasil" (2012) Imagem: Reprodução

De Splash, em São Paulo

19/10/2022 04h00

O último capítulo da novela "Avenida Brasil", escrita por João Emanuel Carneiro, foi ao ar pela primeira vez há exatos dez anos na TV Globo e prendeu a atenção do público em todo o país.

O fim da trama registrou importantes números de audiência, impactou a movimentação em vias importantes de capitais, preocupou geradoras de energia e rendeu até uma decisão curiosa da então presidente Dilma Rousseff (PT).

A história que trazia como protagonistas Tufão (Murilo Benício), Carminha (Adriana Esteves) e Nina/Rita (Débora Falabella) já fazia sucesso com o público, mas ganhou ainda mais força após a morte de Max (Marcello Novaes).

Ruas vazias

Reportagens do "Jornal Nacional" exibidas em 19 e 20 de outubro mostraram fracas movimentações nas ruas antes, durante e depois do final de "Avenida Brasil".

O telejornal mostrou, ao vivo e em materiais gravados, poucos carros passando pela Marginal Tietê e avenida Paulista, em São Paulo, e pela avenida Brasil, uma das principais vias do Rio de Janeiro. Os locais são marcados pelo trânsito intenso, principalmente no início da noite.

Oito dias antes, a Marginal Tietê chegou a registrar 21,2 km de lentidão na pista local, sentido Ayrton Senna, entre 20h e 21h. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo.

Já na capital carioca, o jornal mostrou a concentração de pessoas no bairro da Lapa. O registro apresentou o local, famoso pela forte presença do público nos bares, lotado apenas em espaços que contavam com televisores ligados.

A reportagem também destacou a via W3 Norte, em Brasília, e a avenida Manoel Dias da Silva, em Salvador, praticamente vazias por conta da exibição do último capítulo.

Comício adiado

Na mesma data em que o último episódio de "Avenida Brasil" foi exibido, Dilma Rousseff (PT), então presidente da República, participaria de um comício em São Paulo.

O evento foi organizado em apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT), que então disputava o segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo contra José Serra (PSDB).

Dilma foi convencida a adiar o comício para a noite seguinte pela então coordenação da campanha na capital paulista, divulgou o jornal Folha de S. Paulo.

A conclusão foi que "ninguém iria ao comício", pois a maioria das pessoas ficaria em casa para ver o desfecho da trama, disse a publicação na época.

A decisão também repercutiu fora do país. O jornal britânico The Guardian afirmou que Dilma "preferiu não competir" com a audiência da trama.

O veículo britânico argumentou que o adiamento do comício fazia sentido por "Avenida Brasil" simbolizar a "ascensão de um grupo social que era pobre anteriormente e agora aparece entre o grupo de consumo mais poderoso do país".

"A 'classe C' do Brasil - como é categorizada - cresceu rapidamente em tamanho e influência na última década graças ao crescimento da economia brasileira, ampliação das linhas de crédito e esforços do governo para lidar com a desigualdade", analisou o jornal.

Possibilidade de apagão

Um dia antes da exibição do capítulo, a GloboNews divulgou que o ONS (Operador Nacional do Sistema) — responsável por coordenar a distribuição de energia — admitia preocupação com um possível apagão.

Na época, o jornal O Estado de S.Paulo explicou que o risco não se dava por conta do grande número de televisores ligados simultaneamente. O pico seria gerado logo após o fim do capítulo, quando um grande número de pessoas usaria a energia para outras atividades, como tomar banho, passar roupas ou utilizar a geladeira.

Mesmo antes do capítulo final, foi registrado um aumento súbito do consumo de energia em 5% logo após os capítulos de "Avenida Brasil".

A ONS recomendou a geração de uma folga de energia por parte dos operadores em todo o país. Não foram registrados apagões em grande escala após o término do capítulo.

Em números

Segundo os números do Ibope divulgados pela revista Época em 2012, o último capítulo de "Avenida Brasil" bateu 51 pontos de média, com 54 de pico e 72% de share — porcentagem de aparelhos ligados na TV Globo durante o horário de exibição.

Adriana Esteves (Carminha), Débora Falabella (Nina) e Marcello Novaes (Max) em cena de "Avenida Brasil"  - Raphael Dias/TV Globo - Raphael Dias/TV Globo
Adriana Esteves (Carminha), Débora Falabella (Nina) e Marcello Novaes (Max) em cena de "Avenida Brasil"
Imagem: Raphael Dias/TV Globo

O episódio final da novela ultrapassou a final da Libertadores entre Corinthians e Boca Juniors, que registrou 46 pontos de média e 71% de share na época, consolidando-se como principal audiência da TV no ano.

"Avenida Brasil" obteve 5,9 pontos a frente da novela anterior, "Fina Estampa" (2011), que registrou 45 pontos. Apesar do sucesso, o episódio final não bateu a marca de "A Favorita" (2009), que terminou com 55 pontos.

Posteriormente, "Avenida Brasil" também se tornou a novela mais exportada pela TV Globo. Segundo o Gshow, a obra já chegou a 148 países nos últimos dez anos.

Durante o último capítulo de "Avenida Brasil", Carminha confessa que matou Max. Após ser presa, a vilã volta a morar no lixão com Lucinda (Vera Holtz) e reencontra Nina.