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Estupro e sexualização no cinema: atriz de 'Beleza Americana' expõe traumas

Mena Suvari disse que passou a fazer uso de drogas após ter sido vítima de abuso sexual na adolescência - Reprodução
Mena Suvari disse que passou a fazer uso de drogas após ter sido vítima de abuso sexual na adolescência Imagem: Reprodução

De Splash, no Rio

28/07/2022 18h01

A atriz Mena Suvari, conhecida por filmes como "American Pie" e "Beleza Americana", sofreu uma série de abusos sexuais e psicológicos desde a adolescência. É o que a artista de 43 anos revelou no livro "The Great Peace: A Memoir" no ano passado.

Desde o lançamento do livro de memórias, ela conta detalhes de uma "vida oculta" que não aparecia à frente das câmeras enquanto era jovem. Sua história envolve estupro aos 12 anos, uso de drogas como refúgio, manipulação de ex para fazer ménage e sexualização do próprio corpo nos filmes.

Ela decidiu escrever o livro para desabafar sobre acontecimentos traumáticos de sua vida. "Eu precisava me expressar. Eu precisava limpar isso para seguir em frente... Eu queria muito deixar isso para lá", destacou a artista, que lançou o livro logo depois de dar à luz ao primeiro filho, Christopher.

"Descobri que estava grávida quando terminei de escrever o livro de memórias", lembrou ela, que intitula o filho nascido em abril de 2021 como um "presente", em entrevista à revista People.

Christopher é fruto do casamento de Suvari com Mike Hope, quem conheceu no set de filmagens de "I'll Be Home For Christmas." em 2016. "Foi a primeira vez que senti que queria ter uma família com alguém", disse ela sobre o marido. Eles se casaram em 2018.

Anteriormente, ela havia casado e se divorciado duas vezes. Esses relacionamentos foram marcados por episódios abusivos.

Violências

Em entrevista ao The Guardian, a atriz comentou que foi estuprada aos 12 anos por um amigo de um dos irmãos mais velhos. O jovem, identificado como KJ, a encorajou a fazer sexo e, depois, falou para colegas da escola que a menina era uma "prostituta".

Mena Suvari lembra que o momento foi traumático e perdeu as esperanças. "Isso me tirou a vida. Acho que foi apenas uma confirmação excessiva de que ninguém iria me salvar, ninguém faria nada por mim", confessou.

"Ele me usou, se divertiu comigo e depois se livrou de mim. Ele me chamou de p*ta. Eu nunca cheguei a ter uma expressão saudável de [sexo]. Minha escolha foi perdida. E isso, compilado com já não se sentindo visto e ouvido, estabeleceu um conceito que eu teria de mim mesmo. Que esse era o meu valor", afirmou à People em 2021.

Pouco tempo depois, aos 16, a artista viveu um relacionamento abusivo no qual era xingada e maltratada. Tyler, com quem ela foi casada dos 17 aos 20 anos, a pressionava para fazer sexo a três com outra mulher na casa do casal. "Lembro de pensar que talvez seja assim que as relações são: os gritos, o nome chamando, o abuso", diz ela. Senti como se tivesse trazido tudo de alguma forma. De KJ para Tyler, foi um processo de destruição", completou.

Para lidar com a situação, começou a usar drogas. "Eu não estava sendo amada. Eu era apenas um corpo, um receptáculo para seus desejos", pontuou ao The Guardian.

"Você perde sua cabeça com a metanfetamina, fica em uma zona diferente. E ela [a droga] era rotulada como a 'pior coisa do mundo', entretanto [prometiam] que ela faria você se sentir capaz de fazer qualquer coisa", relatou, pontuando que, naquele momento de sua vida, ela "sentia que não tinha nada a perder", disse ao programa "Good Morning America" em 2021.

Sexualização no cinema

Em 1999, a atriz estrelou outros dois longas ("American Pie" e "American Virgin") que tinham o mesmo tema em comum: sexo. Ou melhor, jovens dos Estados Unidos curtindo a vida sem muita responsabilidade e buscando sexo. Dois anos depois, ela voltou às telonas com a continuação de "American Pie". Esses trabalhos cravaram o título de "sex symbol" à jovem.

No livro, ela também contou que o ator Kevin Spacey foi "estranho e inquietante" durante o set de filmagem do "Beleza Americana" (1999). Antes da gravação de uma cena, o ator que tinha 40 anos se aproximou da atriz de 19 e a agarrou.

"O Kevin me levou para uma pequena sala com uma cama e se deitou ao meu lado, comigo a olhar para ele, e me agarrou levemente", descreveu a atriz sobre o momento que descreveu como "estranho e inquietante", mas também "calmo e apaziguador", contou em entrevista à revista People durante a época de divulgação do livro.

Em setembro de 2020, o ator Anthony Rapp e um outro homem processaram Kevin Spacey, hoje com 62 anos, alegando que ele os havia abusado sexualmente, em momentos distintos, quando ambos tinham apenas 14 anos.

Mena Suvari em cena clássica de "Beleza Americana" (1999) - Reprodução - Reprodução
Mena Suvari em cena clássica de "Beleza Americana" (1999)
Imagem: Reprodução

Virada

Ela também já narrou a dificuldade para encontrar papéis que a agradassem. "Havia um papel principal, normalmente a menina bonita, mas pouco desenvolvida a nível de personalidade. E depois a melhor amiga, que não era bonita, mas era muito mais interessante. Eu queria esse papel, mas eles achavam que não era para mim", recordou em entrevista à revista People.

Cansada de fazer os mesmos papeis, ela saiu de grandes produtoras e passou a fazer filmes independentes. Ela decidiu que só escolheria papéis que a satisfizessem e passou a recusar convites que reforçassem o estigma de "sex symbol".

"Cheguei a um ponto em que as pessoas desistiram, porque me fartei de fazer merdas esquisitas", contou à "Vanity Fair". A partir daí, ela atuou em papeis mais complexos, como uma mulher possuída por demônios e outra viciada em drogas.