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'Viúva Negra' está mudando o futuro do cinema?

Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) em 'Viúva Negra'
Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) em 'Viúva Negra'
Jay Maidment/Divulgação

De Splash, em São Paulo

14/07/2021 04h00

"Viúva Negra" é o quarto filme da Disney a usar o modelo "premier access" para o lançamento —em que os assinantes do Disney+ pagam um valor extra para assistir a um filme novo e bombado. É, também, o primeiro a romper uma tradição do streaming e ter a sua performance no on demand divulgada.

Boa notícia? Talvez.

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Para os mais animados, os US$ 218,8 milhões arrecadados pela aventura da Marvel no fim de semana de estreia, contando cinema e streaming, indicam sucesso. Para os mais céticos, o êxtase é sinal de alerta.

Afinal, será que o lançamento de 'Viúva Negra' foi tão bem sucedido assim?

Para tempos de pandemia, a resposta é curta e objetiva: sim. O filme já é a 9ª maior bilheteria de 2021 e a maior estreia desde a reabertura parcial das salas.

E a estimativa é que ele continue gerando retorno positivo nas próximas semanas.

Com filmes fortes, o público volta aos cinemas. Com a grande oferta, as pessoas começam a perder o medo.
Bernardo Siaines, editor do Filme B

Mesmo assim, "Viúva Negra" não simboliza que o modelo tradicional de lançamentos voltou de vez.

Sendo o primeiro filme da Marvel a chegar aos cinemas nos últimos dois anos, com a provável última performance de Scarlett Johansson no papel de Natasha Romanoff, já esperava-se que o longa seria um hit.

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Mas ele só atinge de fato esse status quando os US$ 60 milhões arrecadados com o streaming são adicionados à conta.

Isso porque a sua performance nos cinemas sofreu uma queda de 41% da sexta-feira para o sábado.

Por isso, ter os dados do streaming ajuda bastante. "O streaming pode diminuir um pouco a receita dos grandes filmes no cinema, mas também dá espaço aos médios e alimenta o meio", pontua Bernardo.

Há prós e contras diferentes entre streaming e cinema. Enquanto nas telonas a popularidade dos filmes costuma durar mais, no streaming os estúdios podem ter maior lucro a longo prazo —e as duas variáveis são importantes.

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De acordo com o Ampére Analysis, que compila esse tipo de dado, o interesse do público por filmes da Disney dura quase 50% mais do que o dedicado a filmes da Netflix ao longo de cinco meses após o lançamento. O fato de eles estarem também nos cinemas impacta a audiência de forma diferente.

Jay Maidment/Divulgação - Jay Maidment/Divulgação
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Imagem: Jay Maidment/Divulgação

Mas o lançamento no streaming também traz seus benefícios.

Até porque faz com que o estúdio fique com cerca de 80% dos lucros, sem precisar dividi-los com as exibidoras, as cadeias de cinemas.

Segundo pesquisa do Samba TV, mecanismo de televisões smart, 1,1 milhão de lares nos EUA assistiram a "Viúva Negra" no fim de semana, mais da metade de todas as aquisições feitas no streaming.

Em termos práticos, o que isso indica é que há espaço para uma relação harmoniosa entre os dois formatos.

Ou será que os US$ 60 milhões arrecadados no streaming seriam convertidos para as bilheterias dos cinemas se não houvesse a segunda opção? Nas condições normais do mundo, sem pandemia, com todos podendo ir aos cinemas? Para Bernardo, é uma questão delicada, mas ele não acredita nisso.

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Instagram/@disneysjunglecruise - Instagram/@disneysjunglecruise
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Imagem: Instagram/@disneysjunglecruise

Apesar de filmes como "Viúva Negra" e "Godzilla vs. Kong" terem renovado as expectativas dos estúdios de um retorno à normalidade, uma pesquisa lançada esta semana pela consultoria de negócios PwC indica que só em 2024 a receita das produções cinematográficas deverá voltar a níveis pré-2020.

Além disso, são obras que não se pagam inteiramente com a receita das plataformas digitais.

O modelo tradicional está longe de operar em sua normalidade, e a pandemia acelerou tendências que já eram fortes antes mesmo de o isolamento fechar os complexos cinematográficos: as pessoas querem ter opções de onde e como assistir aos filmes. Seja numa sala escura de cinema ou no sofá de casa.

O cinema fortalece a carreira do filme no streaming. É questão de adaptação aos modelos de negócio, não dá para cravar que o streaming prejudica o cinema. Eles se completam.
Bernardo Siaines