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Thiago Stivaletti

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Close' extrapola universo LGBTQIA+ ao falar de amor e amizade

Edem Bambrine (à direita) em cena do filme belga "Close", que concorre ao Oscar de filme internacional - Divulgação
Edem Bambrine (à direita) em cena do filme belga "Close", que concorre ao Oscar de filme internacional Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

01/03/2023 04h00

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De vez em quando, um novo cineasta aparece para mostrar as coisas de uma forma diferente. O belga Lukas Dhont tinha apenas 27 anos quando seu filme "Girl" saiu consagrado do Festival de Cannes. "Girl" conta a história de Lara, uma menina de 15 anos que luta muito para se tornar uma bailarina profissional.

Com um detalhe: Lara nasceu menino e está se preparando para fazer sua cirurgia de redesignação de gênero. Se 99% dos filmes apostariam nos conflitos - de Lara na escola de balé, ou dela com os pais que não aceitam seu desejo -, Dhont mostra Lara tendo o apoio integral do pai em sua transformação. Disponível na Netflix, "Girl" cativa mostrando algo muito simples e quase impermeável a tabus: uma menina que não poupa esforços em realizar os seus desejos para ser feliz.

No ano passado, Lukas Dhont saiu ainda mais consagrado de Cannes com seu segundo longa, "Close", que finalmente estreia nesta quinta nos cinemas brasileiros. Mais uma vez, os caminhos tortos do amor e outros afetos aparecem sob a lente fina de um diretor que mistura delicadeza e selvageria, um pouco como fazia o poeta francês Arthur Rimbaud.

A história começa banal: Léo e Rémi, dois garotos de 13 anos, se tornam amigos inseparáveis. Passam o dia inteiro juntos, no colégio e fora dele. Até que um dia uma colega lança uma pergunta de forma quase inocente: "Vocês são namorados?". E com esse simples comentário, Léo não consegue mais andar com Rémi da mesma forma. Medo do que os colegas estão pensando? Medo de que Rémi sinta por ele algo mais forte do que ele sente? Não importa. Uma certa pureza da relação é perdida com essa simples pergunta.

Sem entregar muito do filme, a coisa vai ganhar contornos trágicos, sem que Dhont filme essa tragédia de perto em nenhum momento. "Ainda não se vê muito por aí um homem declarar seu amor por outro homem, ou mesmo ter qualquer tipo de intimidade física com ele", disse o diretor numa entrevista ao site Indiewire. "Boa parte das imagens de masculinidade que chegam até nós são de distância ou violência. Tentamos encontrar uma tradução visual para aquele desejo profundo por conexão, e o que acontece quando essa conexão é perdida - não apenas para a outra pessoa, mas também para o nosso próprio mundo interior".

E esse parece ser o diferencial do diretor: onde outros enxergariam uma questão LGBTQIA+ específica e seus devidos conflitos, Dhont expande para uma angústia universal que fala diretamente a qualquer pessoa.

É curioso como a última frase do diretor transcrita acima poderia ser usada perfeitamente para definir um grande filme da safra do Oscar deste ano, o irlandês "Os Banshees de Inisherin", que também fala sobre o fim de uma amizade e suas consequências devastadoras. No próximo dia 12, "Close" concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro pela Bélgica. Vai ser uma batalha dura, já que o filme de guerra alemão "Nada de Novo no Front" parece ter a vantagem por ter sido indicado também na categoria principal de melhor filme e outras sete categorias.

CLOSE
Estreia nesta quinta, dia 2/3, nos cinemas
Dia 21/4 na plataforma de streaming Mubi