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O dia em que Rita Lee salvou cobras maltratadas por outra estrela do rock

Fragmento da capa da autobiografia de Rita Lee - Divulgação
Fragmento da capa da autobiografia de Rita Lee Imagem: Divulgação

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

08/03/2023 04h00

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"A sorte de ter sido quem sou, de estar onde estou, não é nada comparada ao meu maior gol: sim, acho que fiz um monte de gente feliz".

São essas as últimas palavras do texto principal de "Rita Lee - Uma Autobiografia". O relato pessoal de um dos maiores nomes da música brasileira saiu em 2016 pela Globo Livros e fez grande sucesso. Era corriqueiro trombar com leitores encantados com o quanto se divertiam com as histórias vividas e narradas pela cantora. O trabalho vendeu muito. Em 2019 a obra já batia de 350 mil exemplares comercializados.

Ontem soubemos que aquele livro de 2016 passará a ser visto como o primeiro volume de histórias da artista sobre a própria trajetória. Isso porque a editora anunciou que prepara para o final de maio a continuação do best-seller. "Rita Lee - Outra Autobiografia" se justifica pela vida durante a pandemia de coronavírus e pela luta travada por Rita contra um câncer no pulmão. Teremos mais um texto franco, cru, marcado por ironias e também por sutilezas e amorosidades, prometem.

Voltando ao livro de 2016, encontro um tanto desses traços num trecho saboroso, provavelmente um dos mais memoráveis do volume. Durante um show de Alice Cooper em São Paulo, Rita se revoltou quando o roqueiro estadunidense maltratou e pisoteou uma cobra no palco. A cantora passou de fã a "futura assassina", conta. "A sentença de morte já estava escrita: Alice Cooper filho-da-puta-do-caralho-da-porra-motherfucker-fucking-bitch! No more Mr. Nice Guy pra você também, seu bosta!".

Rita deu um jeito de entrar nos bastidores enquanto a apresentação acontecia. Encontrou o contrarregra que retirara a cobra do palco e percebeu que a bichinha seguia viva. Conversando com o homem, teve certeza de que a estupidez de Cooper era comum. Então fez amizade com o roadie do artista gringo. "Cinco minutos depois fugimos de lá levando a gaiola com a jiboia e de quebra outra jiboinha bebê que seria treinada também para atuar nas micagens grotescas do canalha". Mouchie e Angel: eis os nomes das cobras que foram morar na casa de Rita.

A situação complicou quando a cantora soube da dieta dos novos bichos de estimação: apenas animais vivos. Ratinhos viriam do Instituto Biológico para alimentar as duas jiboias enquanto Rita estivesse longe de casa. Não queria ver a cena, o "crime", de forma alguma. Só que nem sempre as coisas saíam conforme o planejado:

"Funciona assim: ao dar de cara com os olhos hipnóticos de uma cobra faminta, o rato geralmente congela de pânico. Num único bote, quebra o pescoço e sem uma gota de sangue vai engolindo o rato inteiro tipo caminhão de lixo, dá até para ver o corpo passando pelo pescoço dela. Por mais que não quisesse pensar no assunto já me sentia cúmplice só por concordar com aquilo. Teve uma vez que Danny e eu chegamos em casa e demos de cara com um ratinho solto na sala todo serelepe, havia peitado as cobras, cagando e andando para os olhos ameaçadores e continuou assobiando, tranquilo, enquanto explorava a sala como se nada houvesse. Mouchie & Angel, meio constrangidas, fingiam que dormiam, tipo 'nós não estamos com fome', e eu fingi que acreditei. O ratinho mostrou a língua para as jiboias e foi devolvido ao Biológico".

A ver se passagens do tipo também estarão em "Rita Lee - Outra Autobiografia".

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