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REPORTAGEM

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Geração 2010: 'A melhor fase da literatura brasileira dos últimos 50 anos'

Colunista do UOL

15/10/2021 04h00

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Na 99ª edição do podcast da Página Cinco:

- Papo com Fred Di Giacomo, organizador da antologia "Geração 2010 - O Sertão é o Mundo" (Reformatório).

- A 4ª edição da FliPenha.

- Inscrições para o Prêmio Geek de Literatura.

Alguns destaques do papo com Fred:

Tentativa de ser Bukowski

Nos anos 80, 90, a literatura ficou muito concentrada no sul, sudeste, uma autoficção de homens brancos falando sobre como é difícil ser um homem branco. Uma tentativa de ser Bukowski sem ser da classe trabalhadora como Bukowski era. Não acho ruim ter um pouco de autoficção, mas só ter isso...

Amigos de escola

Eu não sou de São Paulo. Quando vim pra cá, percebi que todo mundo meio que se conhecia. O cara lançava um livro na editora de um ex-colega da escola construtivista dele, depois participava de uma feira literária que era da ex-mulher do pai dele... Não é só uma questão de birra minha, mas tem muito menos chances de ter bons livros no mesmo colégio do que se você olha para um país de 200 milhões de habitantes.

Sertão é o Mundo

Em 2019, comentei com o Marcelo Nocelli que deveríamos fazer uma antologia que reunisse uma coisa que estava surgindo na nossa literatura, que ainda não conseguia dar nome. Ao mesmo tempo, comecei a estudar isso no meu doutorado. Não tinha ainda isso de Geração 2010. Era mais a ideia de "Sertão é o Mundo". Isso não na concepção de sertão nordestino, mas na concepção original, de terra que não tinha sido ocupada pelos brancos.

Fim do caô

Não dá para falar só de estética sem falar de social, de política, no Brasil. Estou falando de avanços do ativismo dos trabalhadores sem-terra, sem-teto, do movimento negro, que vai fazer com que pessoas que já escreviam muito bem sejam reconhecidas. Até então, tinha esse caô da academia e dos resenhistas de que essa literatura talvez não fosse tão boa assim. A avaliação da Carolina Maria de Jesus mudou, inclusive, de uma literatura marginal, curiosa, para algo realmente bom. Isso vem alicerçado por mudanças políticas que não são dadas por qualquer governo, mas conquistadas.

Elite

A elite brasileira é burra. A elite brasileira não lê. Você não chega num cara da minha cidade, o dono da cana-de-açúcar, e ele adora ler. Ele não adora ler. Ele gosta de tomar uísque com Red Bull e ostentar.

Ponta do iceberg

O Brasil é muito grande e as editoras estão muito concentradas em poucas cidades. Essa antologia é um esforço, mas ela é uma ponta do iceberg.

Ficção científica

Uma característica é a ficção científica. Muitos autores latino-americanos, principalmente mulheres, têm usado a ficção científica para fazer críticas e um retrato do neoliberalismo, desse momento em que a gente vive. Mais do que se é conto ou se é romance... Assim como o romance foi uma coisa da modernidade, acho que a ficção científica é uma linguagem da pós-modernidade.

Neutro?

Ao contrário de uma certa visão, aí sim ingênua, de outros antologistas que achavam ser neutros, eu não sou neutro. Estou ativamente participando do campo literário. Politicamente, até. As pessoas que estão aqui não são minhas amigas, mas tenho uma visão de Brasil, de cultura brasileira, então não sou neutro. E esses autores são zero neutros. Não posso falar pelos 25 autores que estão aqui, mas, do que vejo, ninguém diz que está fazendo a arte pela arte ou que é neutro. Não escondo que faço parte dessa disputa de campo. Sempre me posiciono e tento deixar claro.

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