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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

"A alegria é revolucionária", diz Cida Pedrosa, poeta vencedora do Jabuti

Colunista do UOL

19/03/2021 09h55

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Na 71ª edição do podcast da Página Cinco:

- Entrevista com Cida Pedrosa, vencedora do Jabuti de 2020 com "Solo Para Vialejo" (CEPE).

- Inscrições abertas para a edição de 2021 do Prêmio Oceanos.

- Marco Marcionilo, o novo curador do Jabuti.

- "gasolina & fósforo", de Jéssica Balbino, "O Que Devíamos Ter Feito", de Whisner Fraga (Patuá), e "Raimundo", de Lucas Oller (Chiado), nos lançamentos.

Alguns destaques da entrevista com Cida Pedrosa:

Assassinato do companheiro

Eles [os grandes fazendeiros] eram habituados a matar os que reclamavam na justiça. Mas uma coisa é matar um, outra coisa é matar cem. Quando foi ali, em 1991, assassinaram o Zé Hélio [então companheiro de Cida]. Antes disso, eu fui muito ameaçada, perseguida. Perdi uma gravidez de sete meses numa dessas perseguições.

A luta

Naquele momento eu casei com o Brasil. Não abriria nunca mais mão de estar na luta pelos menos favorecidos. Foi uma espécie de juramento para mim mesma. E é o que eu faço. O que eu sei fazer. Em todos lugares que estou, estou na luta.

Cida, poeta

A literatura, pra mim, sempre teve função social. Quando fui militar no Partido Comunista do Brasil, todo mundo me apresentava assim: essa é Cida Pedrosa, poeta e advogada. O poeta sempre vinha antes.

Literatura engajada

O panfleto é o panfleto. A literatura é a literatura. As pessoas colocam a poesia engajada como se fosse sinônimo de má qualidade de arte. E não é. Uma coisa é ser panfletário. Se a literatura for panfletária, não será boa mesmo. Mas a literatura engajada pode ser muito boa. Vide muita coisa incrível que o Maiakovski escreveu, que o Brecht escreveu.

Arte libertária

Uma coisa é você ter o autoritarismo em cima da arte. Isso sou radicalmente contra. A arte tem que ser libertária por natureza. O artista tem que estar livre para criar o que quiser e como quiser. Agora, ele pode fazer sua criação, ser uma criação engajada e isso ser bacana.

"Solo Para Vialejo"

O livro tanto tem denúncia como tem os momentos de celebração. Mínimos, mas tem. O que é muito típico da minha poesia. Eu venho com a porrada maior do mundo, mas de repente tem um pouco da celebração ali. A alegria é revolucionária. A idiotice, não, a babaquice, não. Não precisa se manter alegre, mas manter o ânimo eu acho importante.

Louca do Bob Dylan

Eu sou a louca do Bob Dylan. Sou completamente apaixonada. Peguei muitas brigas na internet na época que deram o Nobel e o povo dizia que ele não era poeta. Pense que eu virei braba. Porque ele é um poetaço.

"Cu é lindo"

Toda vez que vou escrever um livro, parto do princípio de que não sei nada. Vai ser uma viagem nova e eu tenho que aprender tudo. Então eu entro com a paixão dos neófitos, com a paixão juvenil, mas ao mesmo tempo com a bagagem de 40 anos. E não tenho medo de arriscar. Não tenho medo da palavra. Desde que li de Adélia [Prado] "cu é lindo", eu disse pra mim: a palavra não pode estar aprisionada. É a maior lição que aprendi com a Adélia: "cu é lindo".

Safadeza pura

Estou fazendo um livro que é muito escrachado. O próximo livro de poemas é safadeza pura. Eu defino várias partes do corpo, posições eróticas. Acho que vai ser bacana. Até porque ninguém espera que quem ganha o Jabuti depois venha com um livro de sacanagem.

Jabuti

Em poesia eu sabia que estava concorrendo. Mas jamais imaginei ganhar o Livro do Ano. Porque tinham concorrentes muito fortes. Tinha a Nélida [Piñon]. Tinha o "Torto Arado" [de Itamar Vieira Junior], que é um livraço.

Poesia no cabaré

Não é um chavão: a literatura tem que ir onde as pessoas estão. Você tem que tirá-la desse castelo de cristal que o beletrismo criou. Eu fui recitar poesia e discutir poesia num cabaré em Poconé, com profissionais do sexo. Isso pra mim é muito mais especial do que estar em qualquer mesa chique de qualquer feira. Porque é a possibilidade de você acreditar que o mundo se move, que as coisas estão sendo construídas para além dos nossos umbigos. Cada pessoa que entende um poema ou se interessa pela poesia pode estar abrindo um outro caminho.

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