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Narrativas Periféricas: seis HQs que merecem a sua atenção

Narrativas Periféricas - Reprodução
Narrativas Periféricas Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

24/09/2020 09h48

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Análise de pesquisa, mentira do Paulo Guedes, mentiras dos leitores, problematização do que é ser leitor, Machado de Assis puxando saco de imperador, povo com o papinho de biografia definitiva... Deixa eu mudar um pouco o tom que vinha dominando as últimas colunas para falar de uma iniciativa bem legal e que já apresenta resultados que merecem a atenção.

Entre 2019 e o começo deste ano, artistas selecionados após a primeira edição da PerifaCon, a Comic Con das periferias, passaram oito meses acompanhando um programa coordenado por Janaína de Luna, editora-chefe da Mino, uma de nossas principais editoras de HQs. A ideia era aprimorar as técnicas desses jovens e incentivar a publicação de quadrinistas que residem em regiões periféricas. A iniciativa contou com apoio da Chiaroscuro Studios e a publicação dos quadrinhos produzidos foi viabilizada graças a uma vaquinha virtual que arrecadou quase R$57 mil.

Bem agradável a tarde que passei lendo os livros da série "Narrativas Periféricas", que saiu pela própria Mino. Eis os títulos e autores: "Thomas - La Vie en Rose", de Arthur Pigs, "Crianças Selvagens", de Gabú Brito, "Quando a Música Acabar", de Isaque Sagara, "Pomo", de Eryk Souza, "Shin", de Isaac Santos, e "Para Todos os Tipos de Vermes", de Kione Ayo. As questões sociais, de alguma forma, aparecem em todas as narrativas, mas as abordagens e as histórias criadas pelos artistas são tão variadas quanto o estilo dos traços e as soluções gráficas de cada um.

Nos livros, temos jovens que buscam sabotar o sistema para melhorar de vida numa sociedade estratificada, um homem que abriga ilegalmente um alienígena andrógino, um ninja de raro talento que cumpre a sua última missão numa metrópole futurista, uma festa de aniversário que acaba como cenário de diversas formas de abuso e violência... São todos trabalhos que valem ser conhecidos e que apresentam artistas que trazem uma bem-vinda diversidade aos nossos quadrinhos. A colega Andreza Delgado também escreveu a respeito de "Narrativas Periféricas" na coluna dela.

Da série, gostei especialmente de duas obras: "Crianças Selvagens" e "Thomas - La Vie en Rose". Este é um gracioso, humorado e às vezes cáustico gibi sobre empregos odiosos, paixões truncadas e amizade; um quadrinho em consonância com nosso tempo. Já "Crianças Selvagens", talvez o mais politizado da coleção, lembra muito "Capitães da Areia", clássico de Jorge Amado. Pelos quadros de Gabú, acompanhamos Ariel, garoto que foge de casa para escapar dos abusos domésticos e se junta a um grupo de crianças de rua. É uma narrativa tão pesada quanto terna e comovente.

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