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Mauricio Stycer

Em livro, Thunder revê a "vida loka" e acerta contas com o passado na MTV

Ex-VJ da MTV, o músico Luiz Thunderbird está lançando uma autobiografia, intitulada "Contos de Thunder"                      - Divulgação
Ex-VJ da MTV, o músico Luiz Thunderbird está lançando uma autobiografia, intitulada "Contos de Thunder" Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

02/06/2020 11h32

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Uma das caras da MTV Brasil, que existiu entre outubro de 1990 e setembro de 2013, Luiz Thunderbird resolveu colocar no papel parte das aventuras que viveu no período. É um livro muito bem-vindo e surpreendente, pela franqueza com que o ex-VJ fala dos seus próprios altos e baixos, expõe os bastidores do canal musical e acerta contas com ex-colegas.

Thunder deixa para a página 285 uma observação que deveria fazer logo no começo, na qual esclarece o tom desta autobiografia precoce (o autor tem 59 anos):

"Eu me sinto muito mal quando lembro das vezes em que fui um completo babaca. Se você nunca foi babaca nenhuma vez na vida ou você sabe se enganar muito bem, ou você nem devia estar lendo essa biografia. Pode parar por aqui. Esse livro é pra pessoas que experimentaram a babaquice pelo menos uma vez na vida, desculpe".

Narrado na primeira pessoa, sem muita preocupação em contextualizar os episódios vividos, "Contos de Thunder - A Biografia" (Globo Livros, 392 págs., R$ 49,90) segue uma ordem cronológica.

O livro detalha, inicialmente, a transformação de Luiz Fernando Duarte, formado cirurgião-dentista e dono de um consultório em São Bernardo do Campo (SP), no roqueiro alternativo, que comandou uma série de bandas nos anos 1980.

A transparência com que descreve o mergulho na "vida loka" e os efeitos terríveis sobre a trajetória pessoal e a carreira são um dos pontos fortes do livro. Thunder fala abertamente sobre o consumo de cocaína, a overdose que sofreu, a internação numa clínica de reabilitação e o apoio que encontrou nos Narcóticos Anônimos.

Thunder reconhece que, muitas vezes, causou problemas na MTV por causa dos excessos que viveu. "Eu estava mesmo me tornando um monstro incontrolável", escreve.

Até amigos que também pegaram pesado no período, como os músicos Nasi e João Gordo, o alertaram para os riscos que corria. "Eu saia da MTV e ia pra casa do Nasi. Ele gostava de rock, cinema, rap, tinha uma energia gigantesca e um fornecedor de cocaína excelente".

Cacá Marcondes, então assistente de direção de um dos programas que apresentava, tinha uma estranha função: "Teve fases em que ele ficou com a tarefa de ligar pro meu apartamento pra saber se eu ainda estava vivo. Pelo menos é essa fábula que se dizia pelos corredores".

Thunder descreve a MTV como "um grande parque de diversões" para os VJs e apresentadores. Em seu relato transparece o caos criativo que moveu o canal, mas também a desorganização e falta de visão. "O You Tube havia chegado e a MTV não soube lidar com ele", observa.

"Tinha muita gente legal na MTV. Mas gente ruim também", registra. Thunder cita desentendimentos e divergências com vários ex-colegas. Alguns são nomeados (casos de Zeca Camargo, Edgard Piccoli e Daniel Benevides), outros não. Ao mesmo tempo, Thunder trata como parceiro e incentivador Victor Civita Neto, o Titi, um dos herdeiros da Abril, que comandou a MTV inicialmente.

"Por ter reescrito essa história várias vezes, pude resolver todos os conflitos pelos quais passei", registra no final.

Hoje atuando em mídias alternativas (tem um programa no You Tube e um podcast), Thunder segue a carreira musical. Em 2021, sua banda principal, Devotos de Nossa Senhora Aparecida, completa 35 anos.

No momento, se dedica mais a outra banda, Pequena Minoria de Vândalos. "O nome veio de tanto ouvir o William Bonner e outros apresentadores usarem a expressão para se referir a um grupo que se deixava entusiasmar desde as manifestações de 2013".

Para quem, como eu, se assustou com a decisão de Thunder publicar uma autobiografia tão cedo, o autor esclarece: "É só o primeiro volume".