Roupa com história: "Parka vai de lugares sujos e inóspitos aos elegantes"
Marila Marasciulo
Colaboração para Nossa
04/01/2021 04h00
Na primeira vez que fui a Londres a passeio vi nas vitrines de uma galeria meio chique umas parkas da marca Barbour, e achei muito bonitas. Logo vi que tinha bom gosto: tanto a galeria quanto as jaquetas tinham o selo By Appointment to Her Majesty The Queen, o que significa que a loja ou o fabricante foram escolhidos como fornecedores da rainha.
Muitos anos depois, fui fazer meu doutorado em Londres e comecei a sentir necessidade de ter um casaco melhor para encarar o inverno. Quando ia para a universidade, reparava que meus "professors" andavam com suas Barbours surradas e, por baixo, estavam de terno e gravata. Achava aquilo muito elegante.
Decidi então ir atrás do preço das tais parkas. Minha única referência era a galeria que visitei décadas antes e tomei um susto: custavam, em média, 250 libras. Na época, começo dos anos 2000, vivendo com a bolsa de pesquisa e com a libra esterlina nas alturas, meu dinheiro era contado. Pagar o que seriam R$ 1500 na cotação daqueles tempos estava totalmente fora do orçamento.
Mas a vontade de ter uma Barbour permaneceu. Cheguei a olhar as jaquetas em mercados de pulgas, mas eram muito fedidas, não tinha como. Em minhas andanças pelo centro de Londres, encontrei uma loja mais popular, sem nenhuma pompa, uma espécie de "ponta de estoque" da Barbour. Elas custavam £ 180, com o reforço interno incluído (nas outras lojas, era cobrado à parte), um pouco mais acessíveis, mas ainda assim fora de cogitação.
Esperei com paciência para ver se o câmbio melhorava e se o orçamento que eu tinha para completar o ano do doutorado seria o suficiente. Em fevereiro, faltando uns 4 meses para terminar, com o inverno ainda rigoroso, fiz os cálculos e vi que daria. Não tive dúvidas: voltei à loja do centro e comprei a minha Barbour.
Desde então, virou minha companheira, vai dos lugares mais sujos e inóspitos aos mais elegantes. Toma chuva, barro, água salgada, não importa: não tenho pena dela e isso é o que mais gosto, não há nada que uma esponja e água morna não resolva. Quando fica muito surrada, limpo, passo a cera original, seco com secador de cabelo e ela fica novinha.
Hoje, mesmo tendo condições de comprar outra (nem sei quanto custa uma atualmente?), não trocaria a minha por nada. O legal é justamente ela ser vintage! Sinto que poderia entrar em Westminster com ela que a rainha diria "seja bem vindo, senhor, acabou de vir das Moors?". Com minha Barbour, estou sempre elegante.
O aspecto surrado (ou “vintage”) que a parka adquire com o tempo faz parte do charme da Barbour que, justamente por suas qualidades impermeáveis, pode ser usada para proteger até os modelitos mais elegantes, como terno e gravata. Em 1974, a rainha Elizabeth II concedeu à marca o selo de garantia Real de fornecedor de “roupas à prova d’água e de proteção”. Volta e meia, membros da realeza britânica são flagrados com as jaquetas em diferentes ocasiões.Como usar
Terno e gravata
Realeza britânica