Rafael Leick

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Uma noite no bar gay mais antigo do mundo (e saideira em sauna e 'prisão')

Se você tivesse que chutar onde fica o bar gay mais antigo do mundo, qual seria sua aposta? Fica no velho continente e em um dos países mais avançados em relação à aceitação da comunidade LGBTQIA+. Apesar do casamento homoafetivo só ter sido legalizado em 2012, um ano antes do Brasil, a Dinamarca já vive o assunto harmonicamente há muitos anos. E Copenhagen, capital do país, é certamente um expoente internacional no tópico.

O Centralhjørnet, que fica perto da praça da antiga prefeitura, se declara como o bar gay mais antigo do mundo ainda existente, tendo começado suas operações em 1917.

Fachada do Centralhjørnet, bar gay mais antigo do mundo
Fachada do Centralhjørnet, bar gay mais antigo do mundo Imagem: Rafael Leick/Viaja Bi!

Ou seja, considerando que meu bisavô chegou ao Brasil em 1925, mesmo não sendo gay (até onde eu sei), pode ser que ele tenha visitado o local em seus primeiros anos de funcionamento.

No meu mochilão com minha mãe, Copenhagen era o destino que eu estava mais ansioso para conhecer. Era minha primeira vez na Dinamarca, conhecendo a terra dos meus antepassados e eu estava curioso para saber mais sobre esta história, até então desconhecida para mim. E, já que a ideia era entrar no túnel do tempo, resolvi também conhecer o tal bar.

Era uma terça-feira à noite e minha companhia foi o sexólogo Mahmoud Baydoun, também conhecido por ter participado do BBB 18 e do No Limite 2021, que estava na cidade. Minha mãe ficou no hostel. Perambulando a pé, durante a madrugada gelada e sem medo, encontrei Mahmoud no meio do caminho até o bar.

Parte da inusitada decoração do Centralhjørnet
Parte da inusitada decoração do Centralhjørnet Imagem: Reprodução Tripadvisor

Ao chegar, reconheci a fachada e entramos no pequeno e aconchegante bar. A decoração, bastante colorida e lúdica, mistura balões, guarda-chuvas, flores, globo espelhado, borboletas, lanternas chinesas de papel, cercas brancas e pratos de porcelana. Tudo isso, adornado com três máquinas caça-níquel em uma das paredes.

Passava da meia noite e fiquei impressionado ao perceber que, apesar de fechar às 2 horas da manhã, éramos praticamente os únicos por lá, com exceção do simpático barman, um rapaz sentado no balcão, um casal sentado em uma mesa e um senhor sentado em outra, próxima de onde nos acomodamos.

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Pendurado em uma corrente, estava o livro "The Big Penis Book", famoso na comunidade gay global. Este "cardápio de membros", que virou cult, decorou o meu papo com Mahmoud entre um drinque e outro. Mais inusitado que isso foi só ver que, quando só faltava a gente ir embora, o barman e o moço do balcão começaram a se pegar ali mesmo. Na hora de pedir o drinque, só percebemos o que estava rolando depois de interrompê-los.

Interior do Centralhjørnet, bar gay mais antigo do mundo
Interior do Centralhjørnet, bar gay mais antigo do mundo Imagem: Rafael Leick/Viaja Bi!

Tarde demais, descobri que o melhor dia durante a semana para visitar o Centralhjørnet é quarta-feira. De qualquer forma, não estaria no dia seguinte, então, é o que tinha. Isso acontece com frequência quando viajamos. Nem sempre coincidimos nossas datas com os melhores dias.

Por isso, após a frustração inicial, resolvemos explorar um pouco mais a noite de Copenhagen. Tentamos uma sauna gay chamada Amigo Sauna, que fica a cinco minutos caminhando, em uma rua cheia de bandeiras do orgulho. Aparentemente, terça-feira também não é o melhor dia na sauna. E quem me confirmou, depois dos 10 minutos que ficamos lá dentro, foi o recepcionista, o homem mais bonito que vi naquele lugar naquela noite.

Recepção da Amigo Sauna, sauna gay em Copenhague
Recepção da Amigo Sauna, sauna gay em Copenhague Imagem: Rafael Leick/Viaja Bi!

Já tinha desistido quando, no caminho de volta, passamos pelo Jailhouse CPH, um bar temático que tinha aparecido nas recomendações do que fazer em Copenhagen. Lá, foi mais legal.

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Como o nome indica, o bar tem a temática de uma prisão. E é de uma maneira leve, divertida, com boa música e bartenders animados. Tinham grupos de amigos bebendo e rindo, então, a noite ficou mais interessante. Mas chegamos perto das 2 horas, quando o bar fecha... de uma maneira inusitada. Os bartenders colocam uma música que literalmente manda as pessoas "vazarem" de lá o quanto antes. Saímos, mas rindo.

Interior temático do bayr gay Jailhouse CPH, em Copenhague
Interior temático do bayr gay Jailhouse CPH, em Copenhague Imagem: Rafael Leick/Viaja Bi!

Região do orgulho dinamarquês

No último sábado, 12 de agosto, começou a Copenhagen Pride, o festival do orgulho da cidade, que vai até o próximo domingo, dia 20, com uma intensa programação celebrando três grandes marcos para o país: os 10 anos do evento, os 50 anos da casa de cultura queer Bøssehuset ("Casa Gay", em tradução livre) e os 75 anos da LGBT+ Denmark, a segunda organização LGBTQIA+ mais antiga do mundo.

O evento sempre tem um ponto de encontro na Rådhuspladsen ("Praça da Prefeitura"), perto do prédio antigo da prefeitura e do parque de diversões Tivoli. Já em maio, encontrei um bandeirão de arco-íris hasteado em um mastro, sem medo de exibir seu orgulho.

Bandeira do Orgulho em frente ao prédio antigo da prefeitura de Copenhague
Bandeira do Orgulho em frente ao prédio antigo da prefeitura de Copenhague Imagem: Rafael Leick/Viaja Bi!
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Essa é uma região, inclusive, que vale muito explorar a pé. Além da prefeitura e do Tivoli, há diversas atrações na região, como:

  • o museu das ilusões Ripley's Believe It or Not!;
  • a atração Hans Christian Andersen Experience, em homenagem ao autor de contos como "A Pequena Sereia" e "O Patinho Feio";
  • o Museu Nacional da Dinamarca (Nationalmuseet), sobre a história e cultura dinamarquesas, onde vi uma exposição bem legal sobre a cultura viking;
  • o Museu de Copenhagen (Københavns Museum), que preparou para a Pride, um tour guiado por sua coleção permanente, chamado "Queer em Copenhagen através de 1000 anos";
  • o museu de artes Ny Carlsberg Glyptotek;
  • o Palácio de Christiansborg (Christiansborg Slot);
  • o Centro de Arquitetura Dinamarquês (Dansk Arkitektur Center);
  • o novo prédio da Biblioteca Real Dinamarquesa (Det Kongelige Bibliotek), apelidada de Diamante Negro, com visita gratuita e vista incrível;
  • o Børsen, o antigo prédio da bolsa de valores, com seu famoso pináculo de três dragões entrelaçados.
Bandeiras do movimento LGBTQIA+ tremulam na torre da antiga bolsa de valores de Copenhague
Bandeiras do movimento LGBTQIA+ tremulam na torre da antiga bolsa de valores de Copenhague Imagem: Getty Images

São muitas atrações para se fazer a pé por ali. Para economizar, use o Copenhagen Card (CPH Card), um cartão virtual em um app no seu celular e que dá direito à entrada gratuita a museus e atrações na cidade e em seus arredores, além de transporte gratuito ilimitado durante o período selecionado, incluindo acompanhamento de até duas crianças sem custo adicional.

A conversão não está a nosso favor e a Dinamarca não é um país barato. Então, vale MUITO a pena usar este cartão. Na ponta do lápis, a economia é gigante.

E também ficou gigante meu amor por Copenhagen, pela Dinamarca e pelos dinamarqueses, que são simpáticos e surpreendentemente afetuosos, se comparados aos demais países nórdicos. Tenho que voltar para experimentar a noite da cidade em outro dia da semana.

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*O colunista recebeu um cartão Copenhagen Card, oferecido pelo órgão de promoção turística, para explorar a cidade. Todas as opiniões expressas aqui são independentes e refletem a real experiência como turista.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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