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Onda xenofóbica e racista começa a manchar ambiente do futebol na Polônia

27/10/2016 10h02

Nacho Temiño.

Varsóvia, 27 out (EFE).- Agressões motivadas por xenofobia e racismo alcançaram patamares nunca vistos na Polônia no último ano, um extremismo que vem atingindo e manchando o futebol local, onde torcedores radicais tomaram conta das organizadas dos principais clubes do país.

Os dados são alarmantes, com pelo menos cinco ataques diários, conforme disse à Agência Efe Rafal Pankowski, diretor de uma organização que combate os crimes de ódio xenofóbico e racista, a Nigdy Wiecej (Nunca Mais, em português).

"Durante duas décadas, observamos o crescimento do número de casos na Polônia, mas nunca tínhamos visto agressões como agora. É uma escalada da violência", lamentou o militante.

Segundo Pankowski, em 2012 e 2013, por exemplo, eram registrados entre cinco e dez casos por semana.

Para o diretor da ONG, a principal causa para o aumento dos ataques é a chamada crise dos refugiados e a forma com que a imprensa local e os políticos do país estão tratando da situação, gerando uma maior radicalização, também vista nas arquibancadas.

"Embora os torcedores racistas sejam minoria, sim, é certo aparecem cada vez mais e dominam a maioria. Desde 2015, aumentaram nos estádios poloneses as mensagens racistas e os atos antiimigrantes, refugiados e muçulmanos", declarou Pankowski.

Um exemplo aconteceu em setembro do ano passado, quando a torcida do Slask Wroclaw, da primeira divisão do Campeonato Polonês, abriu uma bandeira com a imagem de navios repletos de imigrantes chegando à Europa, mas se deparando com um soldado da época dos Cruzadas, empunhando uma ameaçadora espada.

Nesta temporada, quando a Uefa sugeriu que os clubes participantes de competições continentais doassem parte da renda das bilheterias para o auxílio a refugiados, torcedores do Lech Poznan propuseram um boicote à campanha, que representava não assistir aos jogos do time.

Para um torcedor do Legia Varsóvia, que chegou a viajar para a Espanha em meados de outubro, onde a equipe enfrentou o Real Madrid, políticos e organizações como o "Nunca Mais", estão à frente de uma campanha para criminalizar as torcidas organizadas.

"Claro que há torcedores racistas, mas nem todos somos assim. A maioria só está lá para curtir os jogos e apoiar nossas equipes", disse o jovem, que preferiu não se identificar, à Agência Efe.

Pankowski, por sua vez, destaca que poucas vozes no mundo do futebol se levantam contra casos de xenofobia e racismo, enquanto extremistas começam a transformar os estádios da Polônia em "focos de ideias raciais".

"Infelizmente, já ficaram para trás os esforços para reduzir o radicalismo nas arquibancadas antes da Eurocopa de 2012", disse o militante, em referência ao torneio de seleções que o país organizou com a Ucrânia.

Para o diretor da ONG, a federação de futebol local, ao se omitir, como vem fazendo, legitima a intolerância e, inclusive, a apoia com algumas declarações.

Pankowski destaca, por exemplo, o tweet publicado pelo presidente da entidade, o ex-jogador Zbigniew Boniek, um dos maiores ídolos do esporte polonês, após o atentado de julho do ano passado, em Nice, na França.

O dirigente afirmou que as manifestações e os minutos de silêncio não eram suficientes diante da tentativa de transformar a Europa em "Eurábia", em referência ao neologismo que se baseia na possibilidade de o continente não ter mais a cultura ocidental como predominante, e sim a islâmica.

À Agência Efe, a assessoria de imprensa da federação local se defendeu de acusações de apoio ao racismo e a xenofobia, considerando-as "escandalosas" e garantindo que luta ativamente contra o radicalismo nas arquibancadas.

Além disso, a entidade destacou que o dever de combater grupos que incitam a violência dentro e fora dos estádios é das forças de segurança do país.