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A "saída abrupta" de Joseph Blatter, o sucessor de João Havelange na Fifa

24/02/2016 19h59

Olga Martín.

Redação Central, 24 fev (EFE).- O suíço Joseph Blatter disse, em 8 de junho de 1998, que se tivesse perdido as eleições para presidente da Fifa naquela ocasião, teria tido uma "saída abrupta" da entidade, algo que acabou acontecendo 17 anos depois, de maneira ainda mais dura.

Nem no pior pesadelo, o ex-secretário-geral em parte da gestão de João Havelange, esperava ser forçado a esvaziar o escritório da presidência, ao ser envolvido em escândalo, em que é investigado pela justiça. Além disso, Blatter acabou suspenso por um órgão que ele próprio criou.

O suíço acabou devorado pelas próprias invenções. Agora, será difícil dissociar seu nome a práticas irregulares, já que o termo "corrupção" o cerca há muito tempo.

Três concorrentes, desde a primeira eleição que Blatter participou, o enfrentaram e acabaram derrotados: o sueco Lennart Johansson, em 1998, o camaronês Issa Hayatou, em 2002 e o príncipe jordaniano Ali Bin Al-Hussein, no ano passado.

Reeleito pela quinta-vez em 29 de maio do ano passado, o agora ex-presidente anunciou que deixaria a entidade quatro dias depois, com o escândalo de corrupção. Inicialmente, o suíço pretendia ficar no cargo até o pleito desta sexta-feira, mas o Comitê de Ética independente, que foi idealizado por ele, o impediu.

Inicialmente, Blatter foi suspenso de qualque atividade ligada ao futebol por oito anos, pena que foi reduzida para seis, nesta quarta-feira, dois dias antes das eleições que apontarão seu sucessor.

Depois da saída da presidência em outubro, o dirigente só conseguiu voltar à Fifa poucos dias atrás, justamente, para apresentar a defesa no recurso para reduzir a pena que lhe foi imposta.

Além do envolvimento em negociações de contratos de direitos de TV e marketing, Blatter ainda é investigado pela promotoria suíça, a pedido da própria Fifa, por supostas irregularidades na escolha de Rússia e Catar, como sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, respectivamente.

A suspensão, agora de seis anos, aconteceu por causa do pagamento de 2 milhões de francos suíços (R$ 8,08 milhões), feito ao francês Michel Platini, ex-presidente da Uefa, em 2011, sob a alegação de remuneração por trabalhos executados entre 1999 e 2002.

A punição impediu que o vencedor de três Bolas de Ouro, antigo aliado e atual opositor de Blatter, ficasse fora das eleições desta sexta-feira.

Tudo isso mancha a reputação de um dirigente que começou à sombra de Havelange, aliado durante 23 anos. Os dois são considerados molas propulsoras do crescimento exponencial da Fifa, que se tornou um potente bloco internacional.

Na gestão de Blatter, pela primeira vez se jogou uma Copa do Mundo no continente africano, em 2010, na África do Sul, houve impulsionamento e consolidação do Campeonato Mundial de Clubes, da Copa das Confederações, além das competições de base, masculinas e femininas.

Além disso, a Bola de Ouro ganhou mais importância, foi aprovada a tecnologia da linha do gol, a responsabilidade social do futebol cresceu, com iniciativas para fomentar a integração através do esporte, e também com políticas contra o racismo e a proteção de menores e idade.

Os chamados "projetos Goal", com destinação de verbas para as federações mais pobres do planeta, foram uma garantia para seus quatro mandatos como presidente da organização, que chega a fazer recuar governos, quando suas políticas são consideradas uma ingerência pela Fifa.

Vinculado desde 1975 à Fifa, tendo sido secretário-geral de 1981 e 1998, Blatter é formado em Economia e Administração de Empresas pela Universidade de Lausanne, além de ser coronel do Exército suíço.

'Sepp', como é conhecido, começou a carreira trabalhando na secretaria de Turismo de Valais, região onde nasceu, na Suíça. Ainda atuou como jornalista e como secretário-geral da federação suíça de hóquei no gelo.

Como diretor da empresa Sports Timing, acabou participando da organização dos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, e 1976, em Montreal. Um ano antes do segundo evento, manteve os primeiros contatos com a Fifa, ganhando rapidamente a confiança de Havelange.

O poderio de Blatter na entidade é algo que, dificilmente, qualquer dos candidatos a sucedê-lo terá. Há poucos dias, aliás, garantiu que não irá apoiar ninguém nesta eleições, apesar de ter sido procurado.

"Quatro dos cincos candidatos falaram comigo. Várias federações me chamaram para saber em quem deveriam votar. Disse a eles que o façam segundo a consciência", disse o suíço.

Tudo isso, é dito enquanto Blatter tenta provar inocência, no desfecho de uma trajetória muito diferente da que esperava ter, depois que superou a possibilidade de uma "saída abrupta", em 1998. EFE

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