Polêmicas e suspeitas: o caminho sinuoso até a Copa do Catar
Paris, 30 Mar 2022 (AFP) - A designação do Catar como país sede da Copa do Mundo de 2022 gerou uma onda de críticas, polêmicas, acusações e investigações, que colocaram a Fifa em saia justa em mais de uma ocasião.
As dúvidas sobre o processo de escolha, as altas temperaturas, as condições de trabalho nas obras ligadas ao evento, os direitos humanos: esta é uma revisão das principais controvérsias ligadas à organização do Mundial neste rico emirado do Golfo Pérsico.
. Críticas desde o 1º minutoSurpresa em 2 de dezembro de 2010: na quarta rodada de votação, o Catar é escolhido como organizador da Copa do Mundo de 2022, em detrimento dos Estados Unidos.
O pequeno tamanho do país, de 2,4 milhões de habitantes, a ausência de grandes estádios e sua pouca tradição esportiva, somados ao forte calor no verão, foram os pontos mais criticados.
. Um relatório polêmicoImprensa britânica (The Sunday Times, BBC) faz acusações de corrupção antes mesmo da votação.
A Câmara de Instrução do Comitê de Ética da Fifa, dirigida pelo ex-promotor americano Michael Garcia, inicia em agosto de 2012 uma investigação sobre o processo de atribuição da sede dos Mundiais de 2018 (Rússia) e de 2022.
Em novembro de 2014, após a entrega do relatório da investigação, Hans-Joachim Eckert, presidente da Câmara de Julgamento do Comitê de Ética, não reconhece nenhuma prova de corrupção, apenas "conduta duvidosa".
Descontente com essa apresentação "errônea e incompleta" do assunto, Michael Garcia apresentou sua renúncia.
. Investigações na Suíça e na FrançaUma denúncia foi apresentada no final de 2014 à justiça suíça, que investiga desde maio de 2015 esquemas de lavagem de dinheiro e gestão desleal.
Embora o Catar concentre as atenções, a Copa de 2018 na Rússia e a de 2010 na África do Sul também geraram suspeitas de corrupção. Em abril de 2020, a Suíça teve que encerrar um processo sobre a escolha da Alemanha como sede da Copa de 2006 porque seu prazo prescreveu.
De maneira paralela, a justiça francesa investiga por suspeita de "corrupção ativa e passiva" um encontro em 23 de novembro de 2010 de Nicolas Sarkozy, então presidente da França, com dois dirigentes do Catar e Michel Platini, então presidente da Uefa.
. Calor no calendárioCom temperaturas que chegam aos 50°C no verão do Catar, a organização da Copa do Mundo nos meses de junho e julho parece pouco conveniente.
Desde a escolha do país como sede, vozes importantes, como a de Michel Platini, pedem que o evento aconteça no outono ou no inverno local. Joseph Blatter, então presidente da Fifa, vai se alinhando progressivamente com essa ideia.
A questão da mudança de data provoca fortes tensões com as ligas europeias.
O Comitê Executivo da Fifa toma sua decisão em 2015: o Mundial do Catar será disputado entre 21 de novembro e 18 de dezembro.
. O escândalo dos trabalhadores migrantesEm setembro de 2013, o jornal britânico The Guardian publica um dossiê sobre as condições de trabalho nas obras no Catar para a organização da Copa, falando de uma "exploração" dos trabalhadores migrantes que poderia ser chamada de "escravidão Moderna".
A Fifa exige explicações do governo do Catar, que se compromete a abolir a kafala, o sistema de clientelismo local que faz com que os assalariados sejam completamente dependentes de seu empregador.
O governo local também introduz em 2020 um salário mínimo (US$ 1,30 a hora). O emirado ressaltou que realizou mais avanços na área que qualquer outro país na região.
Desde 2015, vários veículos de imprensa e ONGs também denunciaram um grande número de mortos nas obras realizadas no Catar.
A dois dias do sorteio dos Grupos da Copa do Mundo, que acontece nesta sexta-feira em Doha, o Sindicato Internacional dos Trabalhadores da Madeira e da Construção (IBB) pede um "Centro de Trabalhadores Migrantes" para que as reformas laborais no Catar sejam duradouras depois da realização do torneio.
. Manifestações no mundo do futebolVárias seleções (Noruega, Bélgica, Holanda, Alemanha) realizam gestos simbólicos durante seus jogos nas Eliminatórias.
Desde a questão dos direitos humanos em um país que contempla em sua legislação a pena de morte para homossexuais, passando pelo sistema de tutela para as mulheres: as críticas do futebol ocidental vão aumentando conforme a data do evento se aproxima.
Em março de 2021, o alemão Toni Kroos resume seu sentimento: "Considero que a atribuição do Catar como sede do Mundial não foi algo bom. A primeira razão é a condição dos trabalhadores. Depois, a homossexualidade é criminalizada e punida no Catar".
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