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Estádios, bares e chafarizes: Madri carrega marca da rivalidade Real-Atlético

26/05/2016 19h28

Madri, 26 Mai 2016 (AFP) - Dois estádios monumentais, duas praças com chafarizes. Mais do que nunca, às vésperas da final da Liga dos Campeões, Madri está dividida entre 'merengues' e 'colchoneros', que têm seus locais prediletos para acompanhar partidas e comemorar títulos.

Dois estádios, dois mundosO estádio Santiago Bernabeu simboliza o poder financeiro do Real Madrid, clube da elite, que ostenta dez títulos da Champions. Com capacidade para 81.000 torcedores, é o quarto maior da Europa. É localizado num bairro abastado, perto das torres do centro de negócios do norte da capital.

Com 1,2 milhões de visitantes em 2015, o museu do clube, dentro do estádio, é o terceiro mais visitado da cidade, atrás da Reina Sofia (2,6 mi) e do Prado (2,5 mi)

"Cada vez que vou ao estádio, tenho o mesmo prazer dos meus tempos de criança. Basta pensar em todos os grandes jogadores que passaram por aqui", se emociona Antonio Armero, de 52 anos, membro da 'peña' (associação de torcedores) "La Gran Familia".

"O Bernabéu é como o teatro. As pessoas aplaudem ou vaiam", alfineta Leo Rodríguez, de 50 anos, torcedor argentino do Atlético.

O estádio Vicente Calderon não tem nada a ver com isso. É situado no bairro modesto de Arganzuela, no sudoeste de Madri, cercado por imóveis populares de tijolos vermelhos, à beira do rio Manzanares.

Os torcedores 'colchoneros' garantem torcem com mais paixão que os rivais. "O Calderón parece muito mais com a Argentina. Cantamos, gritamos, vivemos", relata.

"Já fui ao Calderón e me dei conta do quanto são 'antimadridistas'. Eles estão torcendo mais por tropeços do Real do que por vitórias da própria equipe", rebate Antonio Armero.

O Atlético, porém, está fugindo cada vez mais dos clichês de 'primo pobre' do Real, tanto dentro quanto fora de campo.

Por mais que ainda tenha muito menos recursos que os 'merengues', deixou de lado uma longa freguesia e leva a melhor no confronto direto desde que o argentino Diego Simeone assumiu o comando.

O centro de treinamento fica num subúrbio abastado, em Majadahonda e o clube deve usar a partida da temporada 2017-2018 um novo estádio, La Peineta, projeto de estádio Olímpico abandonado depois da derrota de Madri para receber os Jogos de 2020.

"É uma pena. Se a gente tivesse sido consultado, não haveria mudança", lamenta Gerardo Aranda, de 75 anos, sócio do clube desde 1964, que chegou a até a torcer pelo 'Atleti' no Metropolitano, antigo estádio destruído em 1960.

De um chafariz para outroEm Madri, as 'Peñas' são responsáveis por organizar todos os eventos e os deslocamentos para os jogos fora de casa.

A "Gran Familia", que tem mais de mil membros, é uma das mais importantes do Real.

Desde o início desta temporada, eles costumam se reunir num bar sofisticado com imensos telões que mostram esporte o tempo todo, a poucas centenas de metros do Bernabéu.

"Antes, nos reuníamos em um pequeno bar espanhol típico, mas o dono se aposentou. Tínhamos a nossa própria sala no segundo andar, com camisas, retratos dos presidentes do clube", lembra Antonio Armero.

Na cidade, vários torcedores ostentam bandeiras dos clubes nas janelas. Embora seja mais numerosa, a torcida do Real é mais discreta e o escudo 'colchonero' é até mais visto que o símbolo 'merengue'.

Se o Real conquistar a 11ª 'Taça Orelhuda' no sábado, seus torcedores invadirão a praça de Cibeles e seu chafariz dedicado à deusa, símbolo da fertilidade e da natureza.

No passado, os 'colchoneros' também comemoravam as conquistas por lá, mas optaram pela praça de Neptuno, com outro chafariz em honra do deus romano do mar, 300 metros ao sul da praça de Cibeles, que consideram "manchada" pelos rivais.

Como o futebol é um assunto sensível na Espanha, o governo regional prefere não escolher seu lado, ao mostrar os escudos dos dois clubes na fachada, na praça central da Puerta del Sol.

No bairro boêmio de Chuecha, a igreja de San Anton faz o mesmo nos seus portões, para aqueles que pretendem acompanhar os gritos de "Aupa Atleti" ou "Hala Madrid" de um "Ave Maria".

Para quem não quer escolher entre os dois finalistas da Champions, ainda resta a opção de torcer por dois clubes do subúrbio, o Rayo Vallecano, orgulho do bairro operário de Vallecas, ou o Getafe, que acaba de ser rebaixado para a segundona.