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Falhas de segurança na final da Copa da França preocupam antes da Eurocopa

23/05/2016 16h20

Bobigny, França, 23 Mai 2016 (AFP) - Multidões aglomeradas nos portões, sinalizadores nas arquibancadas, apesar das revistas: as falhas de segurança no Stade de France, no sábado, durante a final da Copa da França, colocam o governo sob pressão a três semanas da Eurocopa.

A confusão gerou um grande desconforto no país, ainda mais quando se sabe que o estádio foi um dos alvos dos atentados de 13 de novembro, com três explosões nos arredores.

"As falhas constatadas" durante a partida entre Paris Saint-Germain e Olympique de Marselha, times de maior rivalidade na França, "serão logo corrigidas", prometeu nesta segunda-feira o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, depois de uma reunião de emergência com a Federação Francesa de Futebol (FFF) e com os organizadores da Eurocopa.

A FFF já abriu um expediente disciplinar contra os dois clubes, condenando "comportamentos inaceitáveis de torcedores, tanto dentro quanto fora do Stade de France".

Um clássico com 80.000 torcedores em uma rivalidade com histórico de violência: a final de sábado era o cenário ideal para testar o esquema de segurança do estádio que será palco de sete jogos da Eurocopa, inclusive a decisão e a partida de abertura, de 10 de junho a 10 de julho.

O resultado foi lamentável. Os sinalizadores provocaram princípios de incêndio nas arquibancadas, onde também foram encontradas garrafas de vidro e capacetes de moto.

Fora do estádio, cerca de 30 pessoas foram detidas e um responsável pela segurança do local, que pediu para não ser identificado, denunciou "o uso desmedido de gás lacrimogêneo" por parte da polícia.

As autoridades locais não quiseram se pronunciar no domingo, mas reconheceram "falhas" nesta segunda-feira.

"No contexto de tensão, o esquema não funcionou em diversos pontos, que serão resolvidos", admitiu o representante do Estado na região de Seine-Saint-Denis, Philippe Galli, em entrevista à Rádio Europe 1.

"Tivemos de lidar com uma aglomeração em massa em um dos portões de entrada", perto da saída do trem, relatou.

- 'Gargalos' -Também foram apontadas falhas nas revistas dos torcedores pelos seguranças do estádio, que "não foram feitas sistematicamente".

Houve relatos de que torcedores conseguiram passar objetos para os colegas, jogando-os por cima dos muros.

Bernard Cazeneuve se comprometeu com garantir "a fluidez da entrada de torcedores nos recintos esportivos", assim como com assegurar "a confiabilidade dos controles pelas empresas de segurança privada".

O ministro ressaltou, porém, que a final de sábado "não tinha valor de teste", alegando que o esquema de segurança da Eurocopa será bem mais importante.

"Caberá à Uefa, responsável pela segurança durante a competição, organizar um esquema adaptado", revelou uma fonte do Ministério do Interior.

Na verdade, uma especificidade da Eurocopa foi testada pela primeira vez: a entrada por apenas quatro portões, ao invés dos 24 habituais.

"Ao diminuir o número de entradas, criam-se gargalos, e teremos milhares de pessoas aglutinadas. Se tiver um homem-bomba perto de um desses quatro portões, imaginem o pânico", apontou Jean-Christophe Lagarde, deputado de Seine Saint-Denis e presidente do partido de oposição UDI (Centro), também entrevistado pela Europe 1.

"As falhas de segurança foram incontáveis, os especialistas ficaram espantados com o que aconteceu", criticou o ex-presidente da República Nicolas Sarkozy, do partido Les Républicains (direita), também de oposição.

Sarkozy questionou ainda as "Fan Zones", espaços onde torcedores sem ingressos se reúnem nas dez cidades-sede para assistir aos jogos em telões e a apresentações culturais, como aconteceu nos "Fan Fests" durante a Copa do Mundo no Brasil-2014.

"Será que a Polícia não terá coisas melhores para fazer do que vigiar esses espaços?", perguntou o ex-presidente.

"A não ser que haja ameaças específicas, as 'Fan Zones' serão mantidas", rebateu o primeiro-ministro francês, Manuel Valls.

"Precisamos viver normalmente. Senão, será uma vitória do medo e uma vitória dos terroristas", resumiu o premiê.

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