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Hackers transmitem música pornográfica em audiência virtual de Djokovic

Do UOL, em São Paulo

10/01/2022 14h34

Um grupo de hakers invadiu a audiência virtual do tenista Novak Djokovic nesta segunda-feira (10) e transmitiu músicas e conteúdo pornográfico, segundo a agência de notícias Reuters. A Justiça australiana decidiu que o tenista tem o direito de permanecer no país e, consequentemente, participar do Aberto da Austrália, depois que o governo local suspendeu o visto do atleta, que não se vacinou contra a covid-19.

Devido às restrições impostas pela pandemia, a audiência foi realizada virtualmente, com o link do Microsoft Teams, aplicativo de conversas virtuais, enviado pelo tribunal aos advogados de Djokovic e do governo australiano, além de jornalistas que acompanharam o processo.

Porém, segundo a Reuters, minutos antes do início da audiência, os jornalistas clicaram no link enviado por integrantes do tribunal e se depararam com imagens pornográficas e músicas, no lugar da transmissão ao vivo da audiência.

O endereço eletrônico, amplamente divulgado nas redes sociais nos dias anteriores, havia sido substituído por um novo, que o tribunal encaminhou para a mídia, mas alguns profissionais não souberam dessa mudança. Mas quando a audiência estava para começar, o novo link já não funcionava mais devido ao excesso de visitas.

Além disso, quando o novo acesso foi repassado, a audiência foi interrompida quando internauta, que não tinha relação com os envolvidos no processo, entrou na transmissão ao vivo, mas não foi silenciado.

"Estamos dentro", disse a pessoa, provocando uma reprimenda do juiz Anthony Kelly.

"Peço a quem está na tela que fique quieto. As únicas pessoas que deveriam estar com os microfones ligados são aquelas que estão fazendo apresentações para o tribunal", disse o juiz.

Após quatro horas de audiência, o tribunal postou um terceiro link —para seu próprio canal no YouTube— bem a tempo para uma pausa para o almoço. Depois de três horas de adiamentos, diz a agência, o link funcionou, a tempo da frase final: "Djokovic deve poder entrar no país livremente".

Vitória na Justiça

Após ser barrado na chegada à Austrália, Djokovic apelou à Justiça local e ganhou. A decisão foi proferida pelo juiz federal Anthony Kelly, que ouviu os advogados de ambas partes na audiência.

Em seu pronunciamento, o juiz Kelly ordenou, às 17h16 locais (3h16 de Brasília) de hoje, que Djokovic fosse liberado do confinamento em até 30 minutos e que seu passaporte fosse devolvido o mais rápido possível.

O caso, porém, ainda não está totalmente decidido, já que o ministro de Imigração, Cidadania, Serviços a Imigrantes e Relações Multiculturais ainda considera a possibilidade de exercer seu poder pessoal de cancelar o visto concedido a Djokovic. Se isso acontecer, o tenista sérvio pode ficar sem poder entrar na Austrália por três anos.

Os argumentos

Para chegar à decisão, o juiz Anthony Kelly levou em consideração principalmente o pouco tempo que Djokovic teve para dar explicações quando foi abordado pela polícia alfandegária australiana. O magistrado afirmou que cancelar o visto do número 1 do mundo não foi uma medida justa porque foi informado às 5h20 de quinta-feira que teria até 8h30 para dar explicações sobre a documentação que portava para entrar no país e por que acreditava que ela era suficiente. A Imigração, no entanto, voltou a questionar Djokovic às 6h14 e tomou a decisão de cancelar o visto do tenista às 7h42.

"O aplicante [Djokovic], portanto, não pôde dar suas explicações às 8h30", disse Kelly. O magistrado disse ainda que, se a Imigração tivesse esperado até as 8h30, Djokovic poderia ter consultado outras pessoas e apresentado outros papéis.

As questões sobre o teste positivo de covid que os advogados de Djokovic levantaram e a exigência de vacinação pelo governo federal não foram discutidos nas partes da audiência transmitidas pela internet. A decisão do juiz federal também não citou o imbróglio entre a Tennis Australia (TA, federação australiana de tênis) e o governo federal.

Entenda o caso

Apesar de o estado de Victoria —onde está situada Melbourne, a sede do Australian Open— determinar que só pessoas vacinadas poderiam entrar para jogar o torneio, Novak Djokovic pediu uma isenção para entrar no país sem se vacinar alegando que foi testou positivo para covid-19 no dia 16 de dezembro de 2021.

O tenista sérvio teve seu pedido atendido e viajou para Melbourne. Ao desembarcar, foi parado pela polícia alfandegária. Segundo os oficiais, o tenista não apresentou todos documentos necessários para justificar sua entrada no país. Por isso, depois de passar a noite separado de sua equipe em uma sala do aeroporto de Melbourne, Djokovic teve seu visto cancelado.

O número 1 do mundo, então, decidiu apelar da decisão e continuar na cidade. Ele foi levado às autoridades locais para um hotel, onde ficou confinado até esta segunda-feira e teve rejeitado um pedido de se mudar para uma residência em Melbourne.

Nos dias entre o cancelamento do visto (quarta-feira) e esta segunda-feira, várias informações diferentes foram reveladas pela imprensa australiana. Segundo a Tennis Australia, a isenção só foi concedida a Djokovic após análise de dois painéis de especialistas. O primeiro, formado pela própria federação australiana de tênis. O segundo, por especialistas escolhidos pelo governo do estado de Victoria.

Segundo a documentação exibida pela Tennis Australia, bastava provar contágio por covid nos últimos seis meses para que a isenção fosse obtida - e foi o que Djokovic fez. No entanto, o jornal The Age publicou uma carta enviada pelo Ministério da Saúde à TA informando que contrair covid não deveria isentar ninguém de vacinação. Esta, aparentemente, era a razão do imbróglio. A polícia alfandegária levou em conta as exigências do Ministério da Saúde —governo federal— para barrar Djokovic no aeroporto.