Chuva de recordes em Tóquio

Com ajuda de novos esportes, Brasil chega a 21 medalhas e sete ouros, sua melhor campanha nas Olimpíadas

Amanda Romanelli Colaboração para o UOL, em São Paulo Laurence Griffiths/Getty Images

O Brasil fechou os Jogos Olímpicos de Tóquio com sua melhor campanha em Olimpíadas. Foram 21 medalhas conquistadas, sete de ouro, seis de prata e oito de bronze, duas a mais do que o total há cinco anos, no Rio de Janeiro. O número de medalhas de ouro foi o mesmo da Rio-2016, após as duas derrotas em finais deste domingo (8). No vôlei feminino, os EUA venceram a seleção brasileira por 3 sets a 0. No boxe até 60kg feminino, Bia Ferreira perdeu para a irlandesa Anne Harrington por decisão unânime dos juízes.

Foi um anticlímax após o sábado (7), o melhor dia da história olímpica do Brasil. Com o ouro de Isaquias Queiroz na canoagem, o Brasil chegou ao seu 21º pódio no Japão. Além disso, Hebert Conceição, no boxe, e a seleção masculina de futebol venceram suas finais. Nunca o país tinha conquistado três títulos olímpicos no mesmo dia.

A inclusão de dois esportes radicais foi fundamental para o Brasil sair mais medalhado em Tóquio. Dos 21 pódios conquistados, quatro vieram de modalidades que fizeram sua estreia nos Jogos Olímpicos. O ouro de Italo Ferreira, no surfe, e as três medalhas de prata conquistadas no skate ajudaram o país a entrar em outro patamar nas Olimpíadas.

Laurence Griffiths/Getty Images
Reprodução/Instagram

Sete ouros

O hino nacional brasileiro foi ouvido pelo menos sete vezes no Japão. Foram quatro vezes à beira das águas japonesas, com Ítalo Ferreira (surfe), Ana Marcela Cunha (maratona aquática), Martine Grael e Kahena Kunze (vela) e Isaquias Queiroz (canoagem). Duas, dentro de ginásios. Rebeca Andrade recebeu a medalha dourada dentro da Arena Ariake, ao se tornar a primeira mulher campeã olímpica da ginástica artística do Brasil. E Hebert Conceição consagrou-se no ringue após um nocaute espetacular na Arena Kokugikan. E, por fim, no Estádio Internacional de Yokohama: o palco do penta, em 2002, também virou o palco do bi olímpico, com a vitória do futebol masculino diante da Espanha, por 2 a 1.

Aliás, não só Rebeca foi uma inédita campeã com a vitória no salto. Depois de uma decepcionante campanha no Rio, quando era considerada favorita, Ana Marcela debutou no quadro de medalhas em sua terceira Olimpíada, e logo com a dourada. E Isaquias Queiroz conseguiu realizar um sonho — e uma homenagem — ao técnico Jesus Morlán, que morreu em 2018: depois de três pódios no Rio, conquistou a medalha de ouro no C1 1.000m.

Com Ítalo Ferreira (foto), não havia outra maneira a não ser celebrar o total ineditismo. Afinal, o surfe entrou para o programa olímpico justamente em Tóquio. Já Martine Grael e Kahena Kunze conseguiram superar um longo ciclo olímpico de cinco anos e alcançaram a façanha do bicampeonato na categoria 49er FX.

Na Rio-2016, além de o Brasil ter feito sua melhor campanha geral até então, foi também quando o país somou o maior número de ouros em sua história. A marca foi igualada no Japão com sete ouros.

Reprodução/Instagram

Seis pratas com a marca do ineditismo

As seis medalhas de prata conquistadas pelo Brasil até agora, em Tóquio, têm uma marca especial: o ineditismo. Três delas vieram no skate, modalidade que estreou no programa olímpico no Japão e está garantida para as Olimpíadas de Paris, daqui a três anos.

O skate ganhou o coração dos brasileiros muito pela doçura e leveza de Rayssa Leal (foto). A Fadinha conquistou o vice-campeonato olímpico da modalidade street aos 13 anos, tornando-se a mais jovem medalhista do Brasil em Olimpíadas. Kelvin Hoefler e Pedro Barros, respectivamente no street e no park, também entraram para a galeria dos primeiros medalhistas do skate.

E foi com a medalha de prata que Rebeca Andrade iniciou sua memorável campanha nos Jogos Olímpicos do Japão. Na disputa do individual geral, prova que premia as atletas mais completas da ginástica artística, a brasileira contagiou o mundo com seu Baile de Favela para se tornar a primeira brasileira medalhista da modalidade. Mas ela foi além, como já contamos mais acima, e o ouro no salto foi mais uma conquista inédita. Pela primeira vez, uma brasileira ganhou duas medalhas em uma mesma edição de Olimpíadas.

Fechando as conquistas brasileiras, Bia Ferreira disputou a primeira final da história do boxe feminino. Não venceu, mas saiu orgulhosa com sua medalha de prata. No vôlei feminino, a prata não era a medalha que a seleção de Fê Garay e Natália queriam, afinal o Brasil é bicampeão olímpico, mas foi a primeira vez que o país terminou em segundo lugar no torneio olímpico.

Gaspar Nóbrega/COB

Oito medalhas de bronze, cheias de histórias

As medalhas de bronze do Brasil vieram acompanhadas de diferentes reações: da absoluta surpresa do tênis, com a dupla formada por Luisa Stefani e Laura Pigossi chegando a uma conquista inédita, à superação de Mayra Aguiar, saindo de uma delicada cirurgia antes das Olimpíadas para subir em seu terceiro pódio.

Esportes dos mais premiados da história olímpica brasileira, atletismo e natação deixaram Tóquio com dois bronzes. Nas pistas, Alison dos Santos (foto) conquistou o terceiro lugar em uma incrível disputa dos 400m com barreiras, em que o norueguês Karsten Warholm bateu o recorde mundial. Já o campeão olímpico Thiago Braz foi a imagem da resiliência: cinco anos após o ouro inesquecível no salto com vara no Rio, ele superou um ciclo ruim e chegou a um pódio surpreendente.

Na natação, o jovem Fernando Scheffer recolocou o Brasil na história dos 200m livre. Após a última conquista na prova, de Gustavo Borges em Atlanta-1996, o gaúcho de 23 anos garantiu sua medalha com um recorde sul-americano. Já o experiente Bruno Fratus enfim subiu ao pódio nos 50m livre, aos 32 anos, tornando-se o nadador mais velho a conquistar pela primeira vez uma medalha olímpica.

Se a experiente Mayra Aguiar brilhou no judô, também teve espaço para a renovação —e a superação. Daniel Cargnin, de 23 anos, passou pela covid-19, perdeu o Mundial e achou que a sequência de infortúnios condenaria sua participação olímpica. Estava enganado: não apenas foi a Tóquio, mas também defendeu o legado dos meio-leves brasileiros, antes premiado com Rogério Sampaio (ouro em Barcelona-1992) e Henrique Guimarães (bronze em Atlanta-1996).

Por fim, a medalha de bronze conquistada por Abner Teixeira significou mais do que a realização de um sonho esportivo. Ele não conseguiu ir à final da sua categoria porque perdeu para o cubano Julio de la Cruz, campeão olímpico e tetracampeão mundial, mas o resultado o aproximou de um grande objetivo: comprar uma casa para a mãe.

REUTERS/Mike Blake REUTERS/Mike Blake

Todos os medalhistas

  • DA GARAGEM À PRATA

    A história de Kelvin Hoefler e das mulheres decisivas para a primeira medalha do Brasil em Tóquio-2020.

    Imagem: TOBY MELVILLE/REUTERS
    Leia mais
  • O OLHAR DE DANIEL

    Bronze no judô, Cargnin mirou no ídolo, superou covid-19 e viveu saudade e dor para ser medalhista olímpico.

    Imagem: Gaspar Nóbrega/COB
    Leia mais
  • O QUE VOCÊ FAZIA AOS 13?

    Rayssa Leal dança na final olímpica, zoa repórteres e se torna a mais jovem medalhista brasileira da história.

    Imagem: Wander Roberto/COB/Wander Roberto/COB
    Leia mais
  • PELAS BEIRADAS

    Fernando Scheffer ganha bronze na natação após passar três meses sem ter uma piscina para nadar.

    Imagem: Satiro Sodré/SSPress/CBDA
    Leia mais
  • TEMPESTADE PERFEITA

    Italo Ferreira supera prancha quebrada, ganha 1º ouro do Brasil e consolida domínio brasileiro no surfe.

    Imagem: Jonne Roriz/COB
    Leia mais
  • TRÊS VEZES MAYRA

    Após 7 cirurgias e 9 meses sem treinar, Mayra leva bronze em Tóquio-2020 e confirma: é a maior da sua geração.

    Imagem: Chris Graythen/Getty Images
    Leia mais
  • BAILE DA REBECA

    Rebeca Andrade conquista o mundo com carisma e funk para ser prata no individual geral da ginástica.

    Imagem: Ricardo Bufolin/CBG
    Leia mais
  • PERMISSÃO PARA SER FELIZ

    Bruno Fratus viveu a angústia de quase ser medalhista por mais de dez anos. Até que hoje um bronze mudou tudo.

    Imagem: Jonne Roriz/COB
    Leia mais
  • AS ÚLTIMAS SÃO AS PRIMEIRAS

    Luisa Stefani e LauraPigossi entraram na última vaga da dupla feminina para ganhar a medalha do tênis brasileiro.

    Imagem: Reuters
    Leia mais
  • OUTRO PATAMAR

    Rebeca Andrade conquista ouro no salto e se torna a 1ª brasileira a se sagrar campeã olímpica na ginástica.

    Imagem: Laurence Griffiths/Getty Images
    Leia mais
  • XAVECO DO MOMENTO

    A história de Alison Piu dos Santos, bronze no atletismo, e do seu mantra: "o importante é xavecar o momento".

    Imagem: Patrick Smith/Getty Images
    Leia mais
  • BAILARINAS DE OURO

    Martine Grael e Kahena Kunze velejam como quem dança para serem bicampeãs olímpicas.

    Imagem: Jonne Roriz/COB
    Leia mais
  • DIAS DE LUTA

    Abner Teixeira não chegou na final, mas o bronze o aproxima de outro grande objetivo: dar uma casa à mãe.

    Imagem: Gaspar Nóbrega/COB
    Leia mais
  • O NOVO RAIO

    Thiago Braz repete a sua história, chega a uma Olimpíada sem favoritismo e sai de Tóquio-2020 com medalha.

    Imagem: Wagner Carmo/CBAt
    Leia mais
  • A MEDALHA QUE FALTAVA

    Ana Marcela foi a melhor do mundo durante os últimos dez anos. Agora, tem um ouro para comprovar isso.

    Imagem: Daniel Ramalho / COB
    Leia mais
  • PRATA, PAZ E AMOR

    Pedro Barros ganha prata em Tóquio, diz que medalha é souvenir e valoriza fraternidade entre skatistas.

    Imagem: REUTERS/Mike Blake
    Leia mais
  • QUANDO O CÉU SE ABRIU

    Isaquias sabia que não poderia repetir as 3 medalhas de 2016. Mas estava tudo programado para um ouro especial.

    Imagem: Miriam Jeske/COB
    Leia mais
  • ALMA LEVE, PUNHO PESADO

    Hebert Conceição ganha ouro no boxe com nocaute impressionante, exalta Nelson Mandela e luta contra o racismo.

    Imagem: Wander Roberto/COB/Wander Roberto/COB
    Leia mais
  • CANARINHO OLÍMPICO

    Ouro consolida o Brasil como maior potência olímpica do futebol e pode render frutos na Copa do Mundo.

    Imagem: Alexander Hassenstein/Getty Images
    Leia mais
  • CAIR E LEVANTAR

    Medalha de prata é testemunho de como vôlei feminino do Brasil conseguiu se reconstruir após derrota em 2016.

    Imagem: Gaspar Nóbrega/COB
    Leia mais
  • PUNHOS QUE ABREM PORTAS

    Bia Ferreira leva medalha de prata, chega mais longe que qualquer mulher no boxe e incentiva meninas a lutar.

    Imagem: UESLEI MARCELINO/REUTERS
    Leia mais
Topo