Topo

Gaúcho - 2022

Como um atacante deixou o São José-RS para valer quase R$ 100 mi na Croácia

Lucas Moura, do NK Istra, foi negociado pelo São José-RS, que hoje pega o Grêmio - Divulgação/NK Istra
Lucas Moura, do NK Istra, foi negociado pelo São José-RS, que hoje pega o Grêmio Imagem: Divulgação/NK Istra

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

02/02/2022 04h00

Lucas Moura não teve muito tempo para brilhar no Rio Grande do Sul. Com 19 anos, após boas passagens na base do São José e no principal disputando a Copa FGF (Federação Gaúcha de Futebol), ele teve os direitos comprados pelo Grupo Alavés. Antes de ir para Espanha, o destino foi a Croácia e a valorização veio rápida como uma arrancada ao gol.

Há pouco tempo, Lucas precisava do auxílio do pai para viajar de Osório, no litoral gaúcho, a Porto Alegre, pouco mais de 100 km, para treinar. E a trajetória pulou etapas que ocorrem naturalmente no mercado da bola. Ao invés de ir para um grande do Brasil e só depois atrair a Europa, o desejo veio cedo e logo virou transferência.

"Comecei bem cedo, desde os meus 11 anos e, se não fosse pelo meu pai e pela minha mãe me acompanhando nas viagens de Osório a Porto Alegre, acho que não teria dado certo. Nessa parte da negociação, eles entraram em contato com meu agente após verem algumas das minhas partidas na temporada. Meu agente conversou comigo sobre essa possibilidade e me agradou muito, pois era um sonho, não só meu como da minha família também", disse Lucas ao UOL Esporte.

A transferência se deu para o NK Istra, do mesmo grupo de clubes. A multa rescisória foi estabelecida em 15 milhões de euros (R$ 90 milhões na cotação atual). Lucas deixou o São José com quatro gols e quatro assistências em oito jogos do Gauchão sub-20 de 2021. Além de três jogos no principal.

"Confesso que a ficha ainda não caiu ao certo quanto a isso. É um valor que a gente vê nas manchetes das matérias e na televisão. Está caindo aos poucos, na verdade, pois tudo isso sempre foi o meu sonho e não imaginava realizá-lo tão cedo, aos 19 anos. Estou muito feliz com esse reconhecimento, pois também é fruto do meu trabalho e da minha família, que sempre esteve comigo", contou.

Gol de calcanhar

Tudo passou por um gol de calcanhar. Foi no empate em 1 a 1 contra o Novo Hamburgo, em novembro do ano passado, pelo Gauchão sub-20. Naquele jogo, observadores do Grupo Alavés decidiram finalizar o acordo pelo atacante, que já avaliavam desde os primeiros chutes. Lucas estava com negociação encaminhada para um dos 12 grandes do futebol brasileiro, mas a investida europeia mudou o destino.

Lucas Moura (d) em sua apresentação pelo NK Istra, da Croácia - Divulgação/NK Istra - Divulgação/NK Istra
Imagem: Divulgação/NK Istra

"Acho que pode ter dado uma valorizada, sim. Mas eu também vinha com um bom rendimento e regularidade nos outros jogos e acredito que isso tenha tido grande importância também. Quase todo jogo eu conseguia contribuir ao time com gols ou assistência. Fico muito feliz por esse acerto e seguirei dando meu máximo para aproveitar as oportunidades como fiz", disse.

Lucas embarcou para Croácia antes de disputar seu primeiro Campeonato Gaúcho, que seria o atual. Hoje o São José encara o Grêmio, na Arena, pela terceira rodada da competição.

"Graças a Deus, eu vinha fazendo boas partidas e aproveitando minhas oportunidades dentro de campo. Tive um bom desempenho na Copa do Brasil sub-20 e também no Gauchão. Com isso, consegui estrear e jogar no profissional e chamei a atenção de um dos olheiros deles que estava no Rio Grande do Sul", contou.

Desafio de ir ao mercado

Se para qualquer jovem antes dos 20 anos viajar sozinho já se torna complicado, mesmo dentro do país, imagine partir para outra cultura, outra língua, outra realidade. Isso torna até mesmo ir ao mercado um desafio. Mas Lucas está contente com a adaptação até o momento.

"Espero muitas conquistas, muitas coisas boas. Vem sendo bem legal conhecer a cultura que eles possuem por aqui e estou gostando bastante. A gente sempre passa por uns perrenguezinhos no início, e é natural né? [riso] Mas é natural. A linguagem é diferente e ir ao mercado torna-se um grande desafio [risos]. Mas estou me adaptando super bem com esse frio, e fui bem recebido pelos meus companheiros também. Então, estou me sentindo cada vez mais à vontade e feliz", contou.

Inspirado em Ronaldo Fenômeno e de olho no Brasil

"Tenho algumas caraterísticas, mas a minha principal é a de finalização. Sou atacante e vivo disso, né? [risos]. Sobre minhas inspirações, com certeza a maior delas é o Ronaldo Fenômeno. Sempre estudo vídeos dele. Gosto muito de ver as movimentações que ele fazia em campo e é algo que tento sempre aprender para aplicar no meu jogo", analisou.

E o futuro aponta permanência na Europa, quem sabe conhecer outros mercados, se firmar, atingir o sucesso e, talvez, um dia poder voltar ao Rio Grande do Sul para brilhar no Gauchão.

"Meus planos para o futuro são de conseguir desenvolver meu futebol nessa experiência que estou passando na Europa e no mercado internacional. Sempre almejei conquistar coisas grandes e agora não seria diferente. Quero representar bem, tanto o futebol brasileiro quanto o futebol gaúcho. Sou um dos poucos aqui e é uma grande responsabilidade", afirmou.

"Não posso negar que é uma possibilidade, sim. Jogar no país e no Estado que eu nasci é sempre bom. Formei minhas raízes no Rio Grande do Sul e, além do estilo brasileiro, também carrego o estilo gaúcho comigo. Mas o futuro a Deus pertence. Agora, estou focado nessa nova trajetória que terei no Istra e no Grupo Alavés", finalizou.

Neste domingo, o NK Istra terá pela frente o Dínamo Zagreb, pelo Campeonato Croata.