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Caio Henrique, do Monaco, defende Neymar e critica arbitragem da França

Eder Traskini

Do UOL, em Santos (SP)

21/02/2021 04h00

O lateral-esquerdo Caio Henrique, do Monaco, fez duras críticas à arbitragem do Campeonato Francês, a Ligue 1. O brasileiro defendeu o compatriota Neymar e disse que o craque da seleção brasileira sofre com entradas maldosas que são permitidas por quem comanda o apito.

Justamente por isso, Neymar não estará em campo na partida de hoje, às 17h, entre Monaco e PSG pelo torneio nacional. Caio Henrique é um dos destaques da campanha da equipe do principado, que não perde há dez jogos no torneio, sendo oito vitórias.

Em entrevista ao UOL Esporte, Caio falou sobre a boa fase e projetou o confronto com a principal equipe do país. Ele não esconde que a ausência de Neymar facilita as coisas para o Monaco, mas ficou do lado do compatriota em relação às críticas que o camisa 10 da seleção recebe.

"Os árbitros permitem um pouco mais de violência, algumas chegadas mais fortes que não são punidas. Isso às vezes machuca, às vezes causa lesões. E muitas vezes o Neymar sofre. Vemos entradas maldosas, em que os jogadores não visam a bola. E por se tratar de um jogador leve, um jogador do biotipo dele, ele claro que ele vai ter tendência a se lesionar. Então, muitas vezes, ele faz o que faz, não é nem para menosprezar o adversário, é porque é o estilo de jogo dele, a habilidade que ele tem. E os adversários acabam tomando pro outro lado e partindo para violência. Então, acho que os árbitros têm que estar um pouco mais atentos, que tem jogadas que é para cartão amarelo, cartão vermelho, e às vezes passa batido", disse Caio.

"Teve um jogo nosso, agora no clássico contra Nice, que eu sofri uma entrada, um chute na cara, o jogador tomou amarelo, e 10 minutos depois, o mesmo jogador fez uma falta por trás e o juiz nem amarelo deu. Seria o segundo amarelo e consequentemente a expulsão dele. Isso, é claro, gerou uma revolta na nossa equipe."

Caio Henrique pela seleção brasileira - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Na última vez em que se enfrentaram, o Monaco venceu o PSG por 3 a 2 com Caio e Neymar começando no banco de reservas. Agora, em boa fase na lateral esquerda, Caio Henrique sonha em pular da seleção brasileira olímpica para a equipe principal, comandada pelo técnico Tite.

"O professor Jardine já disse que quando nós estamos lá com eles, sempre tem gente da seleção principal olhando, assistindo aos jogos. Estou tranquilo, sei que enquanto eu estiver fazendo um bom trabalho no Monaco, estiver indo com a seleção olímpica e fazendo um bom trabalho lá também, uma hora eu vou ter minha oportunidade e, se eu tiver, tenho que agarrar. Acho que sempre estamos no radar", afirmou.

Confira a entrevista completa com o jogador de 23 anos revelado pelo Santos e que se destacou no Fluminense antes de se transferir para o Monaco (FRA).

UOL Esporte: Falar um pouco desse seu momento no Monaco: oito vitórias consecutivas. Momento muito bom do time no ano. Como está sendo conseguir tantas vitórias no campeonato que geralmente tem o PSG na frente com alguma vantagem e esse ano está um pouco diferente?

Caio Henrique: "Sim, acho que esse ano, como a própria imprensa daqui está colocando, acho que nos últimos anos é o campeonato mais disputado. Tem algumas equipes ali na parte de cima, brigando pela liderança e acho que pra gente foi muito importante essas últimas vitórias nossas. Iniciamos o ano de 2021 sem perder, estamos invictos. Claro que com os pés no chão, com bastante humildade, isso também faz a gente sonhar um pouco garante."

UOL: Desde que o PSG começou a ganhar tudo, o único clube que conseguiu destronar o PSG foi justamente o Monaco, hoje a seis pontos da liderança. Mas dá para falar em repetir isso, destronar o PSG e ser campeão novamente na França?

CH: "Acho que é um pouco cedo. Ainda faltam 14 jogos na liga. Assim como nós estamos invictos, as equipes que estão na parte de cima também vem pontuando. Nós temos sete vitórias, só que as equipes que estão na parte de cima têm cinco, quatro vitórias e dois empates. Então, também são equipes constantes. Então, é claro que vamos ter a oportunidade de jogar contra eles agora no segundo turno. Acho que temos que aproveitar os jogos diretos e também pontuar quando a gente joga em casa, contra as equipes que estão brigando pela parte de baixo da tabela, é pouco a pouco, passo a passo."

UOL: Vocês já conseguiram vencer o PSG neste ano. Sem ser este jogo, o próximo já é novamente contra o PSG. Como é a preparação para enfrentar um time qualificado como é o PSG? Alguma coisa diferente?

CH: "Claro que a gente sabe quando vamos jogar contra uma equipe da qualidade do PSG, nós temos que minimizar os erros, entrar bastante atento porque, com os jogadores que eles têm, se nós entrarmos 80%, 90% a chance de perder é muito grande. É claro que durante a semana, o nosso treinador, a comissão técnica, tenta passar o que a gente tem que fazer durante a partida, o que são os pontos fracos deles, os pontos fortes, e quando a gente entra lá, a gente tem que tentar dar o nosso máximo para tentar os três pontos."

UOL: Naquele jogo, o Neymar ficou no banco, o Marquinhos também. É diferente enfrentar o PSG sem o Neymar, porque novamente ele não vai jogar?

CH: "Difícil sempre é, né? Quando um jogador da qualidade do Neymar está em campo, as coisas se tornam muito mais difíceis do que já são. A gente como brasileiro fica triste pela lesão dele, mas, vendo por outro lado, a ausência dele também nos ajuda porque é um jogador de importância enorme para o Paris Saint-Germain. Então, creio que, claro, quando ele não está em campo, as coisas são um pouco mais fáceis."

UOL: Por que o Neymar apanha tanto? Não é só na França, mas desde que ele chegou na França ganhou um novo contorno depois da Copa do Mundo. Ele apanha, ele sai do jogo machucado, e o técnico ainda fala 'vou deixar para o Neymar chorar'... como é que a imprensa da França e vocês veem isso?

CH: "Cara, é pelo estilo de jogo dele, né? Mas eu assisto bastantes jogos. Quando estou na concentração, quando estou de folga, eu procuro assistir sempre os jogos da Liga Francesa, os jogos da Copa... Pelo que eu vejo, é muitas vezes os árbitros, eles permitem um pouco mais de violência, algumas chegadas mais fortes, que não são punidas. E isso às vezes machuca, às vezes causa lesões. E muitas vezes o Neymar sofre. Igual, dentro de campo a gente vê umas entradas maldosas, algumas entradas que os jogadores não visam a bola, e por se tratar de um jogador leve, um jogador do biotipo dele, claro que ele vai ter tendência a se lesionar. Então, muitas vezes, ele faz o que faz, não é nem para menosprezar o adversário, é porque é o estilo de jogo dele, a habilidade que ele tem. E os adversários acabam tomando pro outro lado e partindo para violência. Então, acho que os árbitros têm que estar um pouco mais atentos, que tem jogadas que é para cartão amarelo, cartão vermelho, e às vezes passa batido. Acho que é mais ou menos isso."

UOL: Isso só com Neymar ou na França como um todo, esta conduta da arbitragem?

CH: "Não, eu vejo é como um todo. Nos nossos jogos também. Teve um jogo nosso, agora no clássico contra Nice, que eu sofri uma entrada, um chute na cara, o jogador tomou amarelo, e 10 minutos depois, o mesmo jogador fez uma falta por trás e o juiz nem amarelo deu. Seria o segundo amarelo e consequentemente a expulsão dele. Isso, é claro, gerou uma revolta na nossa equipe porque era claramente uma falta para cartão amarelo... Então, é claro, um jogador a menos, o jogo se tornaria mais fácil para nossa equipe. Eu vejo que, num modo geral, são para todas as equipes, não só pro Paris."

UOL: E como é que a imprensa da França vê isso? Tanto essa questão que você está falando, da arbitragem, é uma questão? É discutido isso na imprensa? O Neymar é visto, na França, como um cara entre aspas chorão?

CH: "A questão da arbitragem sempre tem debates na imprensa, nos programas de televisão. Mas acho que isso já vem de antes e até agora poucas providências foram tomadas. Acho que isso tem a ver mais com a federação, em estar capacitando melhor, dando mais recursos para os árbitros para eles estarem acertando esses lances. E a questão do Neymar é geral, não é só aqui. Quando ele jogava na Espanha também tinha esse tipo de provocação, esse tipo de resposta. Ele sempre procura responder em campo. Acho que ele... a experiência que ele tem, os títulos que ele já ganhou, isso já se tornou normal. Acho que para ele pouco interessa, o que ele gosta mesmo é de estar em campo se divertindo."

UOL: Você acha que o PSG caiu de rendimento? A gente está vendo o PSG um pouco... não na ponta (da Ligue 1), o que já é diferente. Você acha que o time caiu de rendimento depois do vice da Champions League?

CH: "Eu não vejo queda de rendimento. Eu acho que eles demoraram um pouco para pegar no tranco. Acho que começaram um pouco mais devagar e agora estão recuperando pouco a pouco, mas a gente já vê eles lá, novamente, brigando pelo topo da tabela. A gente sabe que é muito difícil jogar contra essas equipes, eles não perdoam; Qualquer erro que nós cometemos contra eles, eles vão lá e marcam e é três pontos para eles. Com certeza todas as temporadas aqui, ultimamente, a gente sabe que eles vão brigar lá em cima. Então, temos que estar atentos quando jogarmos contra eles."

UOL: Caio, foi um susto quando adiaram a Olimpíada? De repente você "não vou poder participar da Olimpíada com a seleção brasileira"?

CH: "Ah, com certeza. Acho que todos nós que participamos do pré-Olímpico, que temos idade pros jogos, a gente ficou meio apreensivo, né? Quando eles disseram que seria adiado, claro que passa pela nossa cabeça que nós não poderíamos jogar. E agora foi mantida a idade. Nós tomamos um susto, sim, porque claro, a gente não sabia se manteria a idade e agora pelo que a gente vê, até agora se manteve, então a gente fica um pouco mais aliviado."

UOL: A seleção brasileira, na última Olimpíada, ganhou o tão sonhado ouro olímpico. Você acha que isso tira um pouco a pressão de vocês, porque era sempre muita pressão em cima do Brasil, ou ter participado das últimas duas finais em olimpíadas só aumenta a pressão de novamente ter que chegar a uma final?

CH: "Acho que vestir a camisa da seleção, seja na selação principal, na seleção olímpica, a pressão vai sempre existir. Mas acho que o fato de ter ganho a última olimpíada, ter tirado aquele fardo das costas de nunca ter ganho, acho que isso ajuda um pouco mais, tira um pouco mais da pressão. A pressão de vestir a camisa sempre vai existir, né? Mas o título em si já não tem mais aquela coisa de 'ah, nunca ganhou', sabe? Então, acho que é um pouco mais tranquilo pra gente."

UOL: E seleção principal, Caio, você já recebeu algum sinal da comissão do Tite, já foram te observar? Como está isso?

CH: "Não, pelo que a gente sabe, por exemplo, quando nós vamos para a seleção olímpica, já teve até alguns casos de jogadores olímpicos de irem nas últimas convocações da seleção principal. O professor Jardine já disse pra gente que quando nós estamos lá com eles sempre tem gente da seleção principal olhando, assistindo aos jogos. E quanto a isso eu estou tranquilo. Eu sei que enquanto eu estiver fazendo um bom trabalho no Monaco, estiver indo com a seleção olímpica e fazendo um bom trabalho lá também, uma hora eu vou ter minha oportunidade e, se eu tiver, eu tenho que agarrar."

UOL: A sua temporada é do nível, pelo menos dos caras que têm sido convocados, né? Estava até olhando os números hoje. O Alex Teles tem 14 jogos, ele tem ficado no banco mais na Premier League, tem jogado mais a Copa, o Renan Lodi tem 20 jogos e o Alex Sandro tem 15. Você tem 18. Dá pra bater de frente com esses caras e entrar de vez no radar da seleção principal?

CH: "Bom, como eu te disse, acho que no radar nós sempre estamos, principalmente nós que estamos jogando aqui na Europa, nessas quatro, cinco principais ligas. Acho que ultimamente, a liga francesa tem crescido bastante, pouco a pouco o nível está aumentando. Então, claro que no radar a gente sempre vai estar. E é como eu te disse, eu tenho que continuar trabalhando, continuar tentando fazer bons jogos, ajudando o Mônaco, que uma hora tem a oportunidade.