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OPINIÃO

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Estou de Rê Bordosa após a derrota. A seleção? Acho que nem tanto

Rê Bordosa, personagem do cartunista Angeli - Reprodução
Rê Bordosa, personagem do cartunista Angeli Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

03/12/2022 12h45

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Como avaliar uma derrota vexatória de uma "rebordosa" moral?

Eu não mudo nada do que falei na sexta-feira, após o jogo do Brasil, sobre a péssima escolha do Tite de ter escalado um time totalmente reserva contra a seleção de Camarões e nem em relação à presença de Daniel Alves no Qatar.

Aliás, fui contra a escalação de um time reserva desde quando se começou a cogitar essa escolha.

Meus parabéns, Daniel, por ser o jogador mais velho (39 anos) a vestir a camisa da seleção e a faixa de capitão em uma Copa do Mundo. Esse foi um dos motivos "importantíssimos" do Tite para trazer o seu "amigo lateral" para o Qatar.

Continuo achando que o Brasil teve um péssimo jogo contra Camarões. Mas agora também vejo que alguns jogadores que poderiam ter aproveitado a chance para virar titulares desperdiçaram essa possibilidade. Mais claramente, Bruno Guimarães e Antony.

O volante entrou bem no lugar do Fred (que voltou a jogar mal) contra a Suíça e, contra a equipe camaronesa, merecia sair como titular. Mas Tite defende com unhas e dentes os seus "cadeiras cativas".

Bruno entrou novamente contra Camarões, mas muito ansioso, atabalhoado, querendo mostrar muito. E aí acabou não mostrando nada e, pelo jeito, continuará atrás do Fred na fila desse meio-campo.

O Antony tinha tudo para dominar a posição, porque o Raphinha claramente está sentindo o peso da competição até agora. Ele começou bem no jogo de ontem, mas foi caindo durante a partida e a sua individualidade ofensiva acabou não sendo objetiva. Ficou na mesma que antes: atrás do Raphinha.

E a partida contra Camarões foi ainda pior do que o resultado, porque perdemos outro lateral-esquerdo.

Alex Telles também se machucou, ainda mais seriamente que o Alex Sandro (que está em recuperação de lesão muscular no quadril), e foi cortado da Copa. Agora o Tite vai ter que se virar para escalar essa defesa nas oitavas contra a Coreia do Sul.

Outro machucado e cortado foi o atacante Gabriel Jesus, que jogou mal todas as partidas, principalmente contra os camaroneses, quando entrou como titular. Um centroavante com oito jogos em Copas do Mundo sem fazer um gol, e nem sequer finalizar.

Soubemos hoje que ele já vinha com problemas no joelho nos últimos jogos do Arsenal... e a comissão técnica da seleção não avaliou isso? Ou, por ser um "cadeira cativa", a sua avaliação é diferente da dos outros?

Gabriel Barbosa está inteiro, terminou a temporada fazendo gol de título no Flamengo (como sempre fez), e nem sequer foi cogitado na Copa. Mas um "queridinho", mesmo machucado, veio para o Qatar.

Não concordo de forma alguma com quem diz que perdemos na hora certa, principalmente os jogadores da seleção. As entrevistas pós-jogo foram arrogantes, sem que ninguém demonstrasse tristeza ou constrangimento pela derrota para Camarões. Simplesmente todos se apoiaram no "perdemos quando poderíamos perder".

Eu respeito comentaristas que dizem isso, sendo eles ex-jogadores ou não. Mas penso diferente quando os próprios jogadores da seleção usam essa justificativa: aí é de um descaso absurdo.

Criou-se um barulho que não existia com essa derrota na primeira fase, mas continuo achando que o Brasil é uma das seis seleções favoritas à conquista do título, junto com França, Argentina, Portugal, Espanha e Inglaterra.

Claro, temos que pensar nas oitavas e nas quartas. Mas, pelo chaveamento, o Brasil tem tudo para chegar até semifinal. Só que não com toda aquela segurança e confiança que teríamos se tivéssemos vencido a seleção camaronesa.

Das favoritas, só duas não perderam na última rodada: a Inglaterra, que está invicta, e a Argentina, que foi derrotada pela Arábia Saudita na estreia. Portanto, essas duas seleções chegaram às oitavas sem a pressão da imprensa e da torcida que outras equipes, seus treinadores e jogadores estão sofrendo.

Quando comecei esse texto, lembrei de uma personagem fantástica do cartunista Angeli.

A Rê Bordosa tinha humor ácido, estava em crise existencial, com uma vida caótica. Ela surgiu em 1984, em referência ao dia seguinte de uma noite pesada.

É assim que estão os jornalistas e torcedores brasileiros neste sábado. Porque sofremos com a derrota. O mesmo não posso dizer sobre os jogadores. Afinal, para eles, apenas perdemos quando se podia perder.