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Williams é 1s3 mais lenta e amarga 'lanterna' em primeiro ano pós-Massa

Williams não pontuou nas duas primeiras etapas; desempenho ruim é raro no time, mesmo em fases pouco competitivas - Divulgação
Williams não pontuou nas duas primeiras etapas; desempenho ruim é raro no time, mesmo em fases pouco competitivas Imagem: Divulgação

Emanuel Colombari e Julianne Cerasoli

Do UOL, em São Paulo e Xangai (China)

12/04/2018 04h00

Entre 2014 e 2015, a Williams disputou 38 corridas na Fórmula 1. Somou pontos em 36 delas e foi ao pódio em 12. Você se lembra?

Pois esqueça. A Williams que começou a temporada 2018 da F-1 voltou a ser uma equipe de fim de grid, como vinha sendo no período em que correu com motores Cosworth e Renault entre 2010 e 2013. Passadas as duas primeiras corridas, é a única escuderia que ainda não pontuou. Para piorar, o melhor tempo do time na classificação do GP do Bahrein foi 1s3 pior na comparação com a mesma prova do ano passado - algo sintomático, uma vez que os carros estão mais rápidos em 2018, já que é a segunda temporada de um mesmo conjunto de regras.

Mas, afinal, o que aconteceu com a escuderia, que parecia ressurgir alguns anos atrás? Para entender, é preciso voltar um pouco mais no tempo.

Dona de resultados históricos entre as décadas de 1980 e 1990, a Williams perdeu força desde a saída da BMW, no fim de 2005, do posto de fornecedora de motores da equipe. Sem o apoio de uma grande montadora, já que todas da F-1 contavam então com suas próprias equipes, o time de Frank Williams precisou então se virar como uma equipe cliente.

Esta sempre foi a premissa do inglês, mas os tempos da F-1 mudaram: nos últimos 20 anos, apenas a zebra Brawn, em 2009, e depois a Red Bull conseguiram títulos mesmo não sendo equipes de fábrica ou com status semelhante. No caso da Red Bull, é de se destacar o orçamento, muito maior que o da Williams.

Williams de 2002 - Divulgação - Divulgação
Com os motores BMW, Williams viveu bons momentos na Fórmula 1 até o fim da temporada 2005; depois, patinou e só ameaçou ressurgir com o apoio da Mercedes a partir de 2014
Imagem: Divulgação

A queda após a saída da BMW foi quase repentina: desde 2006, o time conquistou apenas uma vitória, graças a Pastor Maldonado no Grande Prêmio da Espanha de 2012. O resultado, porém, foi relacionado ao uso dos pneus naquele final de semana, algo que o próprio time não soube explicar.

A grande revolução veio em 2014, com a chegada dos motores Mercedes para o time, que coincidiu com a mudança dos V8 aspirados para os V6 turbo, que deixou os alemães em grande vantagem. Foi também o primeiro ano de Felipe Massa e do apoio financeiro da Martini na equipe. O FW36 era o primeiro carro sob a direção técnica de Pat Symonds, ex-Renault.

O combo deu certo. Nos 19 Grandes Prêmios daquele ano, a Williams esteve no pódio em oito deles, inclusive colocando Felipe Massa e Valtteri Bottas entre os três primeiros em Abu Dhabi. Foi o melhor desempenho desde 2003, quando Juan Pablo Montoya e Ralf Schumacher levaram o carro empurrado pela BMW ao pódio em nove corridas (quatro vitórias).

O fôlego, porém, diminuiu. Depois de 320 pontos em 2014, a equipe somou 257 em 2015 (quatro pódios), 138 pontos em 2016 (um pódio) e 83 pontos em 2017 (um pódio). Em 2018, o time não pontuou nas duas primeiras corridas, o que não acontecia justamente desde 2013. Parece pouco, mas é apenas a terceira vez que a Williams termina as duas primeiras corridas do ano sem pontuar desde que começou a disputar temporadas completas com dois carros.

Motores, equipe e pilotos explicam defasagem

Há alguns fatores que, combinados, explicam a pouca competitividade do modelo FW41 utilizado pela Williams em 2018. Alguns deles que não mudaram muito desde a saída da BMW.

Boa parte do bom resultado da equipe em 2014 pode ser creditada aos fortes motores Mercedes, que levaram a equipe homônima ao título após o tetracampeonato da Red Bull. Naquele ano, o time austríaco ainda foi vice, mas com Williams em terceira, Ferrari em quarta, McLaren em quinta e Force India em sexta. Da lista, apenas Red Bull (com Renault) e Ferrari não corriam com os propulsores alemães.

Williams de 2014 - Divulgação/Williams - Divulgação/Williams
Cara nova: com novos motores, novos patrocinadores, novo projetista e a chegada de Felipe Massa, Williams voltou a brigar por pódios em 2014
Imagem: Divulgação/Williams

Diante da concorrência entre motores, Ferrari e Renault precisaram correr atrás nos anos seguintes. Desta forma, a Williams se viu alcançada por outros times. A solução seria evoluir na parte aerodinâmica. Porém, sem dinheiro e com um corpo de funcionários que pouco mudou desde os anos 1990, o time vem fazendo uma sequência de carros que deixam a desejar. E a evolução ao longo da temporada também é um problema.

É difícil imaginar que o time consiga virar o jogo antes de melhorar sua situação financeira. Enquanto o orçamento da Williams chegou a 186 milhões de libras em 2016, 55% que o de 2014 (120 milhões de libras), ainda assim foi incapaz de alcançar os das rivais. Naquele ano, o orçamento da Red Bull era de 468 milhões de libras, à frente de Mercedes (467,4 milhões de libras), McLaren (465 milhões de libras) e Ferrari (418 milhões de libras). Os números são do Business Book GP, uma publicação independente que analisa dados financeiros da categoria.

Com uma verba próxima às de rivais como Lotus, Toro Rosso, Force India e Sauber, a Williams pouco poderia errar no carro de 2016 – e pouco poderia gastar para corrigir erros aerodinâmicos ao longo do ano. Resultado: naquele ano, Massa e Bottas somaram 138 pontos e ficaram atrás de Mercedes, Red Bull, Ferrari e Force India.

Sem uma carta na manga, a solução poderia vir dos pilotos. Em 2018, a equipe apostou no canadense Lance Stroll (que chegou em 2017) e no russo Sergei Sirotkin (estreante e substituto de Felipe Massa). Ambos trouxeram um aporte dos patrocinadores pessoais que ultrapassa os 40 milhões de dólares.

No entanto, a inexperiência da dupla pesa. Sem a vantagem anterior dos motores e com pouco dinheiro para investir em melhorias aerodinâmicas, a equipe precisaria de um piloto com bom retorno técnico. Até 2017, esse posto era ocupado por Felipe Massa, mas sua saída deixou o time sem um profissional para a tarefa. Mesmo com limitações, Robert Kubica poderia ser este nome, mas as dificuldades encontradas para se adaptar aos pneus e patrocinadores menos "generosos" que os russos colocaram o polonês em segundo plano.

Stroll e Sirotkin - Divulgação - Divulgação
Em 2018, Williams tem Lance Stroll e Sergey Sirotkin como titulares; dupla trouxe patrocinadores, mas inexperiência pesa no desenvolvimento do carro para a temporada
Imagem: Divulgação

O resultado dessa bola de neve veio no GP do Bahrein, no qual Stroll foi 14º e Sirotkin foi 15º. Ambos foram eliminados ainda no Q1 do treino de classificação. E rendeu um desabafo de Paddy Lowe, diretor técnico da equipe, que esperar tirar um coelho da cartola para reagir rapidamente.

“Não tivemos ritmo para competir contra quaisquer outros carros. Claramente precisamos olhar profundamente o que afetou nosso ritmo, mesmo a respeito de onde estávamos em Melbourne duas semanas atrás. Vamos ver o que podemos fazer a curto prazo entre agora e a (corrida da) China na próxima semana. Este é um momento de ficarmos juntos como uma equipe e trabalharmos com inteligência frente aos problemas que temos”, disse, segundo o site da própria Williams.

A luz no fim do túnel pode ser o teto orçamentário de 150 milhões de dólares proposto pela Liberty Media para entrar em vigor em 2021. A própria chefe da Williams, Claire Williams, disse que a sobrevivência da equipe dependia de tal proposta sair do papel. Com o teto e uma distribuição mais justa do dinheiro vindo dos direitos comerciais, uma equipe pequena precisaria apenas de 30 milhões de dólares anuais de patrocínio - menos do que a atual dupla aporta à Williams nesta temporada. Vai acontecer?

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