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Brasileiro que teve sonho frustrado na F-1 não quer mais pagar para correr

Luiz Razia competiu na Indy Lights nesta temporada, mas tem futuro incerto para 2015 - Divulgação/Luiz Razia
Luiz Razia competiu na Indy Lights nesta temporada, mas tem futuro incerto para 2015 Imagem: Divulgação/Luiz Razia

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

08/11/2014 06h00


Em 2013, Luiz Razia sentiu por 23 dias o gostinho de ser piloto da Fórmula 1. Confirmado pela Marussia para correr toda a temporada do ano passado, o brasileiro acabou tendo seu objetivo frustrado. Sem conseguir viabilizar dinheiro para bancar o seu assento na equipe (cerca de US$ 8 milhões – R$ 20,6 milhões na cotação atual), acabou cedendo lugar ao francês Jules Bianchi. Foi um fim melancólico para um sonho que exigiu muito investimento financeiro ao longo de toda sua carreira nas categorias de base.

“Eram dois investidores, pessoas que tinham investimento em banco e já haviam me ajudado anteriormente. Assumiram contrato a ser pago, mas acabaram quebrando o acordo na segunda parcela. Sem pagar, as coisas não funcionam na Fórmula 1. Por erro de cálculo, foi uma coisa bastante complicada, mas já passou”, afirmou Razia em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Hoje, frustrado com aquela experiência, o baiano de 25 anos garante que nunca mais vai tirar dinheiro do seu bolso para correr. Se estiver no cockpit de um carro, afirma que estará sendo pago por aquilo. O piloto, atualmente, não conta com nenhum patrocinador. Tem apenas alguns parceiros que trabalham no sistema de permuta.

“Desde que saí da Fórmula 1 até hoje, eu não investi mais dinheiro para correr, graças a Deus. Estava muito pesado. Hoje em dia, quero tirar esta parte de trazer dinheiro e ganhar dinheiro. No automobilismo, dizemos  que para você correr tem de começar a carreira milionário. Todo pai de piloto tem uma renda grande que fica pequena. Estou indo atrás de outra forma”, afirmou o baiano, que em 2012 foi vice-campeão da GP2.

Após ser dispensado pela Marussia, Razia praticamente sumiu e passou por categorias de menor prestígio no automobilismo mundial. Em 2013, correu na International GT Open (carros de turismo) e neste ano participou do campeonato todo da Indy Lights (divisão de acesso na Fórmula Indy), no qual obteve uma vitória terminou na quinta colocação. Em ambas as experiências, garante não ter desembolsado nenhum centavo.

“A carreira de piloto é delicada quanto a investimento. Se não existe nenhum patrocinador, você fica ao vento. Depois da Fórmula 1, eu fui ver onde podia continuar em atividade. Em 2013, as pessoas podem considerar ter sido um passo atrás andar de GT, mas agora em 2014 voltei a andar de monoposto, sem levar patrocínio. Espero que o ano que vem seja um passo à frente. Meu medo é não conseguir fazer a minha vida como um piloto profissional, ganhar pelo que faço”, disse o piloto.

E o plano para seguir correndo em alto nível em 2015 passa pela Fórmula Indy. Razia diz estar em negociação com algumas equipes para correr todo o campeonato. Porém, se isso não for possível, espera pelo menos disputar a etapa brasileira, em Brasília, e as 500 Milhas de Indianápolis.

“Existe muito interesse para Indianápolis e Brasília até mesmo para os patrocinadores, pois a exposição é muito grande. Se não acontecer de fazer a temporada toda,
posso seguir na Lights. Mas algo garanto, se você me vir correndo, estarei recebendo por isso”, afirmou Razia.

“Foi fantástica a minha experiência na Indy Lights. Fui bem nas provas em autódromos mistos e em ovais. Nas corridas de rua, sofri, pois é um carro difícil de guiar. Mas foi um aprendizado incrível, morar nos Estados Unidos”, afirmou.

Boas recordações e contato com Jules Bianchi

Apesar de nunca ter disputado um Grande Prêmio de Fórmula 1, Razia fala com carinho da experiência que teve na principal categoria do automobilismo mundial. Antes de assinar seu contrato com a Marussia, fez testes pela Toro Rosso, Force India e Caterham.

“Andei com os quatro motores (Mercedes, Renault, Cosworth e Ferrari). Se quiser falar com engenheiro, dono de equipe, é só ligar. Tenho muitas memórias legais, tenho os macacões guardados. A Fórmula 1 é um ambiente de ponta, de primeiro mundo. Não tenho do que reclamar. Fiz o que tinha de ter feito.  Quando durmo, penso que muitos nem tiveram nem a chance de sentar em  um carro de Fórmula-1. Tenho  um currículo que muitos gostariam de ter. Não sofro mais com a perda que tive. Dou risada do passado”, afirmou.

Razia também relembrou as batalhas que travou com Jules Bianchi na GP 2 antes de perder a vaga para o francês na Fórmula 1 e lamentou bastante o acidente que mantém o ex-rival em coma por mais de um mês.

“É engraçado como o destino joga na vida. Poderia ter sido eu a sofrer o acidente. Éramos muito adversários na GP2, batíamos roda, mas quando ele me substituiu desejei toda a sorte a ele. Ele também merecia uma oportunidade. Quando aconteceu o acidente, todo mundo se sensibilizou”, disse.
 

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